Ando um pouco preguiçoso para escrever. O Brasil está caidaço e isso leva a gente a perder o interesse pela palavra. Mas tenho voltado a ouvir música. Meu Deus, como tem gente boa no mundaréu, nos alegrando com a sua música.
O problema é o presidente Bolsonaro nos insultando com a sua ignorância político/cultural. E aí você junta tudo isso com o toma lá dá cá no Congresso Nacional e aí dá um desânimo de tirar a paciência do grande Jó.
Alckmin será o vice de Lula. E nenhum petista foi no diretório cancelar a sua filiação. É o poder custe o que custar.
E assim vou buscando um motivo para escrever alguma coisa, nem que seja uma palavra de baixo calão. E olho a tela do computador e lembro que por quase cinquenta anos ganhei a vida com as palavras. E agora tenho de escrever apenas pelo prazer do ofício – ou seria pelo vício?
Política não me interessa. Mesmo porque a pandemia nivelou todos os políticos da urbe por baixo. Jair Bolsonaro, é claro, comanda a tropa dos idiotas nacionais – e, talvez, esteja entre os dez piores estadistas do planeta. Jair era o nome de um menino da minha infância, truculento e covarde. Gostava de bater nos menores, de caçoar de nossas mães.
Uma tarde, perto da Hora do Angelus, o bonde quatro pegou ele em frente da padaria. Ele ficou estirado no meio-fio e nenhum menino rezou sequer uma Ave Maria. Fiz o que pude: bati palmas no portão da Dona Marinalva e falei do acontecido.
Ela arriou nas pernas e gritou por Deus. Um mês depois um caminhão levou tudo o que tinha dentro da sua casa. Mas não a lembrança do filho valentão que, no fundo, era a cara escarrada do seu pai beberrão. E o Taquaral seguiu o seu caminho. E todos os meninos se irmanaram em fubecas, peladas e rodas de pião.
Quando leio o nome do presidente Jair Bolsonaro lembro do valentão da minha infância. Não desejo nada de mal a quem quer que seja, e, muito menos, ao presidente do meu País, eleito democraticamente, é claro, embora ele critique o nosso sistema político. Mas não desejo que ele renuncie por conta de suas tolas razões. Que ele fique até o fim de seu mandato e que torne a tentar se reeleger. O estrago já está feito e Bolsonaro tem de enfrentar a sua própria incompetência de governar a vida de 200 milhões de brasileiros – sem contar os 14 milhões de desempregados.
É a vida como ela é – como já disse Nelson Rodrigues. Uns seguem e outros vão caindo pelo caminho. E ninguém olha para atrás.
Mesmo porque nada muda o olhar de alguém preocupado com quem ficou para trás. Bolsonaro vai ficar pelo caminho e terá um olhar de compaixão por algum historiador. E será apenas isso: um nome, uma foto e uma sinopse.
Olhei pela fresta de dois prédios e vi um maranhão passando. Tão rápido quanto um corisco. E fiquei mais calmo: ainda existe algum menino dentro de mim, pronto para desafiar o vento de uma tarde.
Zeza Amaral é jornalista, escritor e músico











