“Vinte anos viajando o mundo e é a primeira vez que passo por uma situação dessa.” Foi assim que a influenciadora de viagens Ana Stier começou a relatar, por meio de seu perfil no Instagram (@anastier), a experiência que viveu a bordo do voo AD4816, da Azul, que saiu de São Luís (MA) na noite desta quinta-feira (7) com destino ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas. A aeronave precisou desviar a rota e pousar no Aeroporto Internacional de Brasília após uma ameaça de bomba.
Segundo a Azul, a medida foi preventiva “devido a questões de segurança envolvendo ameaça de artefato a bordo”. Um bilhete encontrado no banheiro indicava a presença de explosivos no compartimento de cargas. O avião, que transportava 170 passageiros, pousou normalmente às 20h45, e todos desembarcaram em segurança.
“Nunca vi uma tripulação tão desesperada”
Experiente em viagens e com mais de 50 países visitados, Ana Stier é instrutora de meditação, influenciadora com mais de 100 mil seguidores nas redes sociais e fundadora de uma comunidade pela qual ensina como viajar de forma econômica e compartilha dicas para a compra de passagens aéreas.

Ela contou que o embarque foi tranquilo e que o voo, apesar de lotado, decolou com cerca de 30 minutos de atraso. A calmaria, no entanto, deu lugar à tensão quando o avião enfrentou turbulência intensa.
“A gente se assustou, mas achamos que era só turbulência. De repente, vi a tripulação correndo de um lado para o outro e se comunicando com a cabine. Nunca tinha visto uma tripulação tão desesperada na minha vida”, disse.
Ela destacou que notou a tensão em razão de sua experiência em voos, mas também elogiou o profissionalismo dos comissários em lidar com a situação.
Logo depois, as luzes da cabine e do avião foram apagadas e Ana percebeu que o tempo estimado para o pouso havia mudado de cerca de 1h30 para apenas 30 minutos, com destino alterado para Brasília.
“Na minha percepção, o avião começou a perder altitude. O piloto pediu para não tirarmos os cintos, mas não explicou o que estava acontecendo.”

Silêncio, palavras de conforto e visualização
Ana relatou que se aproximou de uma aeromoça e disse que sentia que algo grave estava acontecendo, mas que tudo ficaria bem. “Ela se emocionou e falou: ‘Obrigada por você estar me falando isso, por favor, me ajuda a acalmar as pessoas em volta de você’.”
A influenciadora então passou a conversar com passageiros próximos, pedindo que imaginassem o avião pousando em segurança.
“Ficou um silêncio no avião. Quando pousamos, todo mundo aplaudiu. Foi perfeito, mas ninguém podia tirar o cinto nem se levantar. Ficamos mais de 40 minutos dentro da aeronave.”
Segundo Ana, foi possível sentir o alívio na voz do comandante quando anunciou a liberação para o desembarque. Ainda sem saber o motivo do pouso emergencial, os passageiros foram orientados a deixar a aeronave por escadas.

Sala de segurança e confirmação da ameaça
Ao descer do avião, todos foram levados para uma sala com cerca de 50 policiais armados. “Lá dentro, a Polícia Federal nos informou que havia suspeita de bomba e que todos passariam por entrevista. Nunca passei por isso na vida.”
De acordo com a PF, a ameaça foi registrada após a descoberta do bilhete que mencionava explosivos. Todos os passageiros foram ouvidos ainda na noite de quinta e na madrugada de sexta (8) e deixaram amostras da caligrafia.
Nenhuma bagagem apresentou irregularidades. Uma varredura descartou a presença de artefatos e o avião foi liberado para retornar à operação.
As investigações continuam para identificar o autor da ameaça. Na manhã desta sexta (8), a Azul informou que os passageiros foram reacomodados em outros voos da companhia.
Reflexão
Ana afirmou que, mesmo percebendo que algo estava errado, teve o pressentimento de que tudo acabaria bem. Ela tentou transmitir essa calma a outros passageiros:
“São nessas horas que a gente tem a nossa saúde mental testada, na hora do aperto, como a gente reage ou age em uma situação como essa. A maioria das pessoas estava chorando, angustiada, sem poder levantar, sem saber o que estava acontecendo.”
O momento também trouxe uma reflexão pessoal. Ana contou que, durante o voo, pensou no pai — a quem estava indo visitar para o Dia dos Pais — e temeu que ele carregasse, para sempre, a sensação de que a visita tivesse resultado em uma tragédia. Ela disse que, naquele instante, passou um filme na cabeça: “O que eu teria feito que não fiz, para quem não me declarei, quem não perdoei.”











