Um dos símbolos da ditadura e da repressão no Brasil está sendo vasculhado para construir a memória dos que foram torturados e talvez revelar novas histórias. Especialistas de quatro universidades do País, dentre elas a Unicamp, realizam um trabalho arqueológico e forense na sede do DOI-Codi, no Centro da Capital paulista, que futuramente se tornará um memorial do que ali ocorreu. Todas as evidências que forem coletadas no trabalho serão levadas ao Laboratório de Arqueologia Pública (LAP/Unicamp), onde ficarão até o memorial estar pronto.
O minucioso processo tem por objetivo também a busca por indícios de desaparecidos políticos durante o regime de exceção. Vários pesquisadores e alunos, além de especialistas, integram a equipe que verifica cada pedaço das antigas e sombrias instalações do Destacamento de Operação de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi. Além da Unicamp, há profissionais das Universidades Federais de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.
O prédio de 1,3 mil metros quadrados, composto por cinco blocos, recebeu durante a Ditadura suspeitos de crimes contra o governo para interrogatórios – sessões de tortura e morte. Próximo dali já existe o Memorial da Resistência, espaço destinado à documentação, preservação e comunicação das memórias da repressão e da resistência política no Brasil e também antiga sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP) – uma das polícias políticas mais abusivas do Brasil.
Paredes e chão do DOI-Codi serão escavados em busca de provas para corroborar depoimentos de cerca de 100 sobreviventes da tortura e ex-presos políticos que serão entrevistados ao longo de todo o processo, inclusive por estudantes da Unicamp.
“Lá, trabalhavam principalmente com a inteligência para identificar possíveis opositores e se antecipar às ações da esquerda. Eles consideram que tiveram muito ‘êxito’ na missão de investigação prévia, captura, tortura e assassinato de seus opositores”, disse Deborah Neves, historiadora e técnica da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (UPPH), em entrevista ao Jornal da Unicamp.
O projeto tem ainda como objetivo a preservação do patrimônio histórico do prédio e da história contida nele. O tombamento da edificação está assegurado, falta agora trazer à luz as provas que restaram num dos principais porões que a ditadura habitou.
Segundo o Jornal da Unicamp, a pesquisa de arqueologia pública tem início pela arqueologia forense, coordenada pela professora Claudia Plens, e conta também com a participação do professor da UFMG e pesquisador da Unicamp Andres Zarankin. A Universidade, de acordo com o Jornal da Unicamp, financiou o projeto via Faepex e terá a guarda dos artefatos até que o espaço do memorial se efetive.