A palavra “Campinas” é uma proporção polivalente de sentidos. Pode ser entendida como um local em que se tem muitos campos pequenos, bem como uma expressiva extensão de terra.
A cidade “Campinas” também incorpora uma grande polivalência de valores. Ela é um município, uma espécie de “capital regional”, liderando uma grande região metropolitana (um total de 20 municípios, inclusive a própria). São mais de 3 milhões de habitantes em área de 3.647 km².
Para comparação curiosa, o país Uruguai tem cerca de 3 milhões e meio de habitantes em 176.220 km² de extensão.
Comemoramos no dia 14 deste mês o ducentésimo quinquagésimo (250º) aniversário de Campinas. Há muito a ser celebrado!
Campinas situa-se muito perto da capital do Estado. É extremamente fácil ir a São Paulo assistir a um espetáculo artístico concorrido! Ou para fazer qualquer coisa burocrática que ainda não se desconcentrou da capital.
As cidades conurbadas entre Campinas e São Paulo exibem os campos todos ocupados, permitindo uma provocação jocosa, inspirada no orgulho bairrista dos campineiros: “São Paulo é o maior e melhor bairro de Campinas!”…
A abrangência de campos de ação funcional (públicos, privados, comerciais, industriais, jurídicos, empresariais, educacionais, religiosos, turísticos, artísticos e tantos outros) é enorme. Há distinguidos artesãos hippies, grandes especialistas médicos, odontológicos, clérigos e médiuns caridosos, dedicados obreiros, exemplares garis, chapeiros criativos, chefes e baristas sofisticados ou mesmo pipoqueiros e engraxates persistentes.

Apesar de toda evolução, a tecnologia acelerando os processos de desenvolvimento, alguns campos bucólicos e uma alma campesina se mantêm.
Convivemos com um acelerador de partículas, instalação científica de impacto mundial, e alguma plantação campestre bem rústica, em terreno não muito periférico. Tomara que nunca percamos nossas reservas provincianas. São absolutamente necessárias e divertidas!
Os campos de estudo, dos níveis mais básicos às graduações, pós-graduações e equivalentes são variadíssimos. Campus e campi universitários campeiam. Há academias eruditas para campineiros e campinenses, bem como não faltam academias de ginástica…
Campos de futebol acirram as disputas esportivas. A cidade tem um campeão brasileiro. Vôlei, artes marciais e maratonas são outros destaques.
Campos são pavimentados em comércios modernos, belos edifícios recebem consumidores exigentes. Shoppings exuberam-se.
Campos são invadidos, em invasão bem recebida e sucedida! Há a Campinas dos mineiros, a dos paranaenses, dos nordestinos, dos catarinenses, dos cariocas, estrangeiros e de tantos outros cantos…
A antiga “Cidade das Andorinhas” é marcante. Elas não têm mais essa rota migratória, como nos tempos das atividades predominantemente agrícolas, mas há registro memorial desta época bucólica.
A Campinas rica e a pobre, como nas outras cidades brasileiras, permanecem em seus contextos. Um trabalhador dedicado, ao final do dia, embarca em um ponto de ônibus caprichado, em avenidas de primeiro mundo, e desembarca no bairro onde mora, casa de rua sem asfalto.
E a Campinas dos famosos? Em tempo de celebridades, muitos voam para campos longínquos, mas na memória e no coração as saudades e as nostalgias se reciclam.
Certos campineiros da época colonial, tempo dos campos de grandes proprietários, dos barões do café, frequentaram campos europeus, de onde trouxeram modelos sofisticados de comportamento com etiquetas e mesuras, sugerindo feminilidade. A fama preconceituosa de “fresco” (e depois “veado”) diluiu-se nos tempos atuais e perdeu-se a brincadeira com os exageros e protocolos da homofobia.
Dos cafezais ao café filosófico, o estilo campineiro se reafirma e se renova.
Nem todos são campos de flores, de lindos cultivos e imagens belíssimas! Há campos de batalha, de discórdias, a serem assumidos e administrados. Ótimos campos são cortados em rodovias, há estradas para todos os cantos do País. Logo chega o transporte atualíssimo: um fabuloso trem!
Há mais de meio século, nas plataformas da estação ferroviária, quem ali entrasse deparava com duas placas indicando para onde seguir: “Capital”, de um lado; “Interior”, do outro. Dadas as características do entroncamento de linhas férreas, Campinas não era uma coisa nem a outra… O novo trem confirmará essa condição ambivalente, ligando São Paulo a Campinas.

A História da Arte Musical registrou o maestro Carlos Gomes como o “compositor das Américas”. Os campineiros e campinenses anseiam por campos artísticos, arenas, teatros, inclusive um teatro de óperas, promessa a ser cumprida pela classe política.
A política, as verbas públicas, a corrupção e interesses diversos sacrificam os panoramas, comprometendo o aproveitamento dos campos. E todo brasileiro sabe como o campo político é espinhoso no País. Em Campinas, às vezes, parece mais!
Foi maravilhosa a experiência que este campineiro-autor teve em outros campos, vivendo ecos de Campinas, especialmente na deliciosa cidade de Campos do Jordão. Foi empolgante assistir ao concerto da Orquestra Sinfônica de Campinas no auditório Cláudio Santoro. Apreciar o ambiente, conseguir o acesso, sentir a música, curtir o som e torcer para que os executantes bem representassem a cidade e sua tradição cultural!
Não vamos esquecer nem fugir dos campos muito disputados dos epílogos da vida: os cemitérios! Crematórios economizam algum espaço desses campos…
Parabéns à minha amada terra, pelos teus 250 anos, a teus fartos e belos campos e a todos campinenses e campineiros, bem como aos cidadãos que aqui estiveram e estão, em temporadas curtas e longas!
Ainda cabe um pequeno campo aqui para lembrar a chegada de minha família, há mais de um século! O ramo materno, vindo da Itália, e o paterno, vindo de Portugal, puderam bem aproveitar os campos de Campinas, de São Paulo e do Brasil!

Joaquim Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor











