É isso mesmo que você leu meu caro leitor, minha querida leitora, e você pode me perguntar: “Mas professor Thiago, realmente existem benefícios em se comportar como vítima?” e a minha resposta em particular é: sim! Tanto em cima dos palcos ou nos bastidores do Teatro da Vida. E é justamente sobre esses benefícios que iremos refletir juntos, você aceita me acompanhar nessa atividade? Ótimo, então, mãos à obra!
Existem inúmeros comportamentos que podemos ter em nosso cotidiano, inclusive em nossos chamados papéis sociais que exercemos em diferentes locais e círculos sociais (é o que Jung, renomado psicanalista, chama de arquétipos em sua metodologia da Psicologia Analítica). Há ainda quem acredite em signos e em seus pré-comportamentos a nós atribuídos e advindos deles como verdades incontestáveis e eu não irei aqui me opor a quem acredite nisso, fique tranquilo (a).
O ponto é: há vítimas de assédios sexuais, morais, vítimas de assaltos, de sequestros, vítimas de doenças e tantas outras situações, essas sim têm um valor altíssimo de respeito, mas o foco aqui é o viés emocional e seus ganhos advindos da adesão pelo comportamento vitimista que certa pessoa adota.
Você recebe atenção nos dias de hoje? Você se recorda de ter recebido atenção em sua infância (isso ficaria mais claro em um processo psicanalítico)? Atenção é algo que o ser humano naturalmente precisa, porém se não recebida na infância e ainda assim tal abstinência insiste em continuar na vida adulta é quase certo que a pessoa busque-a de diversas formas e a principal é se vitimizando. Ao se vitimizar, as pessoas em volta dela tendem a olhar para ela, a se preocupar com ela, a cuidarem dela e isso a faz inconscientemente a se sentir confortável, isso torna-se um hábito fazendo com que tal pessoa venha a desejar ali se acomodar na chamada “zona de conforto” com esse comportamento.
Pense comigo: por que eu irei mexer em “time que está ganhando”? Por que eu irei atribuir a mim a responsabilidade de buscar ajuda terapêutica, por exemplo, a sair da zona de conforto, a assumir o governo de minha vida ressignificando as feridas emocionais se, “tenho tudo o que preciso” do jeito que estou? Não faz sentido, essa conta não fecha! (de forma irônica aqui).
Hora, o amadurecimento em nossas vidas advém das experiências que nela temos, em como reagimos aos imprevistos, as contingências e a como agimos, como nos comportamentos, hora acertando, hora errando e se fraturando.
Como defendia o grande psicanalista britânico Wilfred Bion, se vitimizar é se esconder no porão do inconsciente sem nele querer adentrar e arrumar as bagunças nele armazenadas. Cuidar de sim dói, causa tensão, um exemplo didático disso é ir à academia malhar para criar músculos, ficar forte como grandes atores de Hollywood da década de 90.
Com os “músculos emocionais” não é diferente, estudar, adquirir conhecimento exige disciplina, exige o hábito desconfortável no início de parar de ficar com o entretenimento vazio que você tem a sua disposição em suas mãos na tela do celular, pegar um livro e ir ler, anotar o que leu…
Desconforto que tem seus benefícios. Desconforto e dor que são exigidos ao optar por sair da zona de conforto, da zona do comodismo e do vitimismo para crescer intelectualmente e principalmente emocionalmente, mas a escolha é singular, é de cada um!
O que está em jogo aqui nessa dependência, nessa carência é justamente a falta de controle dela, já que ela vem de terceiros e uma hora ou outra essa pessoa pode simplesmente cansar de ser uma “babá” da vítima, virar as costas e partir deixando-a sem amparo algum. Precisar do outro é algo muito delicado, assunto para outra hora.
A vítima sempre encontrará alguma muleta emocional para se amparar, dizendo que você não deu a ela o objetivo X ou Y, que você não a levou a determinado lugar, que você não fez um elogio a ela, que você não dá prioridade, não a valoriza, não a ama…
E mesmo você se desculpando e buscando atender a todas essas demandas, jamais, repito, jamais ela irá saciar essas supostas necessidades emocionais, pois são elas que movimentam todo o sistema.
Isso mesmo; há um sistema, tal como o capitalismo, por exemplo, há quem produza para que haja alguém consumir, há mão de obra barata e há quem aceite exercê-las, pois há famílias e contas a pagar, a Indústria Cultural é um exemplo disso e a Escola de Frankfurt com seus criadores, filósofos e sociólogos alemães Adorno, Benjamim e Horkheimer estão aí para não me desmentir. Sistema político, sistema econômico e aqui o sistema emocional afetivo como move o sujeito vitimista.
A vítima nesse Teatro da Vida pode ser uma personagem com segundas intenções (e essa é imoral, desprezível) e há a que realmente precise de ajuda, cuidado e atenção, mas ela precisa fazer a parte dela que é se amar e buscar mudar. A primeira vítima citada acima é a que atua em cima dos palcos, uma personagem social, a segunda vítima, autêntica e inconsciente, infelizmente se encontra nos bastidores de tal teatro em que vivemos, numa era digital de pessoas “desreferenciadas” (conceito com a liberdade do neologismo que criei e é pauta de um dos meus livros intitulado “Qual app nos guia à nova era?”).
Você conhece pessoas vitimistas? Se considera uma?
Thiago Pontes é Filósofo e Neurolinguísta (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial