Ainda faltam alguns meses, mas já é possível sentir o clima de Copa do Mundo no ar. Sediada pela primeira vez no Oriente Médio, em decisão anunciada em 2010, a 22ª edição do maior torneio de futebol do planeta começará daqui a exatamente 99 dias no Catar, contando a partir deste sábado (13).
Reunindo 32 seleções pela sétima e última vez, já que a partir de 2026 serão 48 participantes – um aumento de 50% no número de classificados –, a Copa de 2022 será disputada de forma inédita nos últimos meses do ano, e não na metade do calendário, como tradicionalmente acontece, em função de questões climáticas. Já são mais de 2,4 milhões de ingressos vendidos. A última fase de vendas se encerra na próxima terça-feira (16).
O jogo de abertura da Copa do Mundo de 2022, daqui a exatamente 99 dias, reunirá o anfitrião Catar e o Equador, no dia 20 de novembro, às 13h (de Brasília), pelo Grupo A. O Brasil estreia somente no dia 24 (quinta-feira), às 16h (de Brasília), diante da Sérvia, pelo Grupo G. A partida será disputada no Estádio Nacional de Lusail, mesmo palco da grande decisão, marcada para o dia 18 de dezembro (domingo), às 12h (de Brasília).
O pontapé inicial da Copa do Mundo estava originalmente previsto para acontecer no dia 21 de novembro, uma segunda-feira, algo que só havia acontecido uma vez na história, na Copa de 1966, na Inglaterra. Porém, na última quinta-feira (11), a Fifa anunciou a antecipação para o dia 20, um domingo, a fim de manter a tradição do país-sede envolvido no jogo de abertura.
Para ajudar a controlar a ansiedade (ou aumentar ainda mais), o tradicional álbum de figurinhas da Copa do Mundo, produzido pela Panini, chega às bancas e lojas na semana que vem. O lançamento está previsto para a próxima sexta-feira (19), quando começam as vendas físicas em todo o Brasil, mas a pré-comercialização já está disponível no site oficial da editora.

Prepare o bolso, pois cada pacotinho com cinco cromos custará R$ 4,00, o dobro do preço cobrado em 2018 e, pasmem, oito vezes mais em relação a 20 anos atrás. O livro ilustrado oficial será vendido por R$ 12, em sua versão tradicional, e R$ 44,90, a edição com capa dura. Serão 670 figurinhas, sendo 50 especiais e 80 raras.
Como a grande decisão da Copa do Mundo acontecerá no dia 18 de dezembro, a exatamente uma semana do Natal, também já é hora de começar a preparar os adereços natalinos em verde e amarelo.
Campeão mundial em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, o Brasil buscará quebrar um jejum de 20 anos e conquistar o hexacampeonato, isolando-se ainda mais como maior vencedor da competição.
Liderada dentro de campo há uma década pelo craque Neymar, a Seleção Brasileira é comandada há seis anos pelo técnico Tite, que possui história no futebol campineiro em seus tempos de jogador. Ex-zagueiro, ele defendeu o Guarani no fim dos anos 80, entre 1986 e 1989.
Os primeiros campineiros da Seleção
Formada pela primeira vez em 1914, a Seleção Brasileira de Futebol não demorou muito tempo a ter jogadores campineiros convocados. Os pioneiros foram os irmãos Orlando e Sérgio Pereira, esse último presente na primeira conquista da história do escrete nacional, em 1919.
“O primeiro campineiro a jogar pela Seleção foi o zagueiro Orlando Pereira, que jogou no 1º Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), em 1916, realizado na Argentina e conquistado pelo Uruguai. O irmão dele, Sérgio Pereira, disputou o Sul-Americano de 1919, realizado no Rio de Janeiro e vencido pelo Brasil. Ambos eram jogadores do Club Athletico Paulistano”, conta o historiador campineiro Fernando Pereira da Silva.

Já a relação do futebol campineiro com a Copa do Mundo remonta aos anos 1950, quando a competição voltava a ser realizada após 12 anos de interrupção devido à Segunda Guerra Mundial, que durou entre 1939 e 1945.
Como o continente europeu estava devastado pelos efeitos do conflito bélico, a Copa do Mundo retornou à América do Sul após 20 anos. Em 1930, o Uruguai sediou e venceu a primeira edição do torneio, batendo a Argentina por 4 a 2.
Em 1950, coube ao Brasil a tarefa de organizar a sua primeira Copa do Mundo e o desfecho seria o mesmo de 1930, ou seja, título uruguaio com vitória sobre um rival sul-americano na decisão, desta vez por 2 a 1 de virada sobre a anfitriã Seleção Brasileira, no fatídico jogo que ficou conhecido como “Maracanaço”, diante de cerca de 200 mil torcedores, maior público da história dos Mundiais, no então recém-inaugurado estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Quem mais carregou o peso deste doloroso trauma foi o goleiro brasileiro Barbosa, primeiro jogador campineiro a disputar uma Copa do Mundo, que jogava no Vasco e acabou “condenado” pelo resto da vida pela suposta falha no lance do gol do título uruguaio, marcado pelo atacante Ghiggia, faltando apenas 10 minutos para o fim da partida.

Nascido em Campinas, no dia 27 de março de 1921, Moacyr Barbosa teria completado 101 anos em 2022, se ainda estivesse vivo. Ele morreu em 7 de abril de 2000, em Praia Grande.
Um ano antes da trágica derrota na Copa de 50, Barbosa havia se sagrado campeão sul-americano pela Seleção Brasileira em 1949, ao lado do atacante Nininho, também campineiro, que defendeu apenas dois clubes na carreira profissional: Ponte Preta e Portuguesa.

