Por Kátia Camargo
Especial para o Hora Campinas
Quem gosta de ler sabe bem o quanto a leitura pode libertar, transformar, informar, humanizar e até emocionar. Hoje é Dia Nacional da Leitura, mas, infelizmente, somos um país que lê pouco. Entre os anos de 2015 e 2019, o Brasil havia perdido 4,6 milhões de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2020.
Porém, para muitas pessoas, a leitura gera tamanho impacto que promove grandes revoluções. Majori Nascimento Silva, 23 anos, estudante de Ciências Sociais na UFBA, é um exemplo sobre o quanto a leitura e os livros podem impactar a vida. Ao perceber a força da leitura em sua vida, a jovem idealizou e ajudou a construir a primeira biblioteca da comunidade Chico Amaral, em Campinas.
Ela lembra que o amor pelos livros começou na infância, com seu pai contando histórias. “Mas também tive professores que me levavam para as bibliotecas e me ensinaram a amar os livros”, conta.
Nesse percurso, Majori também virou contadora de histórias e, no ano passado, a jovem escritora lançou seu primeiro livro infantil, O Jardim de Marielle. Em outubro ela vai contar sua história pela primeira vez no Tedx-Campinas.
Para ela, os livros materializam a educação. “E como isso foi muito importante na minha formação, perceber a ausência deles na educação me tocou muito”, conta. E vai além: “Tem a parte mágica da leitura, que é poder viajar sem sair do lugar, e tem a parte potente, que é trazer uma visão de mundo, a formação, o senso crítico, nos reconhecermos nos nossos espaços”, diz. Ela explica também que agora na faculdade os livros estão sendo mais potentes para ampliar, ainda mais, sua visão de mundo.
Outro bom exemplo do uso dos livros vem da professora da Escola Municipal Coronel Berthier, Heloisa Helena de Lima Santos, que, durante o período mais crítico da pandemia e após a morte precoce por acidente de um jovem do bairro, criou um programa usando o livro Diário de Uma Saudade, do projeto Leia Comigo!, da Fundação Educar, para trabalhar a questão do luto que os alunos vivenciavam, pois muitos haviam perdido mães, pais, avós e tios. O projeto ainda contou com as participações da coordenadora Renata Viana e do professor Hudson Barros.

“Escolhi o Diário de uma Saudade pois ele trata de assuntos delicados e pontuais como a saudade, a dor da perda e a morte. A leitura e todo trabalho que fizemos, antes e depois da leitura, ajudaram os alunos a externarem seus sentimentos, suas dores. No livro, a personagem principal escreve uma carta para o amigo que morrera. Nós utilizamos o recurso do papel de carta para que os alunos também pudessem escrever para alguém que fosse importante para eles”, conta Heloisa.
O projeto idealizado pela professora, e que recebeu o nome de Saudades de Você e de Mim, também contou com uma animação stop motion das palavras que expressam a dor do luto na visão dos alunos. Esse é um exemplo de como o livro passa a morar dentro das pessoas, afinal, como dizia o educador Paulo Freire, ‘ler é tomar consciência, é interpretar o mundo.”

Os professores que se interessarem podem elaborar um projeto com um dos títulos do projeto Leia Comigo! e entrar em contato no site da Fundação Educar. O projeto Leia Comigo! nasceu em 2000 e já distribuiu mais de 40 milhões de livros gratuitamente em todo o Brasil. Atualmente o projeto conta com mais de 200 títulos publicados. A iniciativa faz parte da Fundação Educar, um investimento da Cia DPaschoal.
Para se ter uma ideia, os livros editados e produzidos pelo projeto trazem conteúdos que promovem valores, diversidade, pluralidade, exercício da cidadania e têm como público-alvo escolas públicas e instituições sem fins lucrativos que atuem com a promoção do livro e a leitura para os mais diversos públicos.
Recentemente a Fundação Educar lançou também dois audiolivros, dos títulos A Galinha que Sabia Ler e Tirrim Cocoricó, que podem ser ouvidos pelo site ou no canal do Spotify da Fundação Educar. Até o final do ano serão quatro audiolivros.
Ler para imaginar
Outro projeto de incentivo e mergulho na Leitura é o Ler para Imaginar, que está sendo desenvolvido em Campinas, com apoio do ProAC. Para estimular o gosto pela leitura e escrita, entre crianças de 7 a 12 anos, foi implantado, em março de 2022, o projeto Ler para Imaginar, no Projeto Gente Nova (Progen), no bairro Cidade Satélite Íris, em Campinas. O projeto conta com oficinas de teatro e contação de histórias, roda de leitura com oficina de desenho e confecção de livros artesanais, além de atuar com recursos de telejornalismo e audiovisual.

Outra ação fundamental para concretizar os objetivos do projeto é a oferta de encontros quinzenais de biblioterapia aos familiares e responsáveis dos alunos do Progen. “A biblioterapia é uma vivência terapêutica do cuidado por meio dos livros. É quando o ato de ler se apresenta como possibilidade de autoconhecimento, fortalecimento e ampliação do universo. Tratamos de assuntos do nosso dia a dia, medos, angústias e sonhos por meio da leitura”, explica a biblioterapeuta Dioneia Tozzi, que conduz as atividades.