A COP30, que segue até 21 de novembro em Belém (PA), consolida o Brasil no centro de um debate global que transcende a agenda ambiental. As mudanças climáticas deixaram de ser pauta ecológica para se tornarem variável determinante das decisões econômicas. O clima é agora fator macroeconômico, com efeitos diretos sobre o PIB, o crédito, o custo de energia e a estabilidade fiscal. A sustentabilidade, antes vista como compromisso reputacional, tornou-se elemento de governança econômica.
As oscilações climáticas já produzem impacto mensurável na economia brasileira. Em 2024, variações de temperatura, seca e precipitação reduziram em cerca de R$ 460 bilhões o PIB do agronegócio, comprometendo colheitas, produtividade e logística. A necessidade de recorrer a fontes térmicas elevou o custo da energia e pressionou a inflação, afetando indústria e consumo. Esses efeitos, antes considerados excepcionais, tornaram-se estruturais. O risco climático é hoje uma linha permanente de despesa nacional, incorporada às decisões de investimento e à precificação de ativos. Cada onda de calor extremo ou seca fora de época carrega um custo real em produtividade e estabilidade.
Estudos internacionais indicam que os danos econômicos das mudanças climáticas são maiores do que se estimava. Projeções apontam que o Brasil pode perder até 18% do PIB até 2050, caso não adote uma estratégia de adaptação consistente. O impacto é sistêmico: afeta a produtividade, reduz arrecadação, amplia a volatilidade de preços e pressiona o equilíbrio fiscal. A transição climática exige uma nova racionalidade econômica. Crescimento e eficiência passam a depender da capacidade de resiliência. Economias que não se adaptam perdem competitividade e relevância.
A COP30 representa um ponto de inflexão ao colocar a adaptação econômica no centro do debate. Mitigar emissões é fundamental, mas não suficiente. O país precisa replanejar cadeias produtivas, investir em infraestrutura resiliente, revisar instrumentos de crédito e seguro e incorporar o risco climático aos modelos de decisão financeira. Empresas e instituições financeiras começam a adotar métricas de exposição climática, reconhecendo que sustentabilidade e solvência caminham juntas. A verdadeira riqueza, neste novo contexto, está na capacidade de resistir ao imprevisível — e antecipar as mudanças estruturais impostas pelo clima.
O financiamento climático emerge como eixo central dessa transformação. O Brasil busca, na COP30, apoio internacional para viabilizar até US$ 1,3 trilhão anuais em fundos destinados à mitigação e à adaptação. O desafio, entretanto, não está apenas no volume de recursos, mas em sua arquitetura institucional: é preciso desenhar instrumentos financeiros eficazes, com métricas de impacto, governança transparente e capacidade real de converter capital em produtividade e inovação.
Créditos de carbono, títulos verdes e fundos de transição energética são exemplos de soluções que, quando bem estruturadas, transformam risco climático em oportunidade econômica. O capital que ignora essa variável compromete sua própria sustentabilidade no longo prazo.
A economia do século XXI será medida não apenas por sua capacidade de crescer, mas por sua capacidade de se adaptar. O risco climático já faz parte da contabilidade das decisões — do crédito agrícola à política fiscal. Ao sediar a COP30, o Brasil tem a oportunidade de demonstrar que uma economia baseada em biodiversidade, energia limpa e inovação tecnológica pode ser competitiva e sustentável.
A governança climática tende a se consolidar como o próximo pilar da gestão econômica, guiando investimentos, mitigando riscos e fortalecendo a confiança dos mercados. Compreender essa lógica é mais do que uma questão ambiental; é um requisito estratégico. As nações e instituições que internalizarem o clima como variável econômica não apenas sobreviverão à transição, mas estarão em posição de liderá-la.
Reinaldo Soares de Camargo é Doutor em Economia pela Universidade Católica de Brasília, com formação em Matemática pela PUC Goiás e especialização em Ciência de Dados e Inteligência Artificial aplicada a finanças.











