Uma pesquisa recente e de longo prazo do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) revela uma disparidade na saúde da população brasileira. As taxas de doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial, obesidade e doença renal crônica são maiores na população negra (pretos e pardos) em comparação com a população branca no Brasil.
Em um alerta no Mês da Consciência Negra, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por meio de seu Departamento de Aterosclerose, destaca que essas enfermidades são fatores de risco para doenças cardiovasculares, como o infarto e o derrame cerebral.
O estudo Elsa-Brasil, que acompanhou 15 mil pessoas no País por 15 anos, trouxe dados que justificam a urgência do tema:
• Diabetes: 27,7% da população negra têm a doença, contra 16% entre os brancos.
• Hipertensão (Excesso de Peso): 29,4% da população negra apresenta excesso de peso, ante 19,7% da população branca.
• Obesidade: O índice de obesidade é de 27,4% entre negros, comparado a 16,6% em brancos.
• Doença Renal Crônica: Atinge 11,1% da população negra e 7,9% da população branca.
Racismo é fator fundamental
Para os pesquisadores do Elsa-Brasil, o racismo é reconhecido como uma das causas fundamentais dessas desigualdades em saúde. O cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, diretor do Instituto de Pesquisas Clínicas de Campinas (IPEC), reforça a posição.
“É preciso enfrentar causas sociais fundamentais das desigualdades para promover mudanças significativas na direção de uma sociedade mais justa e equitativa.”
Saraiva aponta a correlação entre as desigualdades sociais, raciais e de acesso. “Nós observamos que a população negra ainda tem mais dificuldade de acesso e ao tratamento. A condição social e econômica, assim como o racismo estrutural, ainda permeia a sociedade brasileira e nós encontramos isso nos indicadores de saúde. Por isso, precisamos refletir e investir em ações que eliminem qualquer forma de desigualdade no País, afirma”.

O cardiologista também alerta para a necessidade de atenção dos profissionais de saúde a doenças geneticamente ligadas à raça negra, como variantes que podem levar à insuficiência renal e à necessidade de diálise ou transplante.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, a população negra (pretos e pardos) representa 55,5% (112,7 milhões) dos 213,4 milhões de brasileiros, o que torna as disparidades de saúde um tema de interesse público e político de abrangência nacional.
A SBC busca mobilizar e sensibilizar a sociedade neste mês de novembro – que celebra o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra – para as doenças mais incidentes entre a população negra, suas causas, formas de prevenção e onde buscar atendimento.
Sobre o ELSA-Brasil
O ELSA-Brasil é um dos maiores estudos científicos sobre saúde pública já realizados no País e na América Latina. É uma pesquisa científica multi-institucional que acompanha, ao longo dos anos, em seis capitais brasileiras, a saúde de milhares de brasileiros adultos para entender como se desenvolvem doenças crônicas.
O estudo é conduzido por grandes instituições públicas de ensino e pesquisa como as universidades federais da Bahia (UFBA), Espírito Santo (UFES), Minas Gerais (UFMG), Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de São Paulo (USP) e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), financiado, principalmente, pelos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação.







