Técnico mais longevo da atualidade no futebol europeu de alto escalão, o argentino Diego Simeone completou 10 anos à frente do Atlético de Madrid neste último mês de dezembro, com uma coleção de troféus invejável, além de dono de outras campanhas memoráveis neste período. Atual campeão espanhol, desbancando Real Madrid e Barcelona, Simeone definitivamente transformou a história do segundo maior clube da capital espanhola desde que foi contratado, no dia 23 de dezembro de 2011.
Ao longo da última década, “El Cholo”, como é popularmente conhecido, ganhou duas ligas espanholas, em 2014 e 2021, venceu a Copa do Rei em 2013, faturou dois títulos da Liga Europa, em 2012 e 2018, além de outras duas taças da Supercopa da UEFA, em 2012 e 2018. Ele também foi duas vezes vice-campeão da Liga dos Campeões da Europa, em 2014 e 2016.
Com uma trajetória bastante vitoriosa à beira do campo, assim como nos tempos de jogador, quando também venceu um título espanhol e uma copa nacional com o Atlético de Madrid, além de outras conquistas por clubes e seleção, o ex-volante argentino de 51 anos passou a ganhar inúmeros admiradores ao redor do mundo, entre eles um jovem paulistano chamado Eduardo Alvarez, de 40 anos, que mora em Monte Mor, na região de Campinas.

Muito além de um simples fã do trabalho de Diego Simeone, Eduardo Alvarez é profissional de Educação Física e viajou para a Espanha em 2015, quando tinha 34 anos. Lá, ele pôde acompanhar de perto o trabalho do treinador argentino durante um estágio no Atlético de Madrid, momento que guarda com muito carinho na memória.
Mas antes de chegar a este ponto da história, é necessário voltar três anos no tempo para entender o começo desta jornada. Retornemos até o primeiro semestre de 2012, quando Eduardo Alvarez realizou estágios no São Paulo e no Guarani.
“Eu já tinha me formado em Comunicação Social (Publicidade), mas ainda estava cursando a faculdade de Educação Física, quando comecei a buscar alguns cursos na Universidade do Futebol. Conheci o Marcelo Lima, que era coordenador das categorias de base do São Paulo, e ele me ofereceu um estágio para acompanhar um pouco o trabalho do clube com os garotos, então fiquei durante quase um mês em Cotia”, conta Alvarez.
“Passei três meses no Guarani na época da campanha do vice-campeonato paulista de 2012, quando o time chegou à final contra o Santos. Eu conversei com o coordenador de futebol do clube e o Vadão aceitou que eu acompanhasse a equipe principal”, revela Eduardo Alvarez, xará de sobrenome do então treinador bugrino Oswaldo Alvarez, que faleceu no dia 25 de maio de 2020.

Avançando de volta para o ano de 2015, Eduardo Alvarez recebeu um convite irrecusável para trabalhar no futebol espanhol, mas ainda não tinha relação com o Atlético de Madrid. “Depois que me formei em Educação Física, comecei a enviar currículos para vários clubes. O Levante me ofereceu uma oportunidade para trabalhar nas categorias de base do clube, então eu fui para a Espanha e fiquei quatro meses lá”, explica Alvarez, que acompanhou os treinos dos jovens atletas do Levante em um centro de treinamento localizado na cidade de Buñol, na província de Valencia, mesmo local onde a equipe profissional do Levante também treina.
Eduardo Alvarez trabalhou no Levante entre agosto e novembro de 2015, período que coincidiu com o início da passagem pelo clube do atacante Deyverson, herói do tricampeonato da Libertadores do Palmeiras, marcando o gol do título na prorrogação da grande decisão contra o Flamengo, no último dia 27 de novembro, no Estádio Centenário, em Montevidéu.
“Enquanto eu estava trabalhando no Levante, realizei alguns cursos na Federação Espanhola e busquei contatos para poder acompanhar mais o futebol espanhol, que para mim tinha a melhor metodologia de treinamento”, aponta Eduardo Alvarez.
Em outubro de 2015, em meio ao trabalho nas categorias de base do Levante, Eduardo Alvarez arrumou um estágio de duas semanas com o técnico Diego Simeone no Atlético de Madrid. “Consegui por meio de uma moça que era secretária dos jogadores do clube. Ela conversou com o Simeone e eles agendaram para uma semana que não fosse tão complicada. Quando eu liguei, era semana de clássico contra o Real Madrid e os treinos estavam fechados, então tive que esperar passar esse jogo”, relembra Alvarez, em referência ao duelo disputado no dia 4 de outubro de 2015, que terminou empatado em 1 a 1, no antigo estádio Vicente Calderón, pelo Campeonato Espanhol.

Desta forma, o estágio de Eduardo Alvarez com Simeone no Atlético começou logo após a paralisação dos campeonatos europeus para a Data FIFA, período sazonal delimitado para partidas de seleções nacionais do mundo inteiro. “O pessoal do Atlético foi fantástico comigo. Eles foram muito receptivos e me deram ingressos para todos os jogos que aconteceram no período em que estive lá, tanto da Champions League quanto do Campeonato Espanhol. Também me presentearam com uma flâmula do clube”, destaca Alvarez, que mergulhou no universo do Atlético de Madrid entre os dias 19 e 31 de outubro.
“A estrutura é muito bacana, a intensidade dos treinamentos é absurda, a obediência tática está muito acima do Brasil e a parte física é no campo, sempre com a bola”, explica Alvarez.
Ao longo dos 13 dias em que estagiou com Diego Simeone, Eduardo Alvarez não só acompanhou os treinos da equipe, como também assistiu a duas partidas do Atlético de Madrid nas arquibancadas do Vicente Calderón: vitórias por 4 a 0 sobre o Astana, do Cazaquistão, pela Liga dos Campeões, e por 2 a 1 sobre o Valencia, pela Liga das Estrelas.
“Foi muito bacana porque eu acompanhava os treinos e depois via aquilo sendo aplicado nos jogos. Isso foi um aprendizado e um ganho de experiência muito grandes para mim. É diferente de quando você só vê o jogo sem assistir ao treino ou só assiste ao treino sem ver o jogo”, descreve.

“Griezmann, Godín, Giménez, Fernando Torres…. O clima entre os jogadores era ótimo e eles pareciam se dar muito bem. Todos muito empenhados e focados, com bastante entrega. Eles treinavam como jogavam. Essa seriedade era muito bacana. Acho que por isso tiveram tanto sucesso vários anos seguidos”, constata Eduardo Alvarez.
Alvarez revela algumas características de Diego Simeone na preparação da equipe durante a semana. “O posicionamento tático é a parte que o Simeone mais participa. Ele utiliza aqueles bonecos no campo, algo que acharam estranho quando o [Juan Carlos] Osorio fez no São Paulo”, conta. Na comparação com o futebol brasileiro, Eduardo é enfático: “No Brasil, ainda temos muita deficiência na metodologia de treinamento”.
“Aqui no Brasil, temos muito mais talento surgindo do que lá na Europa, mas eles compensam com trabalho coletivo e tático”, avalia Eduardo Alvarez.

No tempo livre da equipe profissional, Eduardo Alvarez também pôde testemunhar o funcionamento das categorias inferiores do Atlético de Madrid, mas não teve a oportunidade de conhecer o coordenador técnico da base do clube colchonero, o ex-zagueiro brasileiro Luís Pereira, tricampeão brasileiro com o Palmeiras e campeão espanhol com o Atlético de Madrid, nos anos 70. “Justamente naquela época ele estava no Brasil, então não tive o prazer de conhecê-lo. Só consegui falar com outros treinadores”, diz Alvarez.
“Lá no Atlético, assim como no Levante, existe o treinamento integrado, que é a filosofia de trabalhar o mesmo padrão de jogo desde a base. Assim, quando o jogador sobe para o profissional, ele não sente a mudança e já sabe o que tem que fazer, por isso encaixa no estilo da equipe”, explica Eduardo Alvarez.
Curiosamente, Eduardo Alvarez não estava sozinho vivendo e aprendendo um pouco sobre o cotidiano do Atlético de Madrid no centro de treinamento de Majadahonda, cidade da Grande Madrid situada a 16 quilômetros a noroeste da capital espanhola. Certo dia, ele teve um encontro inusitado com o técnico uruguaio Diego Aguirre. E quem foi puxar papo foi o próprio treinador.

“Eu não reconheci o Aguirre logo de cara. Sou filho de uruguaios e estava com a camisa celeste da seleção do Uruguai naquele dia, então ele prestou atenção, veio falar comigo e sentou do meu lado. Conversamos sobre treinamentos e o que estava acontecendo no futebol brasileiro naquele momento. Ele já tinha passado pelo Internacional, mas ainda não tinha ido para o Atlético-MG. Foi muito bacana poder trocar experiência com o Aguirre também”, ressalta Alvarez.
Ao retornar ao Brasil, Eduardo Alvarez atuou como treinador de categorias de base e professor de escolinhas de futebol na região de Campinas, mas atualmente está afastado do esporte e trabalha como designer gráfico.











