Campinas conseguiu se destacar em um indicador importante de saúde mental: o número de suicídios registrados anualmente. Ao contrário do que aconteceu no País, que viu o número de suicídios aumentar em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, o Município registrou queda significativa nessa causa de morte.
Em 2020, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, o Brasil registrou 12.895 mortes causadas por suicídio, o que representa 35 suicídios por dia, naquele ano. Em 2019, o número de suicídios apurados foi de 12.745.
Já em Campinas, em 2019, ano pré-pandêmico, foram registradas 88 mortes por suicídio. Em 2020, o número caiu para 59, o que representa uma redução de 32,95%.
Os dados apenas do primeiro semestre de 2021 mostram que, nesse período do ano passado, foram contabilizadas 33 mortes dessa natureza no Município.
Campinas também registrou queda nos registros de tentativa de suicídio. Em 2019, foram 276, e em 2020, o número baixou para 239. Uma redução de 13,40%. De janeiro a junho de 2021, foram contabilizadas 98 tentativas de suicídio na cidade.

Triste realidade
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), além dos quase 13 mil suicídios anuais no Brasil, são registrados mais de 1 milhão em todo o mundo. “Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias”, informa a entidade.
Todos os anos, a Administração municipal de Campinas promove o Mês de Conscientização sobre o suicídio, o Setembro Amarelo, com diversas atividades para tratar o tema de uma forma clara e abrangente, visando a diminuição da mortalidade por suicídio. São feitas palestras, caminhadas, oficinas e rodas de conversa, realizadas em conjunto por entidades como a Câmara Municipal de Campinas, Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas (GEP), a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC).
Segundo a Administração, em Campinas, há uma rede vasta de serviços, municipais e conveniados ao Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, que podem acolher a pessoa em sofrimento e que pode ser acessada tanto pela própria pessoa quanto por um familiar ou amigo que queira ajudá-la.
Entre esses serviços estão os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as equipes de saúde mental na rede básica de saúde. Um em cada dez brasileiros com mais de 18 anos já recebeu diagnóstico de depressão, segundo o Plano Nacional de Saúde divulgado em 2020.
A psiquiatra Alexandrina Meleiro, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio (Abeps) e integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), alerta para a necessidade de buscar apoio e, se necessário, tratamento, antes que fique crônico.
“A depressão não surge de um dia para o outro. Ela vem sorrateiramente e vai minando as forças, a energia… vai causando alguma perturbação no sono, alteração no apetite, na disposição física, mudando a cognição e isso vai se acentuando de modo que eu vou começando a ter pensamentos muito pessimistas. A minha autoestima vai lá para baixo, eu fico desesperançada, sem perspectiva de vida, sem ver saída”, explica em publicação o Centro de Valorização da Vida (CVV).
De acordo com ela, as mudanças de humor são naturais. Em alguns dias se está bem, e em outros não. Já a depressão atinge todas as áreas da vida da pessoa, ressalta.
Com o avanço da doença, a pessoa deixa de desenvolver coisas que antes eram corriqueiras e, com isso, começam a chegar pensamentos mais pessimistas, a estima cai, e costuma ocorrer a falta de perspectiva de vida. Em geral, já não se consegue vislumbrar o futuro.
“Os pensamentos ficam remoendo na nossa cabeça. O termo é ruminação porque eles ficam sendo triturados. E aí se nós não tomarmos conta, isso pode evoluir para pensamentos de morte, pensamentos de não querer estar vivo, de ideação suicida”, alerta.
Ela ressalta que o tabu amplia o isolamento e que o medo de julgamento é muito comum. “Conversar de peito aberto, dividir tudo o que está sufocando, ajuda, inclusive, a compreender o que está acontecendo. Se você quiser conversar, falar um pouco sobre como você está se sentindo, conte com o CVV. Os voluntários estão disponíveis pelo telefone 188 nas 24 horas do dia”, finaliza.











