Por Kátia Camargo
Os princípios que devem sustentar uma Educação que contribua com a construção de um mundo melhor estiveram presentes nas falas de todos os palestrantes que passaram pela 16ª edição do encontro Educação & Protagonismo, promovido pela Fundação Educar. O evento teve início ontem (14) e foi encerrado com extensa programação nesta quarta-feira (15).
O segundo e último dia do encontro contou com a presença do psicoterapeuta de crianças Ivan Capelatto, da fundadora da ONG Escola de Gente Claúdia Werneck, do mestre em Gestão de Diversidade Humana Rodrigo Hübner e da medalhista nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Rebeca Andrade.
Na abertura do segundo dia, o psicoterapeuta de crianças, adolescentes e famílias e mestre em Psicologia Clínica Ivan Capelatto trouxe o tema Saúde Mental e Emocional no Ambiente Escolar. Ele chamou a atenção para questões do retorno presencial na escola e fez uma primeira provocação: “Como nossos professores estão voltando? Quem cuida deles? Que perdas eles tiveram?
A pandemia escancarou muitas realidades, como crianças que não tiveram a possibilidade de assistir as aulas on-line, da fome e escassez de recursos em muitas famílias, o risco de entrar no mundo das drogas, do luto com a perdas de pai, mãe, tios, avós e amigos.
Capelatto destaca que o luto é uma das questões mais importantes da nossa existência e que ficou ainda mais evidente na pandemia. “Toda perda precisa ser trabalhada e a melhor maneira de trabalhar isso é falar dessa perda. É o momento de deixar a matéria de lado e permitir que as crianças e jovens exponham suas perdas. A ausência do luto traz a melancolia e é muito difícil tratar melancolia. Toda vez que há uma perda tem que se permitir o choro, o lamento, não encerrar o assunto, permitir sentir a dor. Só quando a dor é permitida começamos a elaborar essa dor, para que um dia se transforme em saudade”, destaca.

O psicoterapeuta destacou ainda que para isso se faz necessário exercitar a pedagogia da presença e da escuta. “É preciso olhar esse ser humano em sua integralidade. Será preciso falar do luto, ouvir as dores que esses estudantes passaram e ainda estão passando”, diz.
Ivan faz um alerta para que os educadores reestabeleçam os vínculos que já tinham com esses estudantes, antes da pandemia. “Vale lembrar sempre que a escola é o segundo lugar onde as crianças pedem ajuda, precisamos estar atentos a isso. E não podemos deixar que a pedagogia se torne maior que a humanidade”, ressalta.
Inclusão e diversidade
Inclusão e diversidade nas escolas foi o tema debatido pela empreendedora social e fundadora da ONG Escola de Gente Claudia Werneck e pelo mestre em Gestão da Diversidade Humana, professor e pesquisador na área da Educação Inclusiva, fundador do instituto que leva seu nome, Rodrigo Mendes.
Eles destacaram que a educação inclusiva é aquela que dá conta de todos os modos de todas as crianças e adolescentes existirem.
“Escola inclusiva é uma instituição que acolhe todos e persegue altas expectativas para cada um. Uma escola que iguala os direitos percebendo que cada estudante tem sua maneira de perceber e se relacionar com o mundo. A escola tem que dar oportunidade para que todos alcancem o seu melhor”, diz Rodrigo.

Claudia acredita que a educação inclusiva é o berço da participação democrática. “Inclusão é sempre emergencial e urgente. Uma criança jamais atrapalhará a outra, pois estão construindo a memória afetiva da sua geração. Uma criança que não entra na memória afetiva da sua geração, não entra no futuro da sua geração. É na escola inclusiva, com todas as suas questões, desafios, dores, luzes, ajuda que as gerações se percebem como um todo indivisível. E isso tem que ser construído o mais cedo possível, tem que ser exercitada”, diz.
A força da juventude
Rebeca Andrade, 22 anos, ginasta artística brasileira, medalhista nos Jogos Olímpicos de Tóquio, falou sobre o Protagonismo e oportunidade – Uma jornada de ouro. Na conversa ela destacou que a escola e o esporte mudaram sua história. Para Rebeca, os ensinamentos que recebeu na família, bem como a educação escolar e o esporte, ajudaram a ter foco, perseverança e resiliência.

Aos 10 anos se mudou para Curitiba, sem a família, para se dedicar à ginástica olímpica. “Minha mãe me ensinou que era preciso dar o mesmo valor para a escola e para o esporte. Com isso aprendi que precisava me dedicar aos dois com a mesma intensidade”, diz.
Ela destacou que, apesar de todos os desafios e de ter passado por três cirurgias, aprendeu a não desistir. Hoje ela quer inspirar outras crianças e jovens a não abandonar seus sonhos.
“Somos capazes de alcançar o que quisermos. Quero ser uma referência para que as pessoas acreditem que tudo é possível”, diz.
Aos 22 anos ela sabe que a vida vai ser muito difícil, mas precisa continuar lutando. “Espero que você tenha gente para apoiar sua caminhada e acredite que o esporte e a escola podem ajudar a mudar sua vida, assim como mudou a minha”, acrescenta.

Para encerrar o encontro a mediadora Flávia Vivaldi, doutora em Educação e mestre em Psicologia Educacional pela Unicamp, trouxe uma reflexão sobre o que foi a 16ª edição do Educação & Protagonismo.
“Esse evento que estreou no formato on-line acabou ampliando a possibilidade de um alcance muito maior de pessoas dos mais diferentes lugares do Brasil. Todos os palestrantes pontuaram os princípios que precisam sustentar uma educação que de fato faça a diferença para uma sociedade mais justa, que incluem a visão mais ampla de uma educação que se preocupe com as questões do planeta, da convivência e da humanidade, que precisam ser resgatadas e cada vez mais bem trabalhadas na escola para que de fato a gente devolva para a sociedade seres humanos que vão cuidar um dos outros”, destaca Flavia.