A clareza da informação deveria fazer parte do jornalismo, especialmente em relação aos títulos das reportagens e artigos, primeiro contato do leitor com a publicação. No entanto, há inúmeros casos de títulos que não correspondem ao conteúdo ou, com a justificativa de precisar caber em pequeno espaço, omissões e dubiedades passam a ser comuns. Formatos e arranjos são escolhidos que vão além de interesses nem sempre explícitos, interesses que comandam as escolhas de títulos e conteúdos.
Nesse sentido, chamaram a atenção quatro manchetes que figuraram ao mesmo tempo na página de um provedor de conteúdo, cuja identidade é omitida porque não é esse o objetivo, mas, sim, discutir a comunicação de forma geral. Os títulos são aqui tomados como exemplos, dada sua simultaneidade e por conterem questões inusitadas, não exaurindo a reflexão proposta.
1. “Motorista perde o controle, bate em viatura e mata PM atropelada no Rio de Janeiro”
A policial militar havia sido atropelada e, além disso, o motorista a matou. É isso? Se não foi, por que não escrever “.. bate em viatura, atropela e mata PM …”? Na correria de fazer a publicação rápida, esquece-se da clareza.
2. “Trem que liga SP ao aeroporto de Guarulhos sairá da estação Luz até 1o de abril”
A data da publicação é 17 de março e quem está na estação da Luz (omitiram a preposição no nome), supostamente dentro do trem, terá de esperar duas semanas para a partida? Além de usar SP como abreviação da cidade e não do estado, como seria o correto, a comunicação clara deveria usar “começará a sair” em vez de “sairá”. Mas quem se importa com a desinformação?
3. “Starbucks deve pagar US$ 50 mi após homem queimar partes íntimas com chá nos EUA”
Raro, mas acontece: mostrar valores em dólares e não converter em reais. Fica como registro positivo a ser seguido, pois muitos sites estão convertendo para reais como se, fora do Brasil, alguém comercializasse com nossa moeda. Se é para facilitar a conversão, que se coloque também o equivalente em reais.
4. “Esqueleto misterioso de criança com 29 mil anos é encontrado na Tailândia”
Parece aquelas manchetes do History Channel, alardeando que houve uma criança que tenha vivido até os 29 mil anos! Se fosse: “Com 29 mil anos, esqueleto misterioso de criança…” mas não se usam mais as necessárias vírgulas em títulos.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia Campinense de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.