Estreia na noite deste sábado (25), em sessão única às 20h, no espaço Rabeca Cultural, em Sousas, o documentário “Os Labirintos de Stanley Kubrick”, com direção, roteiro e edição do cineasta campineiro Hamilton Rosa Jr. A entrada é franca e, ao final da exibição, haverá bate-papo com o responsável pela produção, viabilizada pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do Governo do Estado de São Paulo.
Com 56 minutos de duração, o filme traz imagens exclusivas doadas pela família de Stanley Kubrick a Universidade das Artes de Londres (UAL), na Inglaterra, e esmiúça toda a obra do lendário diretor de cinema norte-americano, desde a época em que trabalhava como fotógrafo da revista Look até a sua consagração com filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), “Laranja Mecânica” (1971) e “O Iluminado” (1980). Kubrick morreu no dia 7 de março de 1999, aos 70 anos. A data está prestes a completar 24 anos, no início do mês que vem.
“O documentário traz muitas imagens raras e revelações interessantes, como a paixão de Kubrick pelo jazz. Ele era um baterista frustrado, além de um excelente jogador de xadrez. Nos sets de filmagem, estava sempre jogando com alguém da equipe”, revela Hamilton Rosa Jr, sobre algumas curiosidades da vida do falecido cineasta que entrou para a história.
“A pesquisa para produzir o documentário levou mais de um ano. Era um trabalho de encomenda para um edital do governo do Estado que eu pretendia reorganizar, baseado num curso que ministrei sobre o cineasta norte-americano, mas ao reestruturar o projeto, o tema foi se expandindo”, explica Hamilton Rosa Jr.
O resultado do trabalho, que levou o documentarista campineiro a visitar inclusive o material doado pela família do importante cineasta à Universidade das Artes de Londres (UAL), será apresentado pela primeira vez ao público neste fim de semana, em première realizada em Campinas.
O documentário “Os Labirintos de Stanley Kubrick”, produzido pelo campineiro Hamilton Rosa Jr., começa tocando no valor das raízes fotográficas do famoso cineasta quando jovem. Em seis anos clicando para reportagens da revista Look, o então fotógrafo produziu um acervo que beira quase 12 mil fotografias. Nesta primeira fase, o que chama a atenção é o sentido observacional de Kubrick, e um certo humor em capturar instantâneos do cotidiano.
“A carreira de Stanley Kubrick é tão rica e abrangente que, mais de 20 anos após a sua morte, o cinema ainda está classificando o escopo de sua genialidade”, comenta o professor e cineasta campineiro Hamilton Rosa Jr., autor do novo documentário “Os Labirintos de Stanley Kubrick”.
Ao todo, o material subdivide a obra de Stanley Kubrick em cinco fases. A primeira, como citado acima, traça um retrato do artista jovem. A segunda desdobra-se sobre as experiências nos curtas-metragens e nas tentativas iniciais de produzir um longa. A terceira, por sua vez, mostra sua consolidação como cineasta de uma obra autêntica com filmes como “O Grande Golpe” (1956) e “Glória Feita de Sangue” (1957).
Já a quarta fase do documentário retrata a ousadia e reinvenção de Stanley Kubrick, iniciando-se com “Lolita” (1962), passando por “2001” (1968), “Laranja Mecânica” (1971), “Barry Lyndon” (1975) e terminando em “O Iluminado” (1980). Por fim, a quinta fase analisa os filmes finais do diretor: “Nascido Para Matar” (1987) e “De Olhos Bem Fechados” (1999).
“Não importa apenas a emoção de revisitar essas obras-primas. Há apelo suficiente para incitar um mergulho mais profundo. Alguns podem achar sombrias as avaliações de Kubrick sobre a natureza da civilização, mas existe sempre um humor negro sobre tudo o que o cineasta planeja”, comenta Hamilton Rosa Jr.

Nos últimos anos, houve documentários suficientes para sugerir um subgênero florescente baseado no apelo de Stanley Kubrick, da biografia convencional “Stanley Kubrick: Uma Vida em Imagens” ao ensaio do francês Michel Ciment [“Conversas com Kubrick], em cima de quatro entrevistas feitas em “Kubrick por Kubrick”. E ainda o sentimental “Kubrick Remembered”, produzido pela viúva Christiane Kubrick, até o mergulho na teoria da conspiração “Quarto 237”, que traz especulações por trás do processo de criação de “O Iluminado”. Mas Hamilton Rosa Jr. garante que as histórias por trás do contador de histórias não cessam de produzir material.
“O homem parece não ter a inteligência para pensar uma maneira de sair da armadilha atual em que se encontra”, disse certa vez o cineasta Stanley Kubrick, resumindo anos de trabalho em uma única frase.
Assim como Stanley Kubrick valorizava os ideais artísticos filmando apenas quando tinha certeza de que o roteiro estava acabado, e produzindo apenas 13 longas-metragens em 46 anos, o novo documentário “Os Labirintos de Stanley Kubrick” não se atém apenas à visão geral e cronológica.
De acordo com Hamilton, trata-se de uma destilação, procedendo organicamente em cima das imagens. Um convite para uma revisão, como fazemos quando espalhamos as fotos de um álbum de família, para repensar o sentido de nossa história. “O documentário é melhor apreciado como uma espécie de meditação sobre o investimento do cineasta maior em sua arte”, descreve.
Como realizador, Stanley Kubrick teve um impacto significativo em muitos diretores, que tentaram imitá-lo ou referenciá-lo, como Steven Spielberg, Martin Scorsese e Christopher Nolan, só para citar três. Em um mundo progressivamente militarizado e tecnificado, Kubrick continua parecendo altamente relevante.
A engenhosidade inquieta no coração do trabalho do cineasta e seu desejo palpável de encontrar novas possibilidades de contar histórias a cada vez encontram paralelos em muitos poucos diretores na história da sétima arte. “Você vê cineastas fazendo isso por dois ou três filmes, mas manter essa coerência de reinvenção por mais de 40 anos, só encontramos em Bergman, Fellini e Kurosawa”, aponta Hamilton Rosa Jr.
Stanley Kubrick pode não ter formulado todos os aspectos de seu gênio em 70 anos de vida, mas os filmes que ele fez falam por si mesmos, e este documentário reverencial é outra desculpa bem-vinda para revisitá-los.
Sobre a estreia do documentário “Os Labirintos de Stanley Kubrick”:
Direção, Roteiro e Edição: Hamilton Rosa Jr.
Quando: 25 de fevereiro (sábado), às 20h.
Onde: Espaço Rabeca Cultural, em Sousas, com entrada franca e bate-papo com o diretor após a exibição.
Endereço: Av. Dona Maria Franco Salgado, 250 – Jardim Atibaia (Sousas), Campinas.