Foram horas de angústia e incerteza para a família da pequena Isabella, de apenas 3 anos. Picada por um escorpião dentro de casa, enquanto dormia, a menina chegou em estado grave ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, na noite de terça-feira (16). No trajeto de Jaguariúna a Campinas, a mãe Érika rezava, e observava os médicos tentando estabilizar o organismo da filha.
Na manhã desta quinta-feira (18), agora mais calma, Érika Almeida, de 35 anos, explicou que Isabella segue internada, mas já está no quarto e brincando. Exames laboratoriais apresentaram alterações, em razão do organismo ainda reagir contra o restante do veneno do escorpião.
“Ela está estável, já não toma mais medicamentos e segue em observação. Como deu alteração em dois exames, os médicos estão monitorando e avaliando o quadro”, explicou a mãe. A reportagem pediu informações detalhadas sobre os procedimentos adotados na paciente, mas até o momento o HC não encaminhou.
Isabella chegou em estado grave na emergência do hospital. Ela apresentava vômitos intensos, batimentos cardíacos muito baixos e quadro de hipotermia. O soro antiescorpiônico foi aplicado e o quadro da criança foi gradativamente estabilizando-se.
Em editorial, o Hora Campinas cobrou da Secretaria Estadual de Saúde a revisão do protocolo que define os locais de suporte para socorro a vítimas de escorpiões. Jaguariúna não está na lista, mesmo sendo uma cidade que é referência de atendimento para outros municípios como Holambra, Santo Antonio de Posse, Artur Nogueira e Pedreira.
O Hora entende que o governo de SP deve ampliar esses pontos diante da adaptação do escorpião aos ambientes urbanos, deixando famílias cada vez mais vulneráveis em suas casas.
Cenas de desespero
No entanto, o hospital não é referenciado pela Secretaria Estadual de Saúde para aplicação de antídotos contra veneno de peçonhentos, e por isso, há sempre a necessidade de transferência ao HC da Unicamp.
A Associação Beneficente Cisne, empresa que faz a gestão da saúde em Jaguariúna, informou que no caso de Isabella foram cumpridos todos os protocolos de assistência, estabilização da paciente e transporte à unidade de saúde de referência indicada pela rede estadual.
No desespero em socorrer a filha, Érica não imaginou que o hospital local não teria o soro antiescorpiônico.
“Qualquer minuto pode custar a vida. É inadmissível que uma cidade como Jaguariúna não tenha esse soro”, desabafou Érica, que trabalha como operadora de caixa.
Em novembro do ano passado, a família de Artur Carvalho, de três anos, passava pelo mesmo desespero em salvar o menino. Também procuraram atendimento em Jaguariúna, mas infelizmente a criança não resistiu e faleceu na internação do HC.
Em nota, a Associação Beneficente Cisne, responsável pela gestão do Hospital Municipal Walter Ferrari, reforçou que não pode ser responsabilizada pela ausência do soro.
Segundo a entidade, “o envio de soro antiescorpiônico aos Municípios segue a Deliberação CIB 14/2019, documento oficial do Estado de São Paulo que organiza as referências regionais para esse tipo de atendimento. Ressaltamos que todo soro antiofídico é fornecido exclusivamente pelo Ministério da Saúde, não sendo permitida sua aquisição direta pelos municípios ou entidades gestoras”.
Sobre o hospital de Jaguariúna não ser referência regional para aplicação do antídoto, a Cisne respondeu: “Havendo êxito na negociação do insumo junto à Secretaria de Estado da Saúde e na destinação do soro ao município, o Hospital Municipal Walter Ferrari estará integralmente disponível para apoiar todas as condutas definidas pelo município”.
Sobre o caso de Isabella, a nota diz que foram seguidos todos os protocolos de assistência, estabilização e transporte de urgência, garantindo a continuidade do atendimento conforme previsto pela rede estadual.
“Lamentamos profundamente o sofrimento da criança e de seus familiares e reiteramos nosso compromisso com a verdade, a transparência e o respeito à população”, conclui o texto.
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