Quando Márcia Neves da Silva entrou em um dos quartos da enfermaria Neuro-ortopédica do primeiro andar do Hospital Mário Gatti com seu carrinho azul e todos os itens que usa para exercer sua função como cabeleireira, a paciente Divina Ferreira Gonçalves, 90 anos, que coincidentemente completava nove décadas de vida no mesmo dia, comemorou o presente de aniversário que estava ganhando.
“Vou sair daqui de cabelo cortado e arrumado, que delícia!”, celebrou a senhora, que aguardava para fazer uma cirurgia ortopédica e ficou satisfeita com o mimo inesperado que a cabeleireira fez para ela. “Adorei a surpresa. Estou tão feliz que a dor na perna até passou. Não pensei que eu ia ser tratada com tanto carinho no dia do meu aniversário”, disse a paciente com um sorriso divinamente grato.
Márcia é cabeleireira há 30 anos e há 5 faz trabalho voluntário no hospital Mário Gatti. Sempre às segundas-feiras, a cada 15 dias. Com um olhar acolhedor, ela chega de mansinho, conversa com os pacientes e oferece um corte de cabelo, um penteado, uma massagem nos pés ou mãos, ou simplesmente a escuta ativa para ouvir as mais diversas histórias.
“Uma vez eu cortei o cabelo de um senhor cego, e ele cantou o tempo todo pra mim. São histórias e momentos para guardar na memória. É muito gratificante doar tempo, amor, e carinho. Ver a satisfação, a alegria da pessoa quando recebe esse toque de afeto é uma sensação boa demais. Oferecer um trabalho como voluntária é receber em dobro”, afirmou.
Sempre equipada com máscara, luvas e seguindo os protocolos do hospital, Márcia prepara o paciente para o corte de cabelo colocando uma capa em volta do pescoço, e ao mesmo tempo que é cuidadosa em cada tesourada, mantém o diálogo sempre aberto com cada um.
Sentado em uma cadeira, o porteiro Sebastião Luiz da Silva estava muito à vontade enquanto a voluntária dava os últimos retoques no corte de cabelo. Ele contou que em 2024 fez uma cirurgia no fêmur direito para colocar uma prótese, e estava de volta ao hospital para fazer a cirurgia do outro lado do quadril.
“Estava ansioso pela operação, mas agora já dei uma relaxada com essa boa surpresa do corte de cabelo. Vou sair da cirurgia com prótese e cabelo novo. O pessoal aqui no Mário Gatti é atencioso e o atendimento é muito bom. Só tenho gratidão”, disse com um sorrisão.

Impactos positivos
O trabalho voluntário em hospitais tem impactos positivos. Contribui para a humanização dos cuidados, melhora o bem-estar dos pacientes e auxilia no desenvolvimento pessoal dos voluntários.
Segundo Karina Graciela Suzigan, coordenadora da enfermagem do setor de neuro-ortopedia do hospital Mário Gatti, o trabalho voluntário, como o de Márcia, tem impactos significativos na vida do paciente que está em tratamento e passa por desafios enquanto está internado.
“O cuidado com o cabelo melhora a autoestima, fortalece a identidade e traz um pouco da normalidade do dia a dia para dentro do hospital. Além disso, há os benefícios físicos, como conforto e uma higiene mais adequada”, citou.
E como gentileza gera gentileza, Márcia criou uma rede de apoio voluntária que inclui clientes do salão e outras pessoas que sabem do trabalho que ela realiza no Mário Gatti. Ela leva materiais de higiene pessoal como xampu e condicionador de seu salão e outros itens de higiene pessoal. Tudo é doado para os pacientes internados com quem tem contato.
“Quero incentivar outras cabeleireiras a fazerem parte desse grupo de voluntariado, porque é uma ação solidária que ajuda pessoas que estão em um momento delicado e traz uma realização pessoal que faz muito bem”, ressaltou.
Toque de carinho
O Toque de Carinho é um dos projetos que envolvem voluntariado na rede Mário Gatti. A ação é desenvolvida pelo setor de Humanização, com o objetivo de melhorar a autoestima do paciente que está internado nos hospitais Mário Gatti e Ouro Verde. Para fazer parte do projeto, é preciso atender alguns critérios, como ser cabeleireiro, ter boa comunicação e estar comprometido com boas práticas de higiene.
Segundo Lucimeire Graziela Martini, coordenadora do setor de Humanização da rede Mário Gatti, o projeto Toque de Carinho busca voluntários cabeleireiros que queiram doar um pouco do seu tempo e talento para levar autoestima, alegria e carinho aos pacientes. “Com pequenos gestos – como um corte de cabelo ou um simples toque de atenção- é possível fazer uma grande diferença na vida de quem está em tratamento. Se você acredita no poder do cuidado e da solidariedade, venha ser um voluntário do nosso projeto”, ressaltou Lucimeire.
Além de receber novos voluntários, o setor de Humanização da rede Mário Gatti desenvolve uma campanha permanente de arrecadação de produtos de higiene pessoal: xampu, condicionador, creme dental, escova de dentes, desodorante e hidratante. Para quem se interessar em ser voluntário e fazer doações, é só entrar em contato pelo telefone: (19) 3772 58 80, das 8h às 16h de segunda à sexta-feira, ou pelo e-mail: humanizacao@hmmg.sp.gov.br











