A campanha Julho Verde, lançada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), chama a atenção para a prevenção do câncer de cabeça e pescoço, responsável por cerca de 10 mil mortes a cada ano no país. Com o slogan “Desperte a Esperança, Venha para o Julho Verde”, este ano a divulgação da campanha ganha ainda mais importância devido ao impacto negativo causado pela pandemia de coronavírus aos pacientes em tratamento com câncer, que com medo da Covid-19 e receio de contaminação, chegaram a abandonar tratamentos ou deixaram de procurar ajuda médica rápida aos primeiros sintomas da doença.
Nesta quinta-feira (1º) o início da campanha Julho Verde foi marcada no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Divisão de Otorrinolaringologia, por música e informação aos pacientes. A campanha na universidade conta este ano com o apoio e participação do novo Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU).
O objetivo da ação, coordenada pelo médico Flávio M. Gripp, da Faculdade de Ciências Médicas, é alertar para a importância dos exames preventivos e o diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço.
No Brasil, o câncer de cabeça e pescoço deve acometer anualmente de 35 mil a 40 mil brasileiros. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de boca, laringe e demais sítios é hoje o segundo mais frequente entre os homens, atrás somente do câncer de próstata. Nas mulheres, é o quinto mais comum, ficando atrás do câncer de mama, tireoide, cólon e reto.
Especialistas e entidades médicas querem conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce.
“Isso é o mais urgente, principalmente porque o medo do novo coronavírus levou muitas pessoas a parar de fazer a prevenção”, diz o médico Bruno Albuquerque, da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Hospital Central da Aeronáutica. A campanha foi iniciada em 2016 pela SBCCP e o Inca, que centraliza a parte do controle oncológico no país, e acabou sendo um dos grandes propagadores da prevenção, avalia o médico.
O dia 27 de julho foi escolhida para lembrar o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, definido durante o 5º Congresso Mundial da Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço, realizado em Nova Iorque (EUA), em 2014. O evento reuniu especialistas de todo o mundo.
Pacientes
O Inca estima que, no total, devem ser diagnosticados 685 mil novos casos de câncer no Brasil no triênio 2020-2022, incluindo todas as áreas da doença. O médico Bruno Albuquerque afirma que cânceres de cabeça e pescoço representam 8% e 10% do total, e abrangem a cavidade oral: língua e boca, laringe, faringe, seios paranasais, cavidade nasal, glândulas salivares, ossos da face, tireoide e pele.
O principal tipo de câncer nos homens é o de boca e, nas mulheres, o de tireoide. Para o câncer de boca, o principal é evitar tabagismo (fumo) e etilismo (álcool). Somados, os fatores aumentam em mais de 30 vezes a chance de ter câncer na cavidade oral.
Outra recomendação é evitar o uso de próteses dentárias mal adaptadas, que causam trauma crônico na região da boca e podem ter uma cicatrização viciosa. “Também podem ser fator de risco”. O médico comenta que, devido ao retardo no diagnóstico por desconhecimento da população, 70% dos pacientes já são diagnosticados em estado avançado e, por isso, os médicos não conseguem agregar nenhum tipo de tratamento curativo.
Segundo Albuquerque, qualquer lesão na boca e na garganta que dure mais de três semanas merece uma investigação por parte do profissional que trata de saúde bucal. O mesmo ocorre em relação ao surgimento de qualquer caroço no pescoço, que também dure mais de três semanas. “São lesões suspeitas que vão necessitar de avaliação de especialista em cirurgia de cabeça e pescoço”.

A campanha terá, durante todo o mês de julho, uma série de lives (transmissão ao vivo pela internet), cursos, congressos, simpósios, reuniões, divulgação por panfletos e outras atividades. “O objetivo é orientar não só a população geral, mas os próprios profissionais de saúde a auxiliarem no processo de detecção precoce do câncer de cabeça e pescoço e, até mesmo, atuar na prevenção”, aponta Bruno Albuquerque.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de cabeça e pescoço é o nono tipo de câncer mais comum no mundo.
Como se prevenir:
Não fumar
Evitar o consumo de bebidas alcoólicas
Ter alimentação rica em frutas, verduras e legumes
Manter boa higiene bucal
Usar preservativo (camisinha) na prática do sexo oral
Manter o peso corporal adequado
Recomendar a vacinação do HPV para os meninos de 11 a 14 anos e para meninas de 9 a 14 anos
*Com informações da Agência Brasil e Hospital de Clínicas da Unicamp