Os ataques racistas e aporofóbicos (desprezo a pobres) protagonizados por estudantes de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) contra alunos da Universidade de São Paulo (USP), durante os Jogos Jurídicos, realizados na cidade de Americana, no último sábado, seguem provocando reações de espanto e indignação.
Entidades de defesa dos direitos humanos, parlamentares e estudantes de outras faculdades vêm se pronunciando publicamente sobre o assunto. De forma unânime, essas vozes expressam repúdio aos ataques e comentam que o racismo no Brasil segue forte e resiliente.
Além disso, observam que a visão de parte da sociedade contra cotas e políticas de afirmação social e educacional mantém-se viva, sobretudo em estratos sociais elitistas.
As ofensas ocorreram durante uma partida de handebol. Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram gritos e cantos contra estudantes da USP, uma universidade pública. Os estudantes da PUC-SP, uma instituição particular, usaram termos “cotistas” e “pobres” de forma pejorativa, numa tentativa de descredibilizar o acesso desses estudantes a uma instituição de Ensino Superior.
Tanto USP quando PUC-SP repudiaram os ataques e reforçaram que mantêm programas internos de conscientização sobre tolerância, diversidade e bom relacionamento entre pares, sempre com o intuito de respeitar as diferenças.
A USP, por exemplo, acrescentou que o ambiente universitário é de congregação, jamais divisão.
Os estudantes identificados por imagens estão sendo punidos em seus ambientes de trabalho. Pelo menos dois escritórios de advocacia que empregavam esses alunos como estagiários condenaram o episódio e demitiram os acusados. Essas empresas reforçaram que não toleram atitudes racistas e discriminatórias.
Deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e membros do MInistério Público também estão se movimentando para debater o tema e propor formas de punição, reparação e conscientização.
A nota da USP
“São manifestações absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições”, escreveu nota da USP. Para a diretoria, o espaço universitário deve servir como um canal de reparação e transformação, no que diz respeito à segregação.
A instituição informou ainda que buscará converter o acontecimento em “um marco para o fortalecimento de uma cultura de respeito, equidade e inclusão em nossas instituições”, intenção compartilhada pela Faculdade de Direito da PUC-SP e pelos Centros Acadêmicos XI de Agosto e 22 de Agosto, das duas instituições, que também assinam o informe.
“Festas e jogos universitários devem ser momentos de integração, congraçamento e solidariedade, não de ódio, violência e intolerância, como não raramente se vê. A luta pela superação de uma cultura de violência nesses espaços depende do engajamento de todos e todas”, acrescentam.
“Além da responsabilização dos envolvidos, é indispensável avançarmos na direção de políticas preventivas e de acolhimento. Planejamos implementar protocolos que fortaleçam ouvidorias, promovam a prevenção e a educação antirracista e assegurem um ambiente inclusivo e respeitoso para todos os alunos e alunas. Essa é uma demanda frequente da comunidade acadêmica, que exige ações concretas e eficazes.”
A nota da PUC-SP
Já a reitoria da PUC-SP afirmou que “repudia com veemência toda e qualquer forma de violência, racismo e aporofobia [aversão a pobres], e lamenta profundamente o episódio”, que classificou como “intolerável”.
A instituição de ensino acrescentou que combate o racismo “a partir de uma perspectiva antirracista ativa” e que atos de discriminação “são vedados pelo Estatuto e pelo Regimento da Universidade, além de serem inadmissíveis”.
A reitoria informou, ainda, que ordenou que a Faculdade de Direito apure os fatos com o rigor necessário e responsabilize os autores dos crimes.
“A PUC-SP promove a inclusão social e racial, por meio de programas de bolsas na graduação e na pós-graduação, bem como de permanência dos estudantes bolsistas. Além disso, participa desde a criação das políticas públicas de inclusão como o Prouni [Programa Universidade para Todos] e o Fies [Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior]”, disse na nota.











