Perto de quatro mil pessoas e cerca de 300 casais participaram neste domingo (12), Dia dos Namorados, do casamento coletivo, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O evento contou com música, tapete vermelho, decoração, fotos e convidados. As noivas receberam uma lembrança confeccionada pelas alunas do curso Costureiro do programa Escolas de Qualificação Profissional do Fundo Social.
Há um ano, a cobradora de ônibus Cláudia Damascena Santos, 46 anos, estava internada em um hospital à espera de um transplante de fígado. Ao lado dela, dando apoio e carinho estava o companheiro, agora noivo, José Antonio de Souza Caetano, motorista de 60 anos. Neste domingo (12), Dia dos Namorados, Claudia e José vão se uniram no casamento coletivo no Ginásio Ibirapuera, realizado por meio do Centro de Integração da Cidadania (CIC).
Vou festejar a vida, porque nessa época, no ano passado, quase morri, tive de fazer um transplante de fígado e o José Antonio nunca me abandonou e cuidou de mim o tempo todo”, conta a noiva, ansiosa com o grande dia.
Comprovando a “tradição”, Cláudia é a próxima da família a se casar depois de ter pegado o buquê da nora, no casamento de seu filho. Claudia e José Antonio se conheceram há seis anos, no trabalho. Foram dois de namoro e quatro morando juntos. “Meus filhos aceitaram bem o casamento. Gostam dele e viram como me tratou em quatro anos de doença”.

Muitos dos casais presentes já viviam juntos e tinham o sonho do casamento no civil, mas não conseguiam arcar com as despesas. Só de cartório, por exemplo, dependendo da cidade, entre proclamas e registros, os custos ficam entre R$ 500,00 e mais de R$ 1 mil.
De 2004 a 2021, o CIC (Centro de Integração da Cidadania), vinculado à SJC, realizou 62 casamentos comunitários, unindo um total de 5,9 mil casais. Com a pandemia da Covid-19, a tradição foi interrompida em 2020, mas foi retomada no fim do ano passado, respeitando todos os cuidados sanitários, inclusive a exigência de comprovação da vacinação. Em 2021, houve 60 casamentos organizados apenas pelo CIC Norte no Centro de Tradições Nordestinas.
Agora é para valer
Há 22 anos, uma história de amor à primeira vista uniu Madalena Fernandes Santana, 46 anos, que chegava em São Paulo vinda da Bahia, e Wagner Petrônio de Santana, 49 anos.
“Foi paixão à primeira vista quando nos vimos na rua em que moramos”, conta Madalena, que já tinha duas filhas de uma união anterior e que ficaram com a avó em Itajaí (BA).
Depois de ficarem juntos por dois e meio, cada um seguiu seu caminho com novos companheiros. Até que se reencontraram e o amor surgiu novamente.
“Ficamos juntos por dois anos e meio e nos separamos. Após nove anos reatamos e já estamos morando juntos há seis anos e agora decidimos nos casar para valer e agora é para sempre, até que Deus nos separe”, diz Madalena, que trabalha como porteira.
Juntos, decidiram que “casar de verdade” seria o passo seguinte. Com o orçamento apertado e os custos do casamento, o sonho foi sendo adiado até que Madalena leu sobre o casamento comunitário gratuito. “Fiz minha inscrição na hora. Logo depois recebi e-mail do CIC e corri atrás da documentação e deu tudo certo. Vai ser um privilégio nosso amor ser celebrado de forma tão linda”.
Madalena, ao lado de Wagner, entou com os netos de 9 e 5 anos. As filhas também estarão presentes na cerimônia. “O coração está a mil por hora, vai chegando próximo, a ansiedade só vai aumentando, estou sonhando acordada. Espero que seja tudo muito lindo!”.
A casa das cinco mulheres
Daniela e Juliana Camilo Flausino oficializaram a união homoafetiva por meio do casamento civil. As duas moram juntas há um ano e, com elas, as filhas que ambas tiveram em outros relacionamentos. “A formação dessa grande família, para mim, está sendo maravilhoso, como digo é a casa das cinco mulheres”, conta Juliana, 26 anos, profissional de telemarketing, já ansiosa com o grande dia.
O registro civil do casamento abre caminho para outro sonho: “registrar as duas filhas da Juliana em meu nome”, torce Daniela. Hoje, no registro de nascimento das meninas, de 9 e 5 anos, não consta o nome do pai.
Juliana e Daniela se conheceram num grupo LGBT do Facebook. As conversas pela rede social duraram um mês. “Um dia, ela me pediu em namoro por carta”, conta Juliana. “Ela escreveu, tirou a foto e mandou no WhatsApp”.
A intenção de oficializar a união no cartório sempre esteve presente, mas o custo foi adiando o casório. “Até que li sobre o casamento comunitário na internet e já me inscrevi. Mandei uma mensagem depois, ela estranhou, mas topou logo”, contou Juliana.
“Ela fez a inscrição e disse: arruma os padrinhos que nós vamos casar”, contou Daniela. E finalizou: “Meu coração bate a mil só de imaginar esse dia tão esperado por mim e pela Juliana, eu sou a pessoa mais feliz desse mundo”.