Cerca de três meses após abrir um curso inédito de canto em mandarim, o Instituto Anelo, que promove a inclusão social pela música na periferia de Campinas, comemora as primeiras posições na etapa nacional de um concurso de canto chinês e o avanço de uma de suas representantes para a final mundial da competição. Maria Eduarda Santos Nascimento, a Duda, de 20 anos, foi a melhor brasileira em 14 anos de existência da Copa Cubo da Água no país, e a única não chinesa participante da fase decisiva, em que concorreu com chineses e descendentes diretos de chineses.
Atualmente, o instituto conta uma turma iniciante no curso, que tem aulas às sextas-feiras pela manhã com a professora Jia Sun Costa, chinesa radicada em Campinas. Com a consolidação dessas aulas e a projeção alcançada com o concurso, o Anelo já projeta abrir uma segunda turma de canto em mandarim, no segundo semestre deste ano.
Duda esteve entre os seis representantes que o Instituto Anelo inscreveu na Copa Cubo da Água de Canto Chinês, promovida no final de maio no bairro da Liberdade, em São Paulo, por organizações culturais e de imprensa chinesas.
Na ocasião, ela foi a campeã e outros dois alunos do Anelo também se destacaram: Nicoly Alessandra Rosa da Silva, de 17 anos, foi a vice-campeã, e Rafael Oliveira Cordeiro, de 17 anos, ficou em quarto lugar. Eles foram premiados com R$ 1,5 mil, R$ 1 mil e R$ 300, respectivamente.
Os alunos participaram da categoria disputada por brasileiros (chamada de grupo estrangeiro). Outras categorias reuniram chineses de várias idades que vivem no Brasil. Na disputa, os jovens mostraram o alto desempenho obtido nas aulas de mandarim que tinham iniciado na instituição, até então, há apenas dois meses.

Na semana posterior ao prêmio, a campeã Duda foi informada pela organização que deveria gravar um vídeo interpretando uma nova música para participar da semifinal mundial. Posteriormente, foi chamada para cantar ao vivo, novamente em São Paulo, com transmissão, quando foi classificada entre os 30 que passaram para a final.
Na semifinal, já como única não chinesa, competiu com 43 jovens chineses ou descendentes que foram campeões em países como Indonésia, Nova Zelândia, África do Sul, Canadá, Chile, Itália, Alemanha, Tailândia, Austrália, Finlândia, Filipina, Malásia, Espanha, EUA, Japão e Rússia.
Já na decisão, concorreu com 30 participantes, novamente cantando ao vivo em São Paulo e com transmissão direta para a China pela Copa, chegando a interagir com os jurados, acompanhada da professora. Duda acompanha e gosta da produção cultural chinesa, mas não fala mandarim. A final ocorreu no dia 30 de junho e ela obteve a 18ª colocação.
“Só de chegar aonde eu cheguei, já foi uma sensação de felicidade, de alegria, pois eu superei a mim mesma. É uma alegria estar compartilhando isso com o Brasil, onde eu vivo, e com o mundo. Antes de cantar na semifinal, por exemplo, eu estava muito ansiosa, nervosa, era uma pressão por ser a única brasileira nata, com pais brasileiros. Foi um desafio muito grande. Minha professora disse que eu peguei uma música muito difícil, e eu nem tinha noção disso”, diz Duda.
A Copa
A competição internacional tem o objetivo de estreitar relações culturais entre diversos países e a China e foi batizada de Copa Cubo da Água em referência aos chineses que viviam fora da China e doaram dinheiro para a construção do estádio Cubo da Água, que sediou as Olimpíadas de 2008. A professora Jia Sun e Duda escolheram para a final uma nova música, intitulada Cun Zai (Existir), pois viram a necessidade de diversificar para manter a competitividade.
O início
Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, conta que conheceu a professora de canto durante uma apresentação dos alunos do Anelo, em fevereiro, no evento do Ano Novo Chinês promovido pela CPFL Energia, empresa que é patrocinadora master do Anelo, por meio do apoio do Instituto CPFL e da parceria da State Grid. Jia Sun se interessou pela organização, foi conhecer as instalações, no Jardim Florence, e se apaixonou pelo trabalho, aceitando lecionar canto em mandarim no Instituto.
“Foi muito surreal tudo isso, em dois meses. E os bairros mais carentes do Campo Grande representados pelo esforço desses alunos. Poderiam fazer qualquer coisa, mas resolveram cantar em mandarim, e aprenderam muito bem”, afirma Luccas.
Daniela Ortolani Pagotto, head do Instituto CPFL, menciona que a parceria da empresa com o Instituto Anelo começou com a frente social CPFL Jovem Geração, lançado em 2020, para apoiar projetos que utilizam a música e o esporte como ferramentas de mudança social. “Para nós, faz muito sentido apoiar uma atividade cultural como essa, onde os alunos têm a oportunidade de conhecer outra língua, como o mandarim. Acreditamos que essa integração cultural entre os dois países, amplia os horizontes desses jovens em direção de uma cultura milenar e diversa”, explica.
“Estamos muito felizes e motivados a continuar esse projeto. As aulas de mandarim acontecem todas as sextas-feiras pela manhã na sede do Instituto Anelo. Nosso objetivo é ampliar as oportunidades para os alunos. Vamos continuar nos preparando para novas oportunidades. O Instituto Anelo já se apresentou em vários países, como Itália, Alemanha, África do Sul e agora nosso sonho um dia é cantar na China”, finaliza Luccas.
Saiba mais
Atualmente, as aulas de canto em mandarim ocorrem todas as sextas-feiras das 8h às 11h, com seis alunos. Segundo Luccas, o Anelo já buscou oferecer aulas de idiomas, que acabaram não evoluindo, mas o curso de canto revelou que aliar um novo idioma à música, que é a especialidade do instituto, é uma alternativa promissora e com demanda na sua área de atuação, no distrito campineiro do Campo Grande.