Em uma das manhãs mais geladas desse Inverno em Campinas, em meio a casacos e passos rápidos atravessando o Largo do Rosário, Alexandre Campanhola segura firme o celular no vento gelado, e fotografa mais uma vez a histórica casa onde abriga as receitas do Giovanetti, há quase 90 anos. A intenção com o registro é comparar as fotos do passado com as do presente, e levar esse emparelhamento da memória visual, ao mundo virtual.
Com o fascínio histórico que tem pelas esquinas do Centro e por outras regiões simbólicas, há mais de uma década esse cronista e memorialista de 42 anos constrói, de maneira voluntária, um importante acervo de conteúdo histórico para as redes sociais. O passado gera lembranças, e com essa iniciativa Alexandre tem conquistado seguidores que possuem o mesmo amor por Campinas.
À frente da página Campinas, meu amor! — frase que também estampa a camiseta que costuma usar em suas caminhadas pelo Centro — desde 2012 ele transforma esquinas, fachadas, nomes de ruas e pequenos detalhes do cotidiano urbano em histórias que ganham vida nas redes sociais.
O produtor de conteúdo digital disponibiliza duas páginas para os seus seguidores: uma no Instagram e outra no Facebook. É só seguir!

“Eu comecei tudo isso por acaso. Tinha acabado de sair de uma óptica com lentes novas para a miopia, quando olhei para a placa da Rua Regente Feijó. Enxerguei perfeitamente e aquilo despertou em mim uma curiosidade: quem foi Regente Feijó? E os outros nomes que lemos todos os dias, sem saber quem são?”, lembra Alexandre.
A curiosidade virou vocação. Desde então passou a pesquisar em bibliotecas, caminhar pelo Centro e arredores e registrar, em imagens e textos, o que muitos campineiros sequer notam. Locais como a esquina das ruas General Osório e Barão de Jaguara, onde fica o primeiro sobrado da cidade — construído ainda no século XVIII pelo ituano Pedro Gonçalves Meira —, são personagens recorrentes em suas crônicas. “Pedro Meira fundou posteriormente Indaiatuba, em 1813”, recorda Campanhola.
As histórias surpreendentes que ele descobre — como as touradas realizadas no início do século 20 no Coliseu Taurino, na esquina da César Bierrembach com Irmã Serafina — alimentam a paixão dos seguidores, muitos dos quais se dizem redescobrindo a cidade através de suas postagens.
“As publicações que mais geram engajamento são justamente aquelas que revelam o inesperado. Pouca gente imagina que Campinas já teve arena de touradas!”, diz.
Para Alexandre, preservar a história é fundamental para o pertencimento.
“Pra cidade ser valorizada e amada, ela precisa preservar sua história. A gente vê Campinas recebendo gente de fora, mas sem transmitir a sua identidade. Se você não conhece a história de uma cidade, é como não conhecer sua própria família. Você se sente um estranho.”
A Rua Barão de Jaguara – onde aproveitamos para tomar um café no Regina para espantar o frio – é considerada por ele como um símbolo de memória. Ali se cruzam construções importantes, histórias políticas, religiosas e comerciais. “Ela é um verdadeiro eixo da história de Campinas. É uma rua que ainda pulsa, mesmo com toda a descaracterização dos últimos tempos.”

A MEMÓRIA URBANA
Crítico da falta de políticas públicas de preservação, Alexandre lamenta o que define como um apagamento da memória urbana:
“Campinas pecou muito desde a década de 1930 com o plano Prestes Maia, que sacrificou palacetes e casarões históricos. Hoje, o Centro poderia ser um polo turístico — já que não tem mais o mesmo fôlego comercial —, mas não há segurança, não há atratividade. A cidade perdeu oportunidades”, avalia.
Inspirado por cronistas como Zeza Amaral, e por iniciativas como o blog Pró-Memória de Campinas, de João Marcos Fantinatti, ele quer devolver à cidade o valor do passado.
Técnico em eletrônica, Alexandre trabalhou por mais de uma década em uma empresa multinacional, mas foi desligado há mais de meio ano. Desde então dedica-se à página, a cursos de programação e mídia e marketing digitais e aos patrocínios para a página Campinas, meu amor.
O cronista é autor de dois livros, o Campinas Assim e A Flor do Romantismo (ambos pela UICLAP), publicados no segunda semestre do ano passado.
O mais recente é o eBookA Fundação de Campinas, e na sequência virá uma publicação sobre as maiores tragédias de Campinas. Sem ainda se decidir se volta ao mercado de trabalho ou empreende, a preferencia é empreender na área digital.
Enquanto isso, ele continua com suas andanças, fotografando fachadas antigas, decifrando placas de rua, desvendando histórias perdidas em esquinas esquecidas. E, claro, sempre vestindo a camiseta com os dizeres que viraram lema: Campinas, meu amor!.











