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Home Opinião

No rastro de Borges e Cortázar – por Lucius de Mello

Redação Por Redação
3 de setembro de 2025
em Opinião
Tempo de leitura: 5 mins
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No rastro de Borges e Cortázar – por Lucius de Mello

Foto: Freepik

O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo.

Jorge Luis Borges

 

Verão de 2007. Desci do táxi em Palermo. Fazia tanto calor em Buenos Aires que a conclusão foi inevitável: era preciso passar pelo inferno para chegar ao Templo de Borges. Atravessei a rua Anchorena na altura do número 1.660 e fui direto tocar a campainha da Fundação Internacional Jorge Luis Borges (1899 -1986).

Sarah, uma senhora muito educada, veio receber-me. Disse que a casa estava fechada para visitas, mas não resistiu ao meu pedido e acabou permitindo que eu conhecesse o imóvel comprado por Maria Kodama (1937-2023), a viúva borgeana, para abrigar a memória do escritor argentino. “Minha patroa está no Uruguai, volta só no fim de semana”, comentou a secretária. “Logo ali atrás, fazemos as jornadas literárias. Venha conhecer o auditório! Os manuscritos? Ora, eles ainda não ficam aqui não. Não temos segurança suficiente para guardá-los neste casarão”, respondeu a funcionária. “Quem sabe um dia, trazemos todos para cá. É o sonho da minha patroa. Já deste outro lado, veja aquela cadeira. É uma obra de arte feita por uma talentosa artista plástica. Olhe bem de perto aquele pedaço da peça. É possível ver o rosto de Borges no metal. Consegue vê-lo?”

Era uma fotografia. Mas a arte conseguiu fazê-la ser muito mais que uma simples imagem estática e morta. Lembrei-me dos enigmas e maldições dos espelhos e seus duplos que o mestre evoca a Bioy Casares no conto Tlon, Uqbar, Orbis Tertius: “declarara que os espelhos e as cópulas são abomináveis porque multiplicam o número de homens”. Dentro do encosto da cadeira de madeira, o rosto de Borges se mexia. Como se quisesse dizer alguma coisa ou apenas dirigir um olhar, um sorriso, uma cara feia. Nem me preocupei em desvendar a técnica usada pela artista, de tão envolvido que fiquei com a expressão facial do escritor. Ela parecia observar todos que entravam naquela sala.

Como um fantasma, Borges estava ali, conosco, preso dentro da cadeira, atento a tudo que conversávamos sobre ele. “Nesta casa aqui ao lado, Borges viveu de 1938 a 1946”, disse Sarah. “Saía pouco. A confeitaria Richmond, na rua Florida? Claro, como poderia me esquecer. Ele e dona Maria Kodama iam muito lá. Gostavam bastante de tomar chá. Tinham uma mesa exclusiva. Até hoje os garçons sempre avisam os clientes e turistas: os senhores se sentaram no lugar preferido de Borges, parabéns! Que pena, não temos nenhuma lembrança que possa comprar aqui a não ser algumas edições das revistas Prisma e Proa. Espere um instante que vou buscá-las lá em cima”, explicou Sarah.

Ela subiu e eu fiquei com Borges na sala. Veio-me outro célebre conto naquele ambiente: A casa de Asterión, quando ele diz: “meditei sobre a casa. Todas as partes da casa existem muitas vezes, qualquer lugar é outro lugar. A casa é do tamanho do mundo; ou melhor é do mundo”. Borges é para mim também um outro mundo ou sacerdote doutros universos infindos… Olhei para o perfil refletido do escritor portenho e lhe agradeci por tudo que tinha escrito, em especial, pelos momentos emocionantes que vivi e ainda vivo ao reler o seu Livro de areia.

