Campinas é reconhecida como um polo de universidades de excelência, grandes empresas e intensa movimentação econômica. Mas por trás desse dinamismo, persistem desigualdades profundas. São realidades que muitas vezes escapam ao olhar da sociedade e do Estado e são alcançadas pelas entidades filantrópicas. São elas que chegam onde o poder público nem sempre alcança, oferecendo cuidado, escuta e oportunidades reais para quem mais precisa.
Falar sobre essas organizações é reconhecer a força da sociedade civil organizada na construção de soluções concretas para os desafios da cidade. Como parte da direção da Integra Campinas, Associação de Entidades Filantrópicas da Cidade, acompanho de perto o trabalho de mais de 96 organizações que atuam em áreas diversas: da assistência social, educação infantil ao atendimento a pessoas com deficiência, passando por saúde, capacitação profissional, cultura e acolhimento.
Espalhadas por todos os cantos da cidade, essas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) são responsáveis por prestar atendimento diário a mais de 180 mil pessoas, impactando diretamente na vida de bebês, crianças e idosos. Além do cuidado individual, elas fortalecem vínculos comunitários, promovem inclusão social e ajudam a construir uma cultura de solidariedade ativa.
As organizações filantrópicas também desempenham um papel fundamental na interlocução com o poder público. Por estarem próximas das comunidades e acompanharem de perto suas necessidades, são capazes de identificar falhas, propor soluções e influenciar decisões. Muitas vezes, são elas que alertam gestores sobre urgências sociais invisíveis às estatísticas, que participam de conselhos, audiências e que ajudam a transformar demandas locais em políticas públicas mais eficazes e sensíveis à realidade.
O impacto dessas entidades vai além do social.
Elas também movimentam a economia da cidade. Geram empregos diretos e indiretos, mobilizam recursos, estimulam o voluntariado e complementam serviços públicos essenciais. Ainda assim, os desafios são grandes. A sustentação financeira depende, em boa parte, de convênios públicos e doações privadas, que nem sempre são feitas com recorrência e acompanham o crescimento da demanda social.
Ainda hoje, mesmo com tantas entidades atuando há muitos anos e com impacto reconhecido, percebemos que a cultura de doação individual ainda é tímida, e o voluntariado enfrenta barreiras para se expandir. Muitas pessoas querem ajudar, mas não sabem como, ou não se sentem parte desse movimento. Para mudar esse cenário, é fundamental fortalecer caminhos estratégicos, estimulando a cultura de doação entre cidadãos, empresas e instituições e promovendo a união entre entidades, universidades, empresas e poder público.
Consolidar esses caminhos é criar, em Campinas, uma rede de cooperação capaz de gerar mais qualidade, oportunidades e desenvolvimento sustentável. É transformar solidariedade em ação concreta. O Terceiro Setor não substitui o Estado, nem compete com instituições privadas. Ele complementa, articula e potencializa o trabalho já realizado. É nessa articulação que encontramos os caminhos para um futuro mais justo, inclusivo e que atenda a necessidade de tantas famílias que ainda buscam um ombro amigo.
Com esse olhar coletivo e comprometido, seguimos acreditando que é possível construir uma cidade mais justa e humana, onde o cuidado não seja exceção, mas parte inerente da mentalidade e do cotidiano. As entidades filantrópicas de Campinas são prova viva de que quando a sociedade se une o impacto é duradouro. Reforçar essa rede é garantir que nenhuma história fique invisível, que nenhuma necessidade seja ignorada e que cada pessoa tenha a chance de viver com dignidade. Porque fortalecer quem cuida é, acima de tudo, cuidar do futuro da cidade.
Lúcia Decot Sdoia, presidente da Integra Campinas e do Instituto Padre Haroldo.

 
			 
					






















