Atividades corriqueiras do dia a dia, como levantar-se da cama, tomar banho e se vestir, limpar a casa ou ir ao supermercado podem deixar de ser tarefas simples, principalmente para homens e mulheres, em geral a partir dos 50 anos de idade, que sofrem com a sarcopenia. Do grego sarcos (carne) e penia (falta), a síndrome é caracterizada pela perda de massa muscular com diminuição da força, o que pode aumentar a incidência de desequilíbrios e quedas com consequências graves, entre elas, fraturas de fêmur e traumatismo craniano.
O risco de fraturas fica ainda maior se considerarmos que existe uma estreita associação entre a sarcopenia e a osteoporose, e que a perda das massas óssea e muscular acontece de maneira silenciosa, simultaneamente. As causas estão relacionadas a fatores nutricionais, hormonais e de estilo de vida.
Além das pessoas com idade mais avançada, a sarcopenia pode acometer também um grande número de pacientes com doenças crônicas, como diabéticos, hipertensos, portadores de doenças cardiovasculares, autoimunes ou com dor crônica. Por suas condições, esses indivíduos acabam tendo baixo nível de mobilidade e atividade física, e baixa ingestão de nutrientes específicos, especialmente proteínas.
É normal com o envelhecimento, por questões ligadas à dentição, diminuição de enzimas, dificuldades na digestão, desaceleração do ritmo intestinal, entre outras, que o idoso comece a se interessar mais por alimentos fáceis de mastigar e digerir, comumente, os carboidratos.
Essas pessoas privam-se de alimentos ricos em proteína, como carne, ovos e laticínios (de origem animal); as oleaginosas como feijão, lentilha, grão de bico, ervilha e soja (no reino vegetal) ou os grãos integrais como aveia e castanhas, e precisam de acompanhamento nutricional para conseguir obter a quantidade necessária de proteína que, às vezes, tem que ser suprida via suplementação. O ideal é o controle pela dieta, melhor ainda, a combinação de aumento da ingestão de proteínas com atividade física regular.
O consumo ideal de proteína para uma pessoa adulta com risco de sarcopenia está relacionado ao seu peso, na proporção de 1,5 a 2 gramas a cada quilo. Com a facilidade de acesso que temos atualmente é bem simples encontrar informações sobre a quantidade de proteína em cada alimento. Porém, a ingestão desse macronutriente costuma ser bem abaixo do ideal em todos os grupos etários.
A sarcopenia tem um impacto enorme na qualidade de vida dos idosos. Nos últimos anos, a Sociedade Brasileira de Geriatria está bastante empenhada em sensibilizar a população para a importância do diagnóstico e tratamento da doença.
O paciente sarcopênico tem mais chance de desenvolver condições agudas, como infecções e traumas, além de mais risco de instabilizar o controle de doenças crônicas e, como consequência, mais chance de hospitalização e incidência de complicações clínicas e cirúrgicas, com maior tempo de internação e mais dificuldades no processo de desospitalização e reabilitação funcional. A sarcopenia é a comorbidade mais frequente em idosos internados por qualquer causa.
A perda de massa muscular é um processo natural pelo qual todas as pessoas a partir dos 40 anos de idade, principalmente as sedentárias, estão sujeitas. Vale reforçar que a prática de atividade física regular – pode começar com uma caminhada -, manter uma dieta rica em proteínas, hidratação adequada, evitar o fumo e o alcoolismo, são posturas de cuidado com o nosso corpo que devemos ter ao longo da vida e que vão nos ajudar a chegar melhor nesta fase, com mais disposição, força e qualidade de vida!
Rafael Rondineli Ceregatti é médico no Hospital São Francisco de Mogi Guaçu. Especialista em Clínica Médica e Geriatria, com pós-graduação em Fisiologia do Exercício, Nutrologia e Medicina do Sono. Atualmente é investigador num projeto de pesquisa clínica em Sarcopenia na UTAD – Universidade de Trá-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real – Portugal.