Vivemos um tempo em que a Educação e a tecnologia se entrelaçam de forma cada vez mais profunda. A inteligência artificial (IA), que antes parecia pertencer apenas ao campo da ciência e da inovação tecnológica, hoje faz parte da rotina de escolas, professores e alunos. Mas como transformar essa ferramenta poderosa em aliada da aprendizagem e não em substituta da reflexão humana?
Como educadora e diretora de um colégio que acolhe diariamente centenas de estudantes, professores e colaboradores, tenho refletido muito sobre essa questão. A IA pode – e deve – ser uma parceira no processo educativo, desde que usada com propósito, consciência e ética. Ela amplia horizontes, oferece acesso a um universo quase infinito de informações e possibilita novas formas de ensinar e aprender. Cabe ao professor, agora mais do que nunca, orientar seus alunos nesse vasto mar de dados, ajudando-os a selecionar, interpretar e transformar informação em conhecimento.
Por exemplo, no Colégio Adventista, nossos alunos não utilizam a IA durante as aulas, mas podem fazê-lo em casa, como ferramenta de apoio aos estudos. O desafio está em educar o estudante – especialmente o adolescente, nativo digital que cresceu com o mundo na palma das mãos – a não “delegar” à IA o papel que é dele: pensar, criar, refletir.
O copiar e colar é tentador, mas o verdadeiro aprendizado nasce da construção do próprio raciocínio. É aqui que o papel do educador se torna ainda mais essencial: formar seres humanos capazes de discernir o que é ético, verdadeiro e relevante.
Também é fundamental explicar que a IA, embora eficiente, pode errar. Ela precisa de orientação, de perguntas bem formuladas e de um repertório prévio por parte de quem a utiliza. Assim como um aluno precisa dominar o conteúdo para interpretar um texto, é preciso “ensinar” a IA a entender nossas intenções, o que se faz por meio do chamado prompt — a arte de perguntar com clareza e direção.
Nosso trabalho na escola é justamente esse: integrar o uso da tecnologia sem perder o sentido humano da Educação. Nossos alunos, ao utilizarem a IA em casa, aprendem também sobre responsabilidade e autoria. Quando chegam à sala de aula e o professor pede que escrevam à mão suas ideias, sem auxílio tecnológico, eles percebem a diferença entre “usar” a ferramenta e “ser” o autor do conhecimento.
Do outro lado, os professores também passam por um processo de aprendizado contínuo. Recebem formação e acompanhamento para compreender como a IA pode ser aliada no planejamento pedagógico, na análise de dados e na personalização das aulas. Quando usada de forma consciente, ela ajuda o docente a enxergar o aluno por inteiro – suas potencialidades, ritmos e desafios – e a traçar caminhos mais eficazes para o desenvolvimento de competências e habilidades.
Nos últimos anos, percebemos que a resistência inicial dos educadores frente à IA vem diminuindo. Aquela desconfiança de que a tecnologia poderia substituir o professor está sendo superada por uma compreensão mais ampla: a IA não tira o valor do humano, ela o potencializa. A tecnologia não é um fim em si mesma, mas um meio para ampliar o alcance do ensino, para abrir portas que antes pareciam inalcançáveis.
Estamos apenas começando a explorar esse novo universo. A inteligência artificial na Educação não é um modismo – é um convite à inovação com propósito, à aprendizagem significativa e à formação de cidadãos éticos, críticos e criativos. E, sobretudo, é um lembrete de que, por mais avançadas que sejam as máquinas, nada substitui o brilho do olhar de um aluno quando ele realmente compreende algo novo.
Roberta Guimarães é pedagoga, mestre em Educação, com MBA em Tecnologias Educacionais e diretora do Colégio Adventista Taquaral – Campinas.











