Nasci nesta linda cidade, no bairro do Bonfim, onde tive uma infância maravilhosa. Mesmo tendo me mudado, alguns anos depois, para o bairro Cambuí, continuava indo ao Bonfim com minha mãe para visitar meus avós, primos e amigos. Até hoje costumo passar pela rua onde nasci. Foi ali que tive meu primeiro grande ensinamento — e por isso gosto de me intitular “vira-lata”. Explico: era um moleque travesso, com liberdade para ir à casa dos tios, ajudar um primo na oficina ou brincar com os outros inventando carrinhos e outras traquinagens. Um dos maiores prazeres que eu tinha era empinar pipa, mas sem rabo — talvez a minha melhor arte de vida. As múltiplas experiências que tive com muitos imigrantes do bairro me trouxeram inúmeros aprendizados que ajudaram a me virar em diferentes desafios.
Minha ligação com Campinas vem de muito antes de mim. Meus bisavós e avós, que chegaram da Europa em busca de uma vida melhor, encontraram nesta cidade fértil o espaço para recomeçar. No tradicional Mercadão, montaram um empório de vendas de café — mas, na verdade, foi lá que aprenderam que, mais do que vender, era preciso saber servir. Esse aprendizado nos acompanha até hoje.
Mais tarde, meu bisavô abriu um pequeno posto de gasolina e, após a morte repentina de seus pais, foi ali que meu pai passou a trabalhar. O espírito empreendedor da família germinou com força. Com o aumento da frota de carros, meu pai passou a atuar também no ramo de pneus, sempre acompanhando as transformações da cidade com dedicação e visão de futuro.
E é em Campinas que desejo morrer. Aqui estão todos os meus amigos, a quem devo muito desde os tempos da escola Progresso, passando pelo Ateneu Paulista, pelo curso técnico do Instituto Nobel de Tecnologia e, mais tarde, pelo CEAG da Fundação Getúlio Vargas em parceria com a PUC-Campinas. Desde criança, tive a oportunidade de estar sempre presente com meus pais no Lar dos Velhinhos, no Bonfim. Também os acompanhava no Instituto Dom Nery, que acolhia meninos sem pais, onde eu ajudava nas oficinas de aprendizado e consertava, com minha mãe, máquinas de costura.
Nas escolas por onde passei fiz muitos amigos — e até hoje mantenho laços com alguns, verdadeiros amigos inseparáveis. Muito jovem, comecei a trabalhar com meu pai e passei a estudar à noite no curso técnico industrial. Meus colegas de aula eram, em sua maioria, profissionais de diversas empresas de Campinas, que buscavam o curso técnico para avançar em suas carreiras.
No meu caso, o sonho era me tornar engenheiro de pesquisa em física e engenharia, na Universidade Federal de São Carlos, mas o caminho acabou sendo outro — e nada tenho a reclamar, só agradecer. Pude estudar e trabalhar com o que mais desejava: pesquisa e serviços inovadores, sempre buscando servir melhor os nossos clientes.
A combinação entre a escola técnica, os colegas profissionais e as oportunidades que tive de buscar soluções modernas permitiu que eu aprendesse rapidamente coisas que, na época, nenhuma empresa ainda aplicava. Por também estar muito conectado com outros jovens de um clube de serviço, o Lions — onde meu pai era presidente —, pude fazer amizades e participar de ações sociais, inclusive na criação de festas beneficentes em apoio a diversas entidades sociais da nossa cidade. Foi um aprendizado muito prazeroso, que me aproximou dos desafios e das oportunidades da atividade empreendedora no campo educacional.
Quero crer que Campinas, para mim, foi a cidade perfeita — pelo seu tamanho, pelas escolas maravilhosas, pelos clubes de serviço e, sobretudo, pelas pessoas incríveis com quem tanto aprendi.
Também sou grato ao Instituto Agronômico, que muito me ensinou, naquele espaço de ciência, que pratico até hoje. Aos 78 anos, afirmo com convicção: sou grato — imensamente grato — por ter feito tantos amigos, incluindo minha querida esposa, Renata: amiga, namorada e companheira, mãe de nossas duas filhas. Onde quer que vamos, sempre encontramos alguém especial, com quem trocamos memórias gostosas.
Devo muito a esta cidade e, por mais que tente retribuir, jamais conseguirei devolver tudo o que ela me ofereceu: respeito, amizades verdadeiras, carinho, estudo e oportunidades inimagináveis. Obrigado, Campinas!

Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar