Tem coisas que sempre admirei no Papa Francisco, uma delas era o seu senso de humor. Ele dizia que há mais de 40 anos rezava a oração de Santo Tomás Moro para ter bom humor. Um dos trechos dizia: “Dai-me, Senhor, senso de humor! Concede-me a graça de compreender as piadas, para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos demais.” Penso que parte da sua boa comunicação e empatia se deve muito a esse espírito leve e acolhedor.
Também nos ensinou, com palavras e gestos, a importância de cuidarmos dos mais pobres e marginalizados. Ele nunca se cansou de dizer que devemos ir às periferias – não apenas geográficas, mas existenciais –, onde estão aqueles que mais necessitam de atenção e dignidade.
Além disso, sempre demonstrou profundo respeito por todas as religiões, promovendo o diálogo inter-religioso como caminho para a paz e o entendimento mútuo entre os povos. Um exemplo marcante foi o encontro histórico com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, nos Emirados Árabes Unidos, em 2019, quando assinaram juntos o “Documento sobre a Fraternidade Humana”, um apelo à convivência pacífica e ao respeito entre religiões.
Outra marca forte do seu pontificado foi a preocupação com as mudanças climáticas e a crise ecológica. Francisco alertou para a responsabilidade comum em cuidar da Casa Comum, chamando-nos a repensar o nosso estilo de vida, o consumo excessivo e a forma como nos relacionamos com a natureza e com os mais vulneráveis. Essa visão está expressa com profundidade na encíclica Laudato Si’, onde defende uma “ecologia integral” que une o cuidado ambiental à justiça social, lembrando que os mais pobres são os que mais sofrem com a degradação do planeta.
O Papa Francisco sempre demonstrou uma atenção especial aos jovens, considerando-os protagonistas da transformação do mundo. Em diversas ocasiões, alertou para os perigos da apatia e do desinteresse entre as novas gerações. Em um dos seus sermões, afirmou que “a doença do desinteresse, para os jovens, pode ser mais perigosa do que um câncer”, sublinhando a necessidade de inspirá-los a sonhar alto, comprometer-se com o bem comum. Para ele, os jovens devem ser encorajados a agir, a envolver-se com as questões sociais e ambientais, e a viver com paixão e responsabilidade.
Francisco também deixou importantes sinais de abertura e inclusão. Sempre reconheceu o papel fundamental das mulheres, tanto na sociedade como na vida eclesial, tendo nomeado várias delas para cargos de liderança no Vaticano — um gesto significativo de valorização e respeito. Quanto à comunidade LGBTQ+, embora mantenha os ensinamentos tradicionais da Igreja, o Papa insistia num olhar de acolhimento e de respeito. A famosa frase “Quem sou eu para julgar?” marcou o início de uma nova postura pastoral, centrada na dignidade de cada pessoa e na necessidade de todos se sentirem amados e integrados na comunidade cristã.
A defesa da paz foi outro pilar fundamental do seu pontificado. Papa Francisco nunca se calou diante dos horrores da guerra e da violência. Reiteradamente, apelou ao fim dos conflitos armados e incentivou o diálogo como único caminho verdadeiro para a resolução de disputas. Em momentos críticos, como a guerra na Síria ou a invasão da Ucrânia, fez orações públicas, encontros diplomáticos e declarações firmes, condenando o uso de armas e chamando o mundo a construir pontes, não muros.
Mais do que um líder religioso, Francisco foi um exemplo profundo de humanidade.
Nas suas palavras e nos seus silêncios, nos seus gestos simples e nas suas posições corajosas, ele mostrou que é possível ser firme sem perder a ternura. O mundo precisa de líderes assim: humanos, compassivos e próximos das pessoas, e como ele dizia: “Não deixemos que nos roubem a esperança.”
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar











