Crianças e adolescentes nunca estiveram tão conectados — e tão expostos. O ambiente digital amplia possibilidades de aprendizado e socialização, mas também abre espaço para riscos sérios quando faltam supervisão e diálogo.
Dados da empresa global de cibersegurança Kaspersky, que contou com cerca de 10 mil entrevistados de cinco países, Turquia, África do Sul, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes, mostram que 53% dos jovens entre 11 e 17 anos escondem suas atividades online dos pais, apagando históricos, usando senhas e acessando a internet quando estão sozinhos. Mais da metade omite o tempo que passa conectada, 35% escondem os sites que visitam e 33% admitem acessar conteúdo adulto.
Em outro levantamento, Kids Report 2025, a Kaspersky apresenta outro dado alarmante publicado pela Kaspersky, no relatório, é o avanço do interesse infantil por inteligência artificial. Entre maio de 2024 e abril de 2025, as buscas por chatbots como ChatGPT e Character.AI mais que dobraram, somando 7,5% de todas as pesquisas feitas por crianças. Curiosidade natural? Sim — mas também um sinal de alerta sobre o uso consciente dessas ferramentas.
Os jogos online seguem como um dos principais vetores de risco. A pesquisa da Kaspersky, The dark side of kids’ virtual gaming worlds, revela que, em 2022, mais de 7 milhões de ataques cibernéticos foram direcionados a jogadores de 3 a 16 anos — um aumento de 57% em relação ao ano anterior. Plataformas como Roblox, Minecraft e Fortnite são frequentemente usadas por cibercriminosos para aplicar golpes, e até marcas infantis conhecidas, como LEGO e Disney, têm sido exploradas em campanhas maliciosas.
Muitos aplicativos populares parecem inofensivos, mas escondem falhas graves de segurança e pouca moderação. Pais e responsáveis, em geral, desconhecem o alcance desses ambientes e o quanto podem afetar o comportamento digital dos filhos.
O Yubo, por exemplo, é conhecido como “Tinder teen”: permite conhecer novas pessoas por lives e chats privados, com verificação de idade frágil. Casos graves foram registrados, como o de Salvador Ramos, autor do massacre em Uvalde (EUA, 2022), que usava o app para fazer ameaças e permaneceu ativo mesmo após denúncias.
O Discord, antes voltado a gamers, tornou-se uma rede social ampla com pouca moderação. Servidores abertos expõem jovens a pornografia, discursos de ódio e drogas. Sua estrutura descentralizada facilita o anonimato de predadores e dificulta o rastreamento de crimes.
Já o Zepeto, com estética “fofa”, permite que usuários criem avatares 3D e explorem mundos virtuais. O problema está nos chats abertos e na ausência de filtros. Conteúdos criados por usuários podem conter temas sexuais e até incentivo à automutilação, e há casos de adultos que usam avatares infantis para se aproximar de crianças.
O Roblox, uma das plataformas mais populares entre crianças, também preocupa. Apesar do visual lúdico, funciona como rede social com interação livre entre desconhecidos. A verificação de idade é falha, o chat privado é liberado por padrão e a moderação é limitada. Em 2024 e 2025, seis adultos foram presos nos EUA por aliciar menores e extorquir material íntimo via Roblox. No Brasil, o Ministério Público do Trabalho apura suspeita de exploração de trabalho infantil, já que crianças produzem jogos que geram lucro para a empresa sem remuneração.
Os números reforçam a gravidade da situação. Segundo a organização sem fins lucrativos, SaferNet Brasil, as denúncias de aliciamento de menores aumentaram 125% em 2023. O perigo, hoje, não está nas ruas — entra em casa pela tela, silenciosamente.
Proteger as crianças no ambiente digital exige mais do que limitar o tempo de uso e usar as configurações de segurança disponíveis nas plataformas. É preciso participar, dialogar e orientar. O primeiro passo é conhecer os aplicativos que seus filhos utilizam. Muitos pais nunca ouviram falar de Yubo, Discord ou Zepeto — e isso precisa mudar. Baixar os apps, jogar junto e acompanhar as conversas são atitudes simples, mas eficazes.
Ferramentas como o Family Link (Google) e o Apple Screen Time ajudam a monitorar o que é acessado, mas nenhuma tecnologia substitui a conversa. Explicar que nem todos na internet são quem dizem ser, ensinar a denunciar comportamentos suspeitos e observar mudanças de humor ou isolamento são cuidados essenciais.
Proteger não é apenas vigiar — é estar presente. Tudo pode começar com uma conversa inocente e terminar em manipulação, chantagem ou abuso. A criança não precisa sair de casa para estar em perigo. Um link, um chat, uma chamada de vídeo… às vezes é só isso que basta para abrir a porta errada.
Você sabe com quem seu filho está conversando hoje?
Natália Santos é Channel & Marketing Manager na BeePhish, empresa brasileira especializada em conscientização em segurança da informação

 
			 
					






















