O número de acidentes com escorpiões voltou a acender um alerta em diversas cidades brasileiras. Em Campinas, por exemplo, o cenário é o mais crítico dos últimos 19 anos. A cidade registrou 826 acidentes entre 1º de janeiro e 4 de novembro deste ano, média de 2,68 ocorrências por dia, segundo dados das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde.
Trata-se da maior média diária desde o início da série histórica, em 2007, superando o índice registrado em 2022. As autoridades estaduais alertam que a chegada do verão — período marcado por altas temperaturas e maior volume de chuvas — tende a elevar ainda mais o número de picadas.
A escalada reforça a necessidade de cuidados redobrados dentro das residências. Ralos, entulhos, metralhas, cantos de paredes e ambientes escuros e úmidos são locais onde os escorpiões se instalam com facilidade, especialmente por serem animais resistentes e de hábito noturno.
Segundo o médico-veterinário, Prof. Francis Flosi, diretor-geral da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas, a prevenção doméstica continua sendo o método mais eficiente de controle.
Ambientes limpos, organizados e sem acúmulo de materiais reduzem de forma significativa o risco de infestação. Muitas vezes não é necessário aplicar produtos químicos.
“A limpeza adequada do ambiente costuma ser suficiente para eliminar os escorpiões. Mesmo com desinsetização, se a casa não estiver higienizada, eles retornarão. É fundamental que a população mantenha seus espaços organizados”, afirma Flosi.

O especialista reforça que não existe um veneno ambiental eficaz para eliminar o animal. “A estrutura corporal dos escorpiões dificulta a ação de produtos químicos no ambiente. O efeito ocorre apenas no contato direto. Por isso, a higienização e a eliminação da cadeia alimentar são as estratégias mais eficientes”, explica.
Quando os animais são avistados com frequência, moradores podem solicitar vistoria gratuita pelo canal 156, realizada por técnicos do Programa de Saúde Ambiental.
Sintomas e riscos
As reações às picadas variam entre quadros benignos — com dor local moderada — até casos graves, que incluem sudorese intensa, alterações de pressão, vômitos, náuseas e risco de vida, especialmente em crianças e idosos.
A espécie mais comum em áreas urbanas é a Tityus stigmurus, mas a espécie de maior toxicidade no Brasil é a Tityus serrulatus, cuja picada exige atenção imediata.
O atendimento deve ser rápido, principalmente em crianças e idosos, com encaminhamento imediato ao hospital mais próximo. Em alguns casos, pode ser indicado o uso do Soro Anti-Aracnídeo Polivalente.
Flosi explica que, apesar de seguro, o soro exige aplicação profissional. “O soro antiescorpiônico é produzido a partir de anticorpos específicos que neutralizam o veneno do Tityus serrulatus. Ele é de uso hospitalar e só deve ser administrado por profissionais de saúde”, alerta.
As possíveis reações costumam ser leves e aparecer durante ou logo após a infusão, com coceira, vermelhidão ou desconforto respiratório. “Quando identificadas, a interrupção temporária da aplicação e o tratamento adequado controlam o quadro, permitindo que a soroterapia seja reiniciada com segurança até a dose recomendada”, completa o especialista.
Recomendações essenciais
♦ Não usar garrotes, torniquetes ou fazer incisões no local.
♦ Não aplicar amoníaco, produtos caseiros, substâncias irritantes ou contaminadas.
♦ Não ingerir bebidas alcoólicas ou substâncias tóxicas.
♦ Verificar roupas, toalhas e sapatos antes de usar.
♦ Vedar ralos, tanques e saídas de água.
♦ Usar luvas e calçados fechados ao manusear entulhos.
♦ Procurar atendimento médico imediatamente em caso de acidente.











