As contribuições do Dr. Sebastião de Moraes para a criação do Sistema Único de Saúde começam bem antes de o SUS existir. Ele foi secretário de Saúde de Campinas no primeiro mandato do prefeito Chico Amaral, entre 1977 e 1982, e ajudou a transformar princípios da Reforma Sanitária em práticas concretas, num período em que o tema ainda não ganhava força em Brasília.
A saúde pública campineira já estava à frente do que viria a se tornar política nacional. O Dr. Sebastião defendia a municipalização da saúde antes mesmo de existir legislação que a regulamentasse, sustentando que o cuidado com as pessoas precisa estar nas mãos do município, próximo da comunidade. Campinas provou que isso era possível, assumindo responsabilidades que a maioria dos municípios sequer cogitava naquele momento.
Foi também o Dr. Sebastião quem reorganizou o modelo de atenção com foco na comunidade, fortalecendo a atenção primária, ampliando a rede de Centros de Saúde e estruturando um sistema que funcionava perto das pessoas. Rompia com a lógica hospitalocêntrica predominante no país. Campinas tornou-se um dos laboratórios vivos da Reforma Sanitária, ao lado de Niterói e Montes Claros, demonstrando que descentralizar, organizar o território e priorizar a prevenção produz resultados concretos.
A Secretaria de Saúde daquela época tornou-se um polo de formação de profissionais que futuramente influenciariam o SUS nacional. Nomes como o de Nelson Rodrigues dos Santos, sucessor de Sebastião e figura fundamental na consolidação da política pública, foram diretamente impactados pela experiência campineira.
Há também um aspecto pessoal que marca a memória política desse período. Meu pai costumava levar minha irmã e eu aos jogos do Guarani. Mesmo fora do período eleitoral, o prefeito Chico Amaral estava sempre nas arquibancadas, sentado no meio do povo. Em um desses jogos, ele estava acompanhado do secretário de Saúde, Dr. Sebastião de Moraes.
Meu pai, como bom trabalhador, aproveitou para entregar o cartão da serralheria. Essas lembranças retornam agora, num momento em que Campinas discute novamente sua política de saúde.
Para entender o presente, fui perguntar ao meu avô Liberato como era naquela época. Ele lembrou imediatamente do período de Dr. Sebastião, cuja gestão foi referência nacional. O legado do Dr. Sebastião de Moraes está em ter provado, com gestão e coragem política, que um sistema universal e equitativo pode nascer no município.
O SUS não surgiu do nada; suas raízes estão profundamente ligadas a experiências como a que Campinas viveu sob sua liderança.
Vanessa Crecci é pedagoga e doutora em educação pela Unicamp. Coordenadora do Observatório da Educação Campineira. Professora da rede municipal de educação de Campinas.







