A descoberta de ouro no coração do Brasil deu origem a vários vilarejos, formados por desbravadores que avançavam na direção dos atuais estados de Mato Grosso e Goiás. Um desses povoados se estabeleceu após a travessia do Rio Jaguari e passou por várias transformações a partir do século 18. Do ouro, à cana de açúcar e chegando ao café, a economia impulsionou a criação de ferrovias. O vilarejo, por sua vez, que passou a se chamar Vila Bueno, abrigou uma estação de trem da recém-inaugurada Companhia Mogiana de Estradas e a ligação com Campinas atraiu habitantes. De um bairro no município de Mogi Mirim, se transformou no Distrito de Paz de Jaguary. Jaguariúna começava a se despontar.
Há exatamente 69 anos, o distrito conquistou sua emancipação. Neste dia 12 de setembro, a cidade, com nome de origem tupi guarani, que significa Rio da Onça Preta, celebra seu aniversário.
E motivos para comemorar não faltam. O antigo vilarejo é hoje um município que virou referência, não só no limite que ocupa, a Região Metropolitana de Campinas, mas também no Brasil.
Estudos que avaliam as estruturas das cidades brasileiras colocam Jaguariúna como destaque. Na última semana, ela foi eleita, pela quinta vez consecutiva, a mais inteligente e conectada dentre os municípios de 50 mil a 100 mil habitantes, de acordo com o ranking Connected Smart Cities 2023, promovido pela consultoria Urban Systems. No eixo Educação, ficou em primeiro lugar dentre os 656 municípios analisados.
Prefeito da cidade, Gustavo Reis (MDB) celebra. “Conquistamos muito nessas três gestões”, diz ele, que esteve à frente do Executivo entre 2009 e 2012 e agora está em seu segundo mandato consecutivo. “Foi um período no qual Jaguariúna cresceu e se desenvolveu muito. Ainda no primeiro mandato, conseguimos uma conquista muito importante na saúde, o prêmio Americas Awards, da Organização das Nações Unidas (ONU), por termos zerado em 2009 a mortalidade infantil”, lembra.
“Além disso, conquistamos o Selo Cidade Amiga do Idoso e também o Selo Cidade Amiga dos Animais. Claro que ainda temos muitos desafios pela frente, mas Jaguariúna deu um salto enorme de qualidade”, pontua.
Presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e vice-presidente para Telecomunicações da Frente Nacional de Prefeitos, Gustavo Reis reconhece que sua posição de liderança contribuiu para Jaguariúna alcançar visibilidade. Mas, por outro lado, destaca também que o município tem “luz própria” e chegou à condição de prosperidade e alta qualidade de vida em função de um conjunto de fatores, entre eles os ligados à economia e às ações sociais.
Em relação aos desafios para o futuro, Reis aponta para as áreas de habitação e mobilidade urbana. “Ampliar o número de moradias populares é um dos nossos principais projetos. A retomada do Minha Casa Minha Vida, pelo governo federal, pode auxiliar nesse direcionamento”, comenta. “Também temos projetos para melhorar a infraestrutura viária da cidade, que possam reforçar a vocação turística do município, portal de entrada do Circuito das Águas Paulista.”
Morador fala sobre a cidade
Quem vivencia de perto o desenvolvimento de Jaguariúna é Leandro Luis Ferreira, gerente de um centro automotivo. Ele chegou na cidade com seus pais ainda criança, em 1988, e no município casou e constituiu família. O morador, de 35 anos, conta que o crescimento enfraqueceu alguns costumes da localidade, mas destaca que o espírito interiorano não desapareceu de vez.
“Antes, todas as famílias se conheciam aqui”, relata. “Hoje, ela perdeu um pouco isso, pois muitas empresas chegaram e trouxeram pessoas de outros lugares. Mas as famílias tradicionais, quando conhecem pessoas novas, sempre perguntam de onde elas vêm e quem são seus pais.”
Morador no Jardim Mauá, Leandro diz que o crescimento trouxe avanço a Jaguariúna, mas também problemas.
Ele cita, por exemplo, a saúde como um referencial de dois polos. Reclama dos hospitais cheios e a demora no atendimento. Por outro lado, reconhece que “aqui o SUS funciona”. “Escuto pessoas que vêm de fora dizer que estamos no céu quando reclamamos de um exame que leva três meses para ser feito.”
O comércio é um dos pontos de destaque, cita Leandro. “Cresceu muito e hoje não precisamos nos deslocar para cidades maiores”, comenta, sem deixar, no entanto, de observas algumas lacunas. “Sinto falta ainda de um shopping, cinema e atacadistas.”
Com uma filha estudando em uma unidade de ensino municipal, o morador classifica a Educação da cidade como “organizada”.
“As escolas são limpas e tem um bom cronograma”, diz. “Só acho o ensino atualmente mais fraco do que antigamente. As crianças passam de ano com muita facilidade”, critica, observando um problema relativo à educação brasileira.
Na área de lazer, Leandro destaca os parques de Jaguariúna que possibilitam contato com a natureza e abrem espaço à população para práticas esportivas, educativas, culturais e recreativas. “Nos espaços há feiras noturnas e vários eventos”, cita. “Mas acredito que alguns parques precisam de uma melhoria na manutenção.”
Já o tradicional passeio de Maria Fumaça, entre Campinas e Jaguariúna, está entre as atividades que misturam lazer e educação. Trata-se de uma “viagem” histórica, que remete às origens do distrito, hoje cidade referência.