Você estava procurando uma nova oportunidade, e passou a observar com mais atenção os movimentos do mercado. Currículo atualizado. O LinkedIn virou rotina. Preparando respostas, participando de entrevistas.
Até que chegou a proposta. Aquela que valida, empolga e convida a virar a página. Assumir algo novo. Mas, no instante em que comunica sua saída, vem a surpresa: uma contraproposta.
Aquela tentativa da empresa de te manter. Pode ser um aumento. Um reposicionamento. Um novo desafio. Um aceno de que você é importante. E, muitas vezes, isso balança.
Mas antes de qualquer movimento… pare e se pergunte: o que te fez começar a procurar? Essa pergunta, simples e profunda, deveria ser o ponto de partida de toda análise diante de uma contraproposta.
A decisão de buscar um novo trabalho raramente nasce do nada. Ela é fruto de um acúmulo de fatores: sensação de estagnação, desalinhamento com a liderança, falta de reconhecimento, desgaste com a cultura, promessas não cumpridas ou, simplesmente, a sensação de que você já deu o que tinha que dar ali.
É um processo. Às vezes lento, às vezes abrupto. Mas sempre carregado de significados.
E, por isso mesmo, aceitar uma contraproposta pode ser como colocar um band-aid numa dor que já era crônica. O sintoma é adiado. Mas a causa continua lá.
Claro, há exceções. Em alguns casos, o movimento de saída é justamente o que provoca a mudança necessária na empresa. Mas a verdade é que isso é raro. E, mesmo quando acontece, vem acompanhado de consequências que nem sempre são discutidas abertamente.
Os prós de aceitar uma contraproposta
Apesar dos alertas, é importante reconhecer que há, sim, cenários em que a contraproposta pode fazer sentido. E aqui estão os pontos positivos que devem ser considerados com clareza:
1. Reconhecimento (ainda que tardio): Ser valorizado pela empresa no momento da saída pode parecer contraditório, mas é real. O movimento de te manter, mesmo que tardio, pode indicar que sua presença tem impacto, que seu trabalho está sendo visto e que talvez a liderança precise desse susto para agir.
2. Melhoria imediata das condições: Se os principais incômodos eram estruturais, como salário, escopo ou alocação, e a empresa, de fato, oferece uma mudança objetiva, a contraproposta pode ser um caminho mais curto para o que você já vinha buscando.
3. Redução de riscos: Aceitar uma proposta externa envolve um mergulho no desconhecido. Você ainda não conhece a nova liderança, a dinâmica da empresa, a verdadeira cultura por trás da entrevista. Ficar pode parecer um porto mais seguro, pelo menos por um tempo.
Os contras (que nem sempre são óbvios)
Mas como tudo na vida profissional, toda escolha vem com consequências. E aqui é onde mora o perigo das contrapropostas: elas muitas vezes oferecem conforto imediato, mas não resolvem a equação mais profunda.
1. A valorização só veio quando você decidiu sair: Esse ponto merece destaque. O que impede a empresa de te valorizar antes? Por que o reconhecimento só aparece como resposta a uma ameaça? E o que isso diz sobre a cultura, a liderança e o real plano de desenvolvimento para você ali dentro?
Aceitar pode significar que o padrão só será quebrado sob pressão. E que sua valorização está mais ligada à conveniência da empresa do que a um plano genuíno de crescimento.
2. A decisão de sair já dizia muito sobre seu estado interno: Você passou por um processo. Avaliou prós e contras. Fez entrevistas. Se envolveu emocionalmente com outra oportunidade. Isso tudo já revela que algo estava desalinhado. Ignorar esse processo interno pode ser perigoso, porque uma hora o incômodo volta. E, quando voltar, pode vir mais forte.
3. O mercado pode interpretar sua escolha como falta de clareza: Para o mercado, aceitar uma contraproposta pode soar como instabilidade, falta de clareza ou até jogo duplo. Claro que cada caso é um caso. Mas é preciso pensar no impacto reputacional da escolha, especialmente em mercados mais nichados ou cargos mais altos.
Aceitar ou recusar uma contraproposta não define sua carreira. Mas a forma como você lida com esse momento, sim.
O que te fez começar a procurar emprego? O que mudou desde então? O que você espera da empresa, e de você? Está saindo por desejo de crescimento ou fugindo de algo? Está ficando por convicção ou por medo?
As respostas estão aí dentro.
E a melhor decisão é sempre aquela que você consegue sustentar em paz, com coerência e responsabilidade.
Contrapropostas testam nossa clareza.
E a clareza, quando existe, é o que separa um passo em falso de um salto consciente.
Karine Camuci é consultora de carreiras e fundadora da Você Empregado, consultoria especializada em recolocação profissional e desenvolvimento de carreiras. Conheça: https://voceempregado.com.br/











