O Brasil lembra em 2025 os 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, que foi brutalmente assassinado em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo. Para marcar a data, a Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog realizam a recriação do ato inter-religioso na Catedral da Sé, mesmo local em que ocorreu a histórica cerimônia de 1975, que desafiou o regime militar e se consolidou como divisor de águas na luta pela redemocratização do Brasil.
É célebre a imagem de Vlado, como era carinhosamente chamado, enforcado na cela. Na época, os militares alegaram suicídio.
A versão oficial da época, apresentada pelos militares, foi a de que Vladimir Herzog teria se enforcado com um cinto, e divulgaram a foto do suposto enforcamento. Testemunhos de jornalistas presos no local apontaram que ele foi assassinado sob tortura. Além disso, em 1978, o legista Harry Shibata confirmou ter assinado o laudo necroscópico sem examinar ou sequer ver o corpo.
Em 1978 a Justiça brasileira condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Vladimir Herzog. Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente que ele foi assassinado e concedeu uma indenização à sua família, que não a aceitou, por julgar que o Estado brasileiro não deveria encerrar o caso dessa forma. Eles queriam que as investigações continuassem.
O atestado de óbito, porém, só foi retificado mais de 15 anos depois. O documento foi entregue pelo Estado para a família em março de 2013: no lugar da anotação de que Vladimir morreu devido a uma asfixia mecânica (enforcamento), no documento passou a constar que “a morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”.

A recriação do ato
Naquele ano de 1975, mais de 8 mil pessoas se reuniram na Sé para a missa de sétimo dia em homenagem a Herzog. O gesto, conduzido por líderes religiosos como o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, com o apoio do jornalista Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de SP, tornou-se marco na resistência democrática.
Cinco décadas depois, o novo ato inter-religioso será dedicado não apenas à memória de Herzog, mas também a todas as famílias que perderam entes queridos durante a ditadura.
A programação prevê acolhida a partir das 19h, com participação do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas, com a presença de Dom Odilo Pedro Scherer, da reverenda Anita Wright – filha de Jaime Wright, e do rabino Ruben Sternschein.
Apresentações culturais com grandes nomes da música brasileira acontecerão no interior da Catedral.
Além disso, a exibição de vídeos especialmente produzidos para a ocasião estão previstos, entre eles, a leitura de uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, feita pela atriz Fernanda Montenegro.
Estarão presentes no evento ainda amigos e familiares de Vlado, parlamentares, ministros, figuras públicas e José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, representando as organizações realizadoras.
O Instituto Vladimir Herzog também produziu um dossiê que apresenta um resumo da trajetória e do legado de Vlado, acompanhado de links para o Acervo do IVH, onde é possível acessar fotos, documentos e detalhes sobre a história do jornalista.
Quem foi Vlado
Vladimir Herzog, o Vlado, foi jornalista, professor e cineasta brasileiro. Nasceu em 27 de junho de 1937 na cidade de Osijsk, na Croácia (na época, parte da Iugoslávia), morou na Itália e emigrou para o Brasil com os pais em 1942. Foi criado em São Paulo e naturalizou-se brasileiro.
Estudou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e iniciou a carreira de jornalista em 1959, no jornal O Estado de S. Paulo. Nessa época, achou que seu nome de batismo, Vlado, não soava bem no Brasil e decidiu passar a assinar como Vladimir. No início da década de 1960, casou-se com Clarice Herzog.
Vladimir Herzog foi morto aos 38 anos, deixando dois filhos e a esposa.
Trabalhou no Estado de S. Paulo, BBC e Revista Visão. Foi professor de jornalismo na FAAP e na USP. Em 1975, foi escolhido pelo governo de SP para dirigir o jornalismo da TV Cultura.

 
			 
					






















