– Eu não gosto deste mundo!
– Mas é o mundo que vivemos.
– Mas eu não gosto deste mundo! Este mundo não é meu!
– Então de quem é?
– É de todas aquelas pessoas que concordam com ele!
– E por que você não está contente com este mundo?
– Por causa dos humanos!
– Como assim?
– Eles destroem a própria casa em que habitam. Eles brigam, eles se matam, eles fazem guerras. Eles só pensam no próprio interesse. E as religiões que eles criaram então? Cada uma portadora de uma suposta verdade universal! Quantas mentiras este mundo carrega!
– Mas você vive neste mundo!
– Eu moro, mas eu criei um outro mundo aqui na minha cabeça, que é onde eu vivo. Foi necessário para que eu pudesse viver plenamente nessas condições e não sofrer tanto.
– Você não pertence então a nenhum mundo?
– Não, só ao meu mundo, aos meus ideais, que nunca se realizarão, eu sei disso, mas isso não me impede de idealizá-los.
– Conte-me mais sobre você e o teu mundo.
– Meu mundo é utópico, é verdade, mas eu não faço mal a ninguém. Só procuro fazer o bem. E aprendi que se você pode fazer o bem e não o faz, você realiza o mal. O poder não deixa vácuos. Não é suficiente não ser racista, é necessário ser antirracista; não é suficiente não ser machista, é necessário lutar contra o machismo e contra tantas outras formas de preconceito.
– É você, está certo. Não há espaço para o egoísmo, para o individualismo, para o “Mercado”, para tornarem o mundo do trabalho um verdadeiro “deus”. O resultado é a poluição, matança, desequilíbrio, desigualdade.
– O meu mundo não é de mentiras, de conchavos, de egoísmo, de egocentrismo, de deixar as pessoas sem resposta, de não cumprir o combinado, de fazer mal, de trairagem. Meu mundo não é da competição, é da cooperação. Não é da morte, é da vida. Não é do arbítrio, mas da justiça. É da inclusão, e não da divisão. É da liberdade, e não das fronteiras e proibições. É do consenso, e não da vã discórdia. É do puro, é do belo, é do completo, e não do partido, do fragmentado. É do desenvolvimento e não do progresso; é do caos e não da ordem. É da criação, e não da cópia.
– Então viva o seu mundo!
– Eu vivo (n)ele. Viva o meu mundo!
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero











