Ótimas notícias em termos de Brasil antecederam a COP30, a Conferência do Clima que acontece na próxima semana em Belém. Uma delas é a sensível queda no desmatamento na Amazônia e também no Cerrado, a maior redução em 11 anos e a terceira mais expressiva na série histórica avaliada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Foi de 11% em relação ao ano anterior a queda no desmatamento na Amazônia em 2025, redução apenas menor que as de 2012 e 2014, que foram resultado na época da mesma política de fiscalização e combate à derrubada ilegal da floresta observada nos primeiros governos Lula e Dilma Rousseff e repetida agora, de novo sob a liderