A tragédia que assolou o Rio Grande do Sul deixou um rastro de destruição, tanto no território quanto nas pessoas, especialmente nas crianças. Pesquisas realizadas após catástrofes anteriores, como o terremoto no Haiti em 2010, revelaram uma verdade dolorosa: as crianças carregam um fardo desproporcionalmente pesado em tais calamidades, com cerca de metade delas desenvolvendo estresse pós-traumático, ansiedade ou depressão.
A exposição a esses traumas na infância, conforme apontado por dados do UNICEF, não apenas rouba a alegria momentânea das crianças, mas compromete gravemente seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Elas enfrentam um caminho árduo, pontuado por dificuldades de aprendizagem, problemas comportamentais e têm sua autoestima profundamente afetada.
Diante dessa realidade dura e sombria, devemos nos perguntar: estamos realmente fazendo o suficiente? Não basta apenas garantir a sobrevivência dessas crianças; devemos enraizar nossos esforços em recuperar a esperança delas; devemos ajudar a construir ambientes seguros que as ajudem a cicatrizar as feridas invisíveis de seus corações e mentes.
A necessidade de intervenção psicológica e emocional é urgente. Intervenções psicossociais precoces têm se mostrado eficazes na mitigação dos impactos psicológicos devastadores de tais eventos, pavimentando o caminho para a resiliência e superação. Precisamos nos mobilizar para disponibilizar esses serviços para a população.
O que fazer? E como fazer? Esse será o grande desafio e nosso maior compromisso. Não podemos esperar e acredito que focar em estruturar as escolas, seja o melhor caminho. As escolas desempenham um papel fundamental na vida das crianças, não apenas como locais de aprendizagem, mas também como espaços de segurança, estabilidade e socialização.
Após uma tragédia, a reabertura e reestruturação das escolas são essenciais para proporcionar um ambiente familiar e reconfortante para os alunos, ajudando a restaurar a normalidade em suas vidas.
Além disso, o acesso à educação é crucial para o desenvolvimento das crianças, tanto do ponto de vista cognitivo quanto emocional. Estudos mostram que a continuidade dos estudos, mesmo em situações de crise, contribui para a resiliência e recuperação psicológica das crianças, fornecendo-lhes um senso de propósito e esperança para o futuro.
Portanto, é imprescindível que sejam tomadas medidas rápidas e eficazes para recuperar as escolas danificadas, garantir a segurança dos prédios e dos alunos, e oferecer apoio psicológico e emocional adequado para que as crianças possam superar o trauma.
Precisamos ir além do básico e nutrir o bem-estar emocional dessas crianças como premissa fundamental. Elas precisam mais do que nunca de afeto e compreensão para construir uma base sólida que as prepare para os desafios futuros e as escolas tem papel fundamental nisso.
Refletir sobre essas questões não é tarefa fácil, mas é um convite ao engajamento ativo na reconstrução de um futuro mais promissor para essas crianças. Cada gesto de solidariedade, por menor que seja, é impulsionado por um profundo sentimento de amor, esperança e compaixão, inspirando uma corrente de suporte coletivo.
Unidos nesta missão, podemos demonstrar a essas crianças e suas famílias que, mesmo nas noites mais escuras, há sempre a promessa de um novo amanhecer repleto de força e determinação.
Thiago Ferrari é coordenador Executivo do PIC – programa da Primeira Infância Campineira e especialista em Liderança Executiva em Primeira Infância pela Faculdade de Harvard