A disputa política em torno da prisão da vereadora Mariana Conti (PSOL), detida em Israel após participar da Flotilha Global Sumud, ganhou novos capítulos nesta segunda-feira (6), com o anúncio do vereador Nelson Hossri (PSD) de que pretende protocolar uma Comissão Processante (CP) para investigar possível quebra de decoro parlamentar pelo afastamento em razão da viagem.
O pedido provocou fortes reações da bancada de esquerda durante a sessão da Câmara de Campinas nesta segunda-feira (6).
Enquanto a tensão crescia no Legislativo, chegaram informações de que os 131 ativistas detidos em Israel foram deportados para a Jordânia, entre eles a vereadora de Campinas e mais 12 brasileiros (Veja abaixo).
O Itamaraty confirmou na manhã desta terça-feira (7) que os brasileiros estavam sendo levados a Amã, capital da Jordânia, em veículo providenciado pela Embaixada brasileira no país.
Pedido de CP
O vereador Nelson Hossri disse durante a sessão ordinária que vai protocolar nesta terça-feira (7) o pedido de abertura de Comissão Processante (CP) contra a vereadora Mariana. Segundo ele, a proposta visa apurar possível quebra de decoro parlamentar, já que a vereadora foi detida em Israel após participar da Flotilha Global Sumud.
“Campinas enfrenta inúmeros problemas locais. É inaceitável que uma vereadora abandone suas funções e use o cargo para se promover em uma operação internacional questionada por autoridades estrangeiras”, declarou.
Hossri sustenta que as embarcações da flotilha “transportavam poucos mantimentos” e que Israel classificou a missão como ligada a organizações armadas.
“A vereadora está há mais de um mês fora, o que é incompatível com o decoro. Agora volta como a mascote do Hamas. Aqui é sujeito homem: quando é para abrir uma CP, eu mesmo abro. Estou dando a cara pelo povo de Campinas”, disse.

Reação
As declarações e publicações de Nelson Hossri e seu colega Vini Oliveira (Cidadania) nas redes sociais geraram indignação entre vereadores do PT e do PSOL, que reagiram com discursos duros no plenário.
A vereadora Fernanda Souto (PSOL) classificou Vini Oliveira como “moleque” e acusou o parlamentar de divulgar mentiras sobre a flotilha:
“Quero repudiar a atitude de Vini Oliveira, que foi às redes sociais disseminar mentiras sobre a flotilha, dizendo que estava levando drogas. É uma vergonha. Nesse momento em que se expõe o que acontece em Gaza, um vereador covarde usa suas redes para espalhar fake news. Nós, da bancada de esquerda, vamos protocolar uma representação na Corregedoria da Câmara por infração ético-parlamentar contra ele.”
Fernanda também rebateu Hossri:
“Mariana Conti está em licença não remunerada, autorizada por esta Casa, dentro do Regimento. O vereador Nelson Hossri, acostumado a lacrar nas redes sociais, agora quer crescer em cima dessa pauta. Nelson e Vini são dois moleques desocupados”.

As vereadoras Paolla Miguel (PT) e Guida Calixto (PT) também manifestaram repúdio às publicações e defenderam a legitimidade da viagem.
“Sou a favor da abertura da Comissão Processante que pode resultar na cassação do seu mandato, já que a senhora abandonou suas funções legislativas. Embora a senhora tenha feito de tudo para tentar me cassar por fiscalizar um hospital, isso não é vingança”, escreveu o vereador Vini nas redes sociais.
O presidente da Câmara, Luiz Rossini (PSD), reforçou que Mariana Conti está licenciada dentro da legalidade:
“A vereadora está licenciada legalmente, atendendo ao que dispõe a Lei Orgânica do Município e o nosso Regimento. Nesse período, ela não recebe vencimentos e não pode praticar atos de vereadora, mas o gabinete segue funcionando normalmente”.
Libertação e ida para a Jordânia
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) confirmou na manhã desta terça-feira (7), em Brasília, que os 13 brasileiros (foto) que integravam a Flotilha Global Sumud, entre eles a vereadora Mariana Conti, foram conduzidos até a fronteira com a Jordânia e estão livres das autoridades israelenses. A liberação ocorre exatamente no dia em que completam dois anos do início da escalada de violência na guerra em Gaza.
“Diplomatas das embaixadas em Tel Aviv e em Amã receberam os ativistas que estão, nesse momento, sendo transportados para a capital jordaniana em veículo providenciado pela embaixada brasileira naquele país”, informou – por meio de nota – o Itamaraty.
Além da vereadora de Campinas, integram o grupo a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), Thiago Ávila, Bruno Gilga, Lisiane Proença, Magno Costa, Ariadne Telles, Mansur Peixoto, Gabriele Tolotti, Mohamad El Kadri, Lucas Gusmão, João Aguiar e Miguel Castro.
Segundo o Movimento Global à Gaza, a informação da liberação dos ativistas foi repassada ao Centro Jurídico para os Direitos das Minorias Árabes em Israel (Adalah, justiça em árabe), ainda na noite de segunda-feira (6), quando foi avisado que todos os remanescentes da flotilha deixariam a prisão de Kesdiot, no deserto de Negev, instalação localizada entre Gaza e o Egito.
De acordo com o informe, os ativistas foram transportados pela Ponte Allenby/Rei Hussein pelas autoridades israelenses até a fronteira, sem direito a comunicação ou interação da diplomacia internacional. A assistência só pode ser dada após a chegada no país vizinho.
A delegação brasileira da Flotilha Global Sumud foi capturada pelas autoridades israelenses desde o início do mês de outubro, quando tentava romper o cerco a Gaza transportando ajuda humanitária em 50 embarcações.
A interceptação em águas internacionais foi considerada ilegal e arbitraria pelo MRE, que chegou a notificar formalmente o governo de Israel por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv e da Embaixada de Israel em Brasília.
* Com informações da Agência Brasil