Do alto de meus 73 anos de idade posso dizer, e brinco muito com aqueles que convivem comigo, que “ser jovem é melhor do que ser idoso”, rsrs. Entretanto, existem maravilhas da idade que só os anos podem nos dar como, por exemplo, a maravilhosa convivência com os netos. Tenho três lindas netas. Como me disse um dia uma paciente, a alternativa a envelhecer não é boa. Com a maior simplicidade, ela me disse: “se você não quer ficar velho é porque vai morrer novo” e, convenhamos, ela tem razão, esta não é uma boa alternativa.
Nestas últimas semanas, dados do IBGE colocaram o tema em pauta no Brasil tendo em vista a nossa rápida mudança no padrão demográfico e todas as implicações no campo da saúde, previdência, etc. A redução das taxas de natalidade associada ao rápido envelhecimento da população brasileira, traçam um novo perfil populacional ao nosso país. A “explosão” demográfica de alguns anos atrás bem como a “pirâmide” etária, já não existem mais.
Estamos evoluindo para um padrão “europeu”. Os europeus levaram mais de 200 anos para atingirem este padrão de distribuição etária. Nós estamos levando menos de 30 anos. Todos vocês podem imaginar como isto interferirá no planejamento de nosso país nos próximos anos.
Em termos mundiais, há alguns anos, o Dia Mundial da Saúde, promovido e comemorado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) foi para discutir o envelhecimento e a saúde. Sob o título “Boa saúde acrescenta vida aos anos “, a OMS tentou iluminar tanto a mudança na distribuição etária em nossa população global quanto a necessidade de dissiparmos estereótipos negativos sobre os idosos, equívocos que frequentemente focam na saúde e assistência médica dos idosos. A OMS prevê que “o número de pessoas com 80 anos quase quadruplicará entre agora e 2050” e que “nos próximos cinco anos, o número de adultos com 65 anos ou mais superará o de crianças com menos de 5 anos”.
Números incríveis, que nos mostram não apenas como nossa saúde está melhorando globalmente, mas como nossos cuidados de saúde se tornarão cada vez mais focados em pessoas mais idosas no futuro bem próximo. À medida que as pessoas envelhecem, e à medida que os idosos se tornam uma proporção maior da população, isso lança luz sobre nossas concepções de “velho” e “saudável”.
De fato, os idosos são suscetíveis a uma série de problemas de saúde, mas a velhice em si não é igual a saúde precária ou falta de habilidades mentais, físicas e sociais, como os estereótipos culturais frequentemente apresentam.
A Age-UK (Inglaterra) afirma em seu relatório de 2012 que 61% das pessoas sentiam que a discriminação com base na idade era generalizada e que “não houve melhora na área da dignidade nos cuidados hospitalares, com a última pesquisa com pacientes internados mostrando que mais de um em cada cinco idosos diz que nem sempre é tratado com dignidade e respeito ”. Terrível este fato e que deve ser conhecido e combatido.
Os estereótipos que cercam os idosos incluem que todos os idosos vivenciam a senilidade e que os idosos são menos merecedores de assistência médica. Embora os riscos de demência sejam muito maiores em pessoas com mais de 60 anos, os sinais de demência não são uma parte normal do envelhecimento. Além disso, o direito à assistência médica igual não diminui à medida que envelhecemos, mas as condições tratáveis são frequentemente mal interpretadas como partes “normais” e toleráveis do envelhecimento.
Os equívocos que cercam a saúde e a velhice deturpam injustamente os idosos, suas capacidades, suas personalidades e seus estilos de vida e fazem com que as pessoas se preocupem mais com o envelhecimento de seus entes queridos e com o envelhecimento deles próprios.
É verdade que ser mais velho apresenta riscos únicos para sua saúde, mas quando penso que tenho inúmeros amigos, familiares e colegas nas faixas de 70, 80 e até 90 anos, tão capazes e vibrantes como sempre foram, que podem saborear um bom vinho, uma cerveja, uma boa comida, praticar atividades físicas, viajar, etc, etc, etc., ficamos com a sensação de tudo vale a pena, sempre.
Parece que o aumento da idade da população do planeta apresenta um novo foco para o campo da saúde e uma necessidade distinta de uma mudança social positiva em nossa concepção de envelhecimento. Devemos trabalhar para isto buscando a potencialidade onde a experiência de vida, em todas as suas dimensões, pode ser máxima quando comparada à outras faixas etárias.
Carmino Antônio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-Fapesp.











