Este texto, em grande parte, foi publicado pelo editor Zeppelini em novembro de 2024 e me atraiu no sentido de estender e discutir o seu conteúdo de grande importância para o mundo científico nesta coluna (1). Este tema, historicamente, sempre esteve no centro dos debates acadêmicos, a avaliação de impacto e de qualidade de periódicos científicos ganhou ainda mais espaço nos últimos 10 anos, principalmente com a Internet de alta velocidade.
Tradicionalmente, o fator de impacto (FI), calculado pelo número de citações que os artigos de um periódico recebem, tem sido a métrica predominante. No entanto, com o avanço da comunicação científica e o surgimento de novas formas de disseminação de conhecimento, surgiram métricas alternativas que oferecem uma avaliação mais abrangente. O FI, introduzido por Eugene Garfield na década de 1960, tornou-se a mais conhecida e amplamente utilizada para avaliar periódicos científicos.
Calculado anualmente pelo Journal Citation Reports (JCR), o FI reflete o número médio de citações recebidas por artigos publicados nos dois anos anteriores. Embora seja uma métrica útil, o FI apresenta limitações, como a concentração de citações em poucos artigos e a variabilidade entre diferentes áreas do conhecimento.
Estudo conduzido em 2019 por Cassidy Sugimoto e Vincent Larivière revelou que mais de 80% das citações são direcionadas a apenas 20% dos artigos, destacando uma distribuição desigual. Além disso, o FI não leva em consideração as demais formas de disseminação e impacto, como menções em redes sociais, blogs e outras plataformas digitais, limitando sua capacidade de refletir a influência real de um periódico. Pesquisas adicionais, entretanto, mostram que o FI pode ser influenciado por fatores como o tamanho do campo de estudo, a quantidade de pesquisadores ativos e a tradição de citação dentro do campo. Com o advento das plataformas digitais e redes sociais, métricas alternativas, conhecidas como altmetrics, surgiram para complementar as avaliações tradicionais. Altmetrics consideram diversas formas de engajamento e disseminação de conhecimento, incluindo menções em mídias sociais, downloads, visualizações, compartilhamentos e citações em políticas públicas e documentos técnicos.
Citado pela primeira vez em 2010 por Jason Priem, em seu artigo “Altmetrics: um manifesto”, o conceito trouxe uma visão possivelmente mais completa e imediata do impacto de um artigo, ao capturar a atenção e o engajamento de uma audiência mais ampla e diversa. Além disso, essas métricas permitem identificar a influência de artigos em tempo real, ao contrário do FI, que é calculado anualmente.
Outros estudos já revelaram que altmetrics e métricas tradicionais frequentemente não se correlacionam, sugerindo que altmetrics capturam diferentes aspectos do impacto científico. Enquanto um artigo potencialmente tem um alto fator de impacto devido a muitas citações acadêmicas, ele também pode ser amplamente compartilhado e discutido nas mídias sociais, indicando um impacto mais imediato e público.
Melhorar o FI e a relevância de um periódico exige estratégias que vão além da simples publicação de artigos de qualidade.
Algumas abordagens já se provaram eficazes, tais como: 1- Incentivar colaborações internacionais: Estudos mostraram que artigos resultantes de colaborações internacionais têm maior visibilidade global e tendem a receber mais citações, aumentando significativamente o impacto de um artigo; 2- Adotar práticas de acesso aberto: Publicar em acesso aberto eleva a acessibilidade dos artigos, resultando em mais citações e maior engajamento. Levantamento realizado com 100 mil artigos, conduzido em 2018 por Heather Piwowar, constatou que artigos de acesso aberto têm 18% mais probabilidade de serem citados do que os artigos restritos, indicando que a acessibilidade é um fator crucial para gerar impacto; 3- Investir em disseminação e marketing científico: Utilizar redes sociais, blogs e outras plataformas para promover os artigos eleva a visibilidade e o engajamento. Estudos mostram que a presença em plataformas como “X” (ex-Twitter) está correlacionada com um aumento nas citações acadêmicas, sugerindo que a promoção ativa tem um impacto direto no reconhecimento científico; 4- Fomentar a publicação de revisões e artigos de opinião: Artigos de revisão geralmente recebem mais citações do que artigos de pesquisa originais, pois sintetizam e discutem o estado da arte em uma área específica.
O pesquisador Dag Aksnes, já em 2003, descobriu que revisões têm um impacto de citação significativamente maior, contribuindo para o aumento do FI do periódico; 5- Desenvolver e implementar políticas de transparência e reprodutibilidade: A crescente demanda por transparência e reprodutibilidade na pesquisa científica tem levado muitos periódicos a adotar políticas que incentivam a divulgação completa de dados e métodos. A reprodutibilidade é um indicador-chave da robustez científica, e periódicos que promovem essas práticas certamente ganham maior credibilidade e citações.
A avaliação de impacto e qualidade de periódicos está passando por uma evolução significativa. As métricas tradicionais agora são complementadas por métricas alternativas, proporcionando uma visão mais ampla e imediata do impacto científico.
Ao equilibrar essas abordagens, os periódicos elevam sua visibilidade e influência, resultando em um impacto mais significativo na comunidade científica. Na verdade, todos estes movimentos visão aproximar os cientistas a outros cientistas e também a toda sociedade, em tempo mais curto e com a possiblidade de ser incorporado mais rapidamente. É muito importante que a produção científica seja cada vez mais apropriada pela sociedade.
(1)- Et al. #306 – 12 de novembro de 2024 – Métricas tradicionais versus alternativas: O que as avaliações de impacto têm a oferecer aos periódicos. Zeppelini Editorial.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-Fapesp.











