As transações comerciais da Região Metropolitana de Campinas (RMC) com a Rússia e a Ucrânia estão em ascensão desde 2014, de acordo com levantamento do Observatório PUC-Campinas. Porém, a guerra entre os dois países pode afetar setores da região de Campinas dependentes do fornecimento de insumos russos ou da venda de produtos para o país. Os setores dependentes de produtos derivados da batata e do petróleo devem ser os mais prejudicados em caso de ruptura dos fluxos comerciais.
Segundo o levantamento, em 2021, as exportações para a Rússia e a Ucrânia atingiram US$ 35 milhões, o que corresponde a 0,75% das exportações da RMC. Os valores importados dos dois países chegaram a US$ 144 milhões no mesmo ano, o que representa 0,96% do total importado. Apesar de baixo, o comércio bilateral com essas nações, sobretudo com a Rússia, é expressivo para determinados setores e vêm crescendo desde 2014.
“Neste sentido, um agravamento do conflito pode interferir na capacidade produtiva e de escoamento dos fornecedores russos, ou mesmo na imposição de sanções, revertendo a tendência de aumento do comércio bilateral entre a região e Rússia”, afirma o economista Paulo Oliveira, responsável pela análise do Observatório PUC-Campinas.
Entre os insumos de alta dependência de fornecedores russos estão farinha, enxofre, adubos minerais ou químicos (fertilizantes), borrachas sintética e artificial etc. Destaca-se a dependência exclusiva de alguns derivados de batata e de petróleo. Além disso, vários exportadores da RMC têm a Rússia como destino de seus produtos. Em 2021, quase um terço das exportações de papel e revestimentos de parede fabricados na região foram para o país. Cerca de 11% das exportações de máquinas para construção civil foram destinadas para a Rússia no mesmo período.
“A queda na demanda interna na Rússia pode impactar fornecedores regionais que dependem, em maior ou menor medida, dos compradores russos”, destaca o professor extensionista. Ele reforça, ainda, que setores específicos de vestuário também podem sofrer impactos da guerra. Em 2021, 11,5% das exportações de produtos como sobretudos, capas e blusas tiveram como destino a Ucrânia, país envolvido no conflito.
Diante dos potenciais danos à economia regional, podendo resultar na inviabilidade de operação de algumas plantas na RMC e, com isso, maiores taxas de desemprego, o economista recomenda a formulação e políticas públicas e a articulação de representantes da indústria regional.
“As estratégias devem envolver desenvolvimento de fornecedores e compradores alternativos ao mercado russo. No caso dos fornecedores, dado câmbio desfavorável às importações, os elevados custos de transporte internacional e a natureza dos produtos importados da Rússia, recomenda-se, sobretudo, o desenvolvimento de fornecedores brasileiros. Para o caso das exportações, recomenda-se adoção de estratégias de diversificação de mercados internacionais. É importante que empresários dos setores de maior risco estejam preparados para possíveis rompimentos de comércio com empresas localizadas nos dois países envolvidos no conflito”, orienta Oliveira.
Economia brasileira
No Brasil, em geral, preocupa a manutenção da oferta internacional de trigo e de fertilizantes. O país é o maior importador mundial de fertilizantes e o quinto maior importador mundial de trigo. Embora o trigo consumido no Brasil venha, sobretudo, da Argentina e dos Estados Unidos, a possível escassez mundial do produto pode causar aumentos expressivos dos preços internacionais.
Já no caso dos fertilizantes, o Brasil depende consideravelmente das importações da Rússia, e deve ser afetado diretamente por uma possível dificuldade de produção dos fornecedores russos, ou pela necessidade de imposição de sanções por motivos geopolíticos.
Em 2021, a Rússia foi a origem de 2,6% de todas as importações brasileiras, classificando-se em 6º lugar no ranking das principais origens das importações nacionais. A maior parte dessas importações (66%) foi de adubos ou fertilizantes químicos. De todo o adubo importado pelo Brasil, 69% são provenientes da Rússia. Por outro lado, apenas 0,6% do total das exportações brasileiras foram destinadas à Rússia.
As relações comerciais entre o Brasil e a Ucrânia são de menor montante. A Ucrânia absorveu 0,08% das exportações e respondeu por 0,1% das importações brasileiras, em 2021. As importações de produtos semiacabados, lingotes e outras formas primárias de ferro e polímeros de cloreto de vinila são os principais produtos vindos Ucrânia, representando, respectivamente, 22% e 20% de todo comércio bilateral entre os dois países.











