Compartilho algumas impressões da participação no XVII Seminário “Reciclagem e valorização de resíduos sólidos”, cujo ingresso me foi ofertado pelo Conselho Regional de Química da 4ª Região (CRQ-IV).
Dentro da avaliação da viabilidade da reciclagem de embalagens, é necessária primeiramente uma Análise do Ciclo de Vida (ACV) ou Life Cicle Analysis (LCA), em inglês. O conceito é rastrear o produto desde sua origem (berço) até a deposição final (túmulo) ou, mais modernamente, até o berço novamente, para que o ciclo seja completo. Nesses estudos, são feitos inventários de quantidades, valores e custos energéticos de cada produto lançado no mercado, especialmente na forma de embalagem, que é o principal artefato que alimentará os aterros e lixões.
Para tanto, o ecodesign – o desenho sustentável – tem sido amplamente empregado para definir o menor impacto da embalagem e sua possível reutilização, como aconteciam com as garrafas de vidro para bebidas no passado. O desempenho ambiental passa a ser um critério de qualidade da empresa.
No seminário foi apresentada uma experiência com tampinhas plásticas de garrafas, pelo professor Luiz Kulay, da Poli-USP. Desde 2017, 300 milhões de tampas foram recicladas e transformadas em “tags” de telefonia. O professor lembra que a principal função da tampinha é a estanqueidade, ou seja, manter o líquido devidamente confinado no recipiente. Ele também defende a ACV não apenas do produto, mas de todo o processo. A forma mais barata de fazer tais cálculos é usar uma planilha do Excel, por se tratar de uma multiplicação de matrizes, com ajustes. O maior investimento é no banco de dados que alimenta a planilha e deve-se saber o que se quer medir. Outros softwares existem, mas com diferentes preços de licença de uso.
Na sequência, estudos com dois importantes polímeros – polietileno e PET – presentes nas embalagens foram debatidos. A capacidade de produção de polietileno é de 1 milhão de ton/ano, mas a capacidade de reciclagem é menos da metade disso, 450 mil ton/ano. Um dado para comparação é que 360 mil ton é o equivalente a 12 bilhões de garrafas. Para manter o sistema, não há coleta suficiente e até importam lixo de outros países.
No caso do PET (polietilenotereftalato), a perda na reciclagem é de 26%, considerada muito grande. Com o adiamento das campanhas de coleta seletiva, os valores monetários correspondentes a esses materiais são literalmente enterrados.
Foi informado no evento que há 140 empresas envolvidas na reciclagem de PET no Brasil. A reciclagem deve resultar em especificação igual ao do material virgem e no caso do PET a separação é fácil por densidade, em relação aos demais polímeros, e também pode ser usado como fibra têxtil, pois é um poliéster.
De forma geral, as perdas de outros materiais é de 10%, sendo que a coleta seletiva resulta ainda em uma mistura que precisa ser separada. Ou seja, o processo é delicado e exigente. Na parte mecânica de retransformação do material plástico, o uso das facas dos moedores não pode resultar em pó, que deve ser separado dos flocos que são os utilizados na moldagem de novas embalagens. Há patentes nessa área o que restringe novos empreendedores no mercado.
Questiono quem puxa quem nessa área, se a pressão da sociedade em manter um ambiente mais limpo pode levar a preços mais adequados ou se é a própria empresa que deve estimular uma coleta e reciclagem maior. Parece uma dúvida que se mantém por enquanto.
Por fim, em um exemplo da própria instituição em que aconteceu o evento, Renato Peres, professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresentou os projetos de centro de reciclagem e de cidades inteligentes.
Objetivos principais são os processos de reciclagem e a valorização dos resíduos sólidos e deu como exemplo os canetões de lousa transformados em réguas e chaveiros.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.











