Para chegar até os braços de milhões de homenageadas neste 9 de maio, as flores cumpriram uma longa jornada. Assim como as mães – guerreiras de coração reforçado para aguentar duplas emoções, por elas e pelos filhos –, lançaram mão de uma força de origem incerta atrás da plenitude calculada para aflorar em um dia especial. Determinadas variedades de orquídeas, por exemplo, foram concebidas quatro anos atrás, em laboratórios da Ásia e da Europa, cultivadas durante um ano e meio e transportadas por alguns milhares de quilômetros na conta exata de entrarem, ainda em botão, na casa de uma mãe neste domingo (9).
É provável que as mães tenham a imagem associada às flores por questão de afinidade. Ambas compartilham da assertividade das previsões. Transparecem delicadeza quando o momento pede robustez. E seguem intocadas depois de se movimentarem por diferentes terrenos, acidentados ou não – o caminho das plantas até os vasos passa pelo asfalto, terra, ar, e pega carona em tratores, caminhões e aviões.
Elisabete Izidoro Kortstee, da Isidorus Flores, um dos 400 produtores que integram a Cooperativa Veiling de Holambra, usa a palavra “resiliência” para estabelecer a ligação entre flores e mães. “Amor de mãe não acaba nunca, não importa o que aconteça e o quanto é testado, sobrevive a tudo, se recupera sempre. Se cuidarmos da flor que plantamos, ela também sobreviverá e reflorescerá”, compara a mãe de três meninos, conhecedora dos ofícios de criar filhos e produzir rosas e bolas belgas, uma espécie de crisântemos.

Com base na experiência de viver os dois lados, Elisabete dá mais exemplos da afinidade entre a homenageada deste 9 de maio e seu presente mais popular. “Flor emociona, representa afetividade, ternura. Quem, a não ser uma mãe, para oferecer tanto a alguém?”, questiona. A produção de rosas, explica, é um processo complexo, que requer conhecimentos, cuidados de manejo, planejamento e cálculos para que elas cheguem ao destino da maneira que foram concebidas para existir. E criar filhos, concorda, está longe de ser uma tarefa modesta.
“Produzir flores parece uma coisa simples, só que é impressionante tudo o que existe por trás disso. São produtos delicados, mas que resistem a diferentes etapas até o destino final. O ciclo da flor é de meses, de anos, dependendo da espécie”, confirma. “Falamos aos nossos funcionários para terem em mente sempre que aquela flor vai levar alegria à vida de alguém. É a beleza de um processo complexo.”
“Amor de mãe não acaba nunca, não importa o que aconteça e o quanto é testado, sobrevive a tudo, se recupera sempre. Se cuidarmos da flor que plantamos, ela também sobreviverá e reflorescerá”, diz Elisabete
A Cooperativa Veiling se encarrega da comercialização da produção, mas Elizabeth faz ideia de para onde vão as rosas cultivadas na propriedade da família. “Sei que tem gente do Paraguai, Tocantins, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul. É praticamente o país todo, motivo de orgulho para todos os produtores. É gratificante saber que tantas pessoas serão presenteadas com flores e com carinho”.

Mercado
O otimismo sempre presente nas mães este ano é dividido pelo setor de plantas e flores. A Cooperativa Veiling, que abriga 400 produtores, espera aumento nas vendas de, pelo menos, 15%. E a base de cálculo é o ano de 2019, antes da pandemia, quando a economia ainda não sentia os efeitos negativos da crise provocada pelo novo coronavírus. O ano de 2020 foi desconsiderado para efeitos de comparação por ter sido extremamente negativo para o setor. O isolamento social se estendeu nos meses de março e abril e a permissão para a abertura do comércio ocorreu apenas uma semana antes do Dia das Mães, o que ocasionou perdas nas estufas e falta de produtos no mercado.
A Cooperativa Veiling Holambra é um dos mais importantes centros comerciais e logísticos de flores e plantas da América Latina e o mais completo do Brasil. Apenas por meio do Klok – um moderno sistema de leilão reverso que permite a venda de grandes lotes de produtos – são realizadas mais de 15 mil transações nos dias de maior movimento.
No campo ou nas estufas, o plantio deve acontecer, no mínimo, quatro ou cinco meses antes da data em que o produtor pretende vender a flor. Holambra responde por mais de 60% (considerando as cooperativas e centrais) das flores comercializadas no país. As rosas estão entre os produtos mais procurados para presentear as mães no dia delas. E o Dia das Mães é como se fosse o Natal dos produtores de plantas, na comparação com as expectativas de venda do comércio varejista.
A sistemática complexa que envolve a produção, comercialização e distribuição legitima a resistência das flores que neste domingo enfeitarão as casas brasileiras. Essas flores tanto representam a delicadeza da existência quanto a força disfarçada de afeto. Qualquer semelhança com nossas mães não é mera coincidência!
