Após um histórico de controvérsias que se arrasta desde o início do ano, Campinas chegou a um consenso a respeito do manejo das árvores do Bosque dos Jequitibás. Na tarde desta quarta-feira (12), a presidente do Conselho Municipal do Meio-Ambiente (Comdema), Maria Helena Novaes Rodrigues, entregará ao secretário de Serviços Públicos (SSP), Ernesto Paulella, o documento que aponta as intervenções necessárias no espaço, um dos principais pontos de lazer da cidade. O Bosque está fechado desde janeiro por medidas de segurança a ainda não há previsão de reabertura.
O início do trabalho de remoção e podas das árvores, no entanto, ainda depende de uma autorização do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat). O Comdema enviou um ofício ao órgão na segunda-feira reforçando o pedido de permissão. O Bosque dos Jequitibás é patrimônio estadual tombado desde 1970.
O documento recebido pela SSP é o resultado de um estudo solicitado pelo Comdema, Ministério Público do Estado de São Paulo e Câmara Municipal por meio de uma Comissão Especial de Estudo. O laudo de 173 páginas e concluído no dia 2 de maio se contrapõe ao emitido anteriormente pela SSP, que previa a intervenção em 111 árvores – extração de 108 e podas em três.
Já de acordo com o estudo posterior assinado por um grupo de biólogos, agrônomos e engenheiros florestais aponta a necessidade de remoção de 75 árvores. Após relutância, a SSP aceitou reduzir o número de exemplares a serem extraídos.
A secretaria se manifestou em nota na última segunda-feira (10): “A Secretaria Municipal de Serviços Públicos esclarece que fará, inicialmente, a remoção de 75 árvores no Bosque dos Jequitibás, em comum acordo com o relatório da Comissão de Estudos da Câmara dos Vereadores, e reavaliará a situação das outras 36 árvores, individualmente, do ponto de vista técnico, durante o período de manejo. Importante ressaltar que o manejo das árvores do Bosque só poderá ter início quando for autorizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico (Condephaat), ligado ao governo do Estado, porque o parque é tombado nas instâncias municipal e estadual. Até este momento, o Condephaat não deu o aval para que este trabalho tenha início.”
Mais de 1.700 árvores nativas precisão ser replantadas
O estudo aponta ainda que o número indicado de extrações obrigará a Prefeitura a fazer o plantio de 1.723 árvores nativas no Bosque, como forma de compensação ambiental exigida pela legislação (decreto 18.859 de setembro de 2015).
Uma das sugestões do documento é que parte dessa ação seja realizada na denominada “Trilha da Figueira”, que liga a Grande Figueira, na entrada do Bosque, até o Museu de História Natural.
“É uma trilha que está inutilizada, com chão batido e vai servir para o plantio de muitas mudas”, diz o engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Júnior, um dos que assinam o estudo. “Tem ainda uma área de nascente que está ocupada por uma espécie exótica invasora. Nós recomendamos a remoção dessa espécie, o que vai abrir espaço para o replantio também.”

De acordo com simulação feita pelo estudo, o Bosque ficaria descaracterizado caso os manejos seguissem as indicações do laudo da SSP. Os possíveis cenários apontariam para a “formação de clareiras, perda de sombreamento e ocorrência da entrada adicional de iluminação solar, alterando a dinâmica florestal estabelecida”.
Histórico e morte
A polêmica envolvendo ambientalistas e a SSP a respeito dos manejos das árvores do Bosque dos Jequitibás é antiga e foi reforçada depois da queda de uma figueira em 28 de dezembro de 2022 que matou um técnico em eletrônica de 35 anos.
A árvore caiu sobre seu carro na Rua General Marcondes Salgado. A realização de um estudo técnico dentro do espaço foi motivada pelo acidente.
O Bosque está fechado desde 24 de janeiro, quando a queda de um eucalipto na Lagoa do Taquaral causou a morte de uma menina de 7 anos e determinou a interdição de todos os 25 parques públicos da cidade. A reabertura foi acontecendo aos poucos e hoje somente o Bosque dos Jequitibás e o Bosque dos Artistas seguem fechados.