Em seus tempos finais de Lusa, nos anos 1950, Nininho jogou ao lado de dois conterrâneos: Atis Monteiro, formado na Ponte Preta, e Brandãozinho, segundo jogador campineiro a disputar uma Copa do Mundo. Ele foi convocado pelo técnico Zezé Moreira para o Mundial de 1954, na Suíça.
Na Copa de 54, a última antes da conquista do bicampeonato brasileiro em 1958 e 1962, a Seleção amargou eliminação nas quartas de final, com derrota por 4 a 2 para a Hungria, que depois perderia a grande decisão para a Alemanha, por 3 a 2 de virada, em jogo que ficou conhecido como o “Milagre de Berna”. Algoz do Brasil, a Hungria teve o melhor jogador daquela edição, o lendário atacante Ferenc Puskás.

O bugrino Amaral na retaguarda da Seleção, em meio a uma legião de pontepretanos
Mais de duas décadas se passaram até outro campineiro voltar a disputar uma edição de Copa do Mundo. Revelado pelo Guarani, clube que defendeu entre 1971 e 1977, o zagueiro Amaral formou a dupla de zaga titular do Brasil ao lado do pontepretano Oscar Bernardi, na Copa de 1978, na Argentina. Na ocasião, comandada pelo técnico Cláudio Coutinho, a equipe canarinho terminou a competição em 3º lugar.

O goleiro Carlos e o zagueiro Polozzi também representaram a Macaca naquele Mundial, mas ficaram na reserva. Ainda como jogador da Ponte, Carlos voltaria a disputar a Copa de 1982, na Espanha, ao lado do zagueiro Juninho Fonseca, seu companheiro de time. Carlos se transferiu para o Corinthians em 1984 e atuou como titular no Mundial de 1986, no México. O elenco também contava com o zagueiro bugrino Júlio César.
Portanto, Carlos, em 1978 e 1982, Oscar e Polozzi, em 1978, Juninho Fonseca, em 1982, e Júlio César, em 1986, são os únicos cinco jogadores que atuavam no futebol campineiro no momento em que foram convocados para disputar a Copa do Mundo. Os quatro primeiros defendiam a Ponte Preta e o último jogava no Guarani, mas nenhum deles era nascido em Campinas.
Silas e Luís Fabiano, campineiros com história no São Paulo e na Seleção
O único jogador campineiro que disputou duas edições de Copa do Mundo é o meia Silas, que esteve presente nas edições de 1986, no México, e 1990, na Itália, junto com o atacante Careca, campeão brasileiro pelo Guarani, em 1978.
No entanto, em ambas as ocasiões, o Brasil não chegou sequer às semifinais. Em 1986, caiu para a França, nos pênaltis, nas quartas de final. Em 1990, sucumbiu no clássico diante da Argentina, numa derrota por 1 a 0, ainda nas oitavas, com gol de Caniggia em grande jogada individual do craque Maradona, ao lado de quem Careca atuava à época no Napoli.
Em meio à disputa desses dois Mundiais, Silas disputou a Copa América de 1987 e não foi o único campineiro presente na lista de convocados do técnico Carlos Alberto Silva, campeão brasileiro pelo Guarani em 1978.
Natural de Campinas e ídolo do Bugre, o atacante João Paulo também integrou a delegação da Seleção Brasileira que protagonizou um fiasco e caiu na fase de grupos daquela edição da competição, disputada na Argentina e vencida pelo Uruguai. Na época, João Paulo atuava no Brinco de Ouro, onde foi revelado e jogou entre 1984 e 1989, além de outra passagem pelo clube alviverde em 2002.
João Paulo também disputou a Copa América de 1991, mas sem a companhia do conterrâneo Silas. O torneio foi realizado no Chile e a Argentina se sagrou campeã. Sob o comando de Paulo Roberto Falcão, a Seleção Brasileira ficou com o vice-campeonato.

No último sábado (6), Silas e Carecas estiveram juntos, ao lado de outros grandes jogadores do passado, na inauguração da Arena Cilinho, no bairro Bosque das Palmeiras, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas.
O local público foi batizado em homenagem a um dos maiores treinadores do futebol brasileiro, Otacílio Pires Camargo, o Cilinho, o homem que mais vezes comandou a Ponte Preta, com 245 jogos em seis passagens diferentes, entre os anos 60 e 80.

Cilinho também dirigiu o Guarani, em uma rápida passagem entre 1989 e 1990, após fazer história no São Paulo, clube onde promoveu uma revolução no futebol durante os anos 80.
Conhecida como “Menudos do Morumbi”, aquela lendária equipe do São Paulo se sagrou campeã brasileira em 1986 e conquistou dois títulos paulistas, em 1985 e 1987. O time contava com os jovens Silas e Careca, além de outros jogadores como Muller e Pita.
O último atleta nascido em Campinas que disputou uma edição de Copa do Mundo atende ao nome de Luís Fabiano. Revelado na Ponte Preta, onde jogou entre 1998 e 1999, antes de se destacar no São Paulo e fazer carreira na Europa, o jogador foi o centroavante titular da Seleção Brasileira no Mundial de 2010, na África do Sul, onde a equipe comandada pelo técnico Dunga caiu nas quartas de final, com derrota por 2 a 1 para a Holanda, vice-campeã daquela edição.
O evento de inauguração da Arena Cilinho, ocorrido no último fim de semana, também contou a presença de outros grandes atletas ligados ao futebol campineiro com participação em Copa do Mundo, como os ex-zagueiros pontepretanos Oscar e Polozzi, além do ex-meia bugrino Renato Morungaba, campeão brasileiro em 1978.