Nele, Borges ficcionaliza a ideia de que a literatura é espaço heterogêneo da totalidade e um território onde se concretizam os desejos insatisfeitos: o livro não-escrito, o amor frustrado, a revelação da palavra secreta, a construção do mundo futuro. O conto que fala de um livro que tem um número de páginas infinito. “Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que são numeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer número”.

Essas palavras escritas por Borges voltaram a minha memória. A voz de Borges chegou timidamente até mim:

Declinava o verão, e compreendi que o livro era monstruoso. De nada me serviu considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que era um objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade. Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro infinito fosse igualmente infinita e sufocasse com fumaça o planeta. Lembrei haver lido que o melhor lugar para ocultar uma folha é um bosque. Antes de me aposentar, trabalhava na Biblioteca Nacional, que guarda novecentos mil livros; sei que à direita do vestíbulo uma escada curva se afunda no porão, onde estão os periódicos e os mapas. Aproveitei um descuido dos funcionários para perder o Livro de Areia em uma das úmidas prateleiras.

Fiquei ali parado com uma saudade infinita de mim mesmo. Saudade de areia. Saudade é de areia. Deserto. Saara. Sarah voltou com dois exemplares das revistas Prisma e Proa que eu acabei comprando. “Deixe seu e-mail”, pediu a secretária de Maria Kodama. “Quero lhe enviar a programação das jornadas literárias. Nesses eventos sim, o espírito de Borges está presente”, garantiu-me a simpática e culta anfitriã. O que ela nem podia imaginar é que eu já vinha conversando com o espectro de Borges havia alguns minutos: caro mestre, não ficas enciumado ao ver esse sol dantesco, implacável, invadir a sua cidade de areia, nos transportando para uma poética cena bíblica?

Enquanto Sarah falava sobre os encontros que ocorriam na Fundação, eu explicava ao imortal patrão dela que continuaria a atravessar aquele simbólico deserto para alcançar o território mítico de Julio Cortázar na confeitaria London City; que dali de Palermo até o café onde nasceu Os prêmios, na avenida de Mayo esquina com a rua Peru, ainda tinha que percorrer mais um grande pedaço daquela Buenos Aires 40 graus.

Ao chegar à London City sentei-me ao lado da mesa onde Cortázar escreveu seu primeiro romance em 1960. “Ele e seu inseparável cigarro não saíam daqui”, disse o garçom mais velho da casa. “Vinha diariamente escrever a novela Los premios. Pode tirar uma foto se quiser. Fique à vontade”! Sobre a mesa uma placa de metal avisando que o autor de O jogo da amarelinha frequentava o local, uma caderneta e uma caneta. Um altar literário protegido por uma corda de veludo vermelha que separa a instalação cortaziana dos demais mortais.

Pedi um suco de laranja com ovos mexidos, um café e comecei a ler o panfleto editado em inglês e espanhol que conta a história de como a London City virou musa inspiradora de Cortázar. Nele destacam-se os trechos nos quais o escritor cita a confeitaria no romance Los premios. Como logo na abertura do primeiro capítulo: “La marquesa salió a las cinco — pensó Carlos López — ‘Dónde diablos he leído eso?’ Era en el London de Peru y Avenida; eran las cinco y diez. La Marquesa salió a las cinco?”

Coincidência ou não, no dia seguinte comprei no sebo Cueva Libros — na rua Paraná 562 — um exemplar muito bem conservado da segunda edição de Los premios editado pela Sudamericana em agosto de 1964. Sorte? Que nada. Acho que foi um presente que ganhei por ter me deixado guiar, na segunda visita a Buenos Aires, pelos fantasmas mais ilustres dessa cidade literária.

 

Lucius de Mello é doutor em Letras pela USP e Sorbonne Université-Paris. Autor da tese A Bíblia segundo Balzac: Deus, o Diabo e os heróis bíblicos em A Comédia Humana. Jornalista, escritor e finalista do Prêmio Jabuti em 2003.

Tags: ArtigoborgescortazarHora CampinasliteraturaOpinião
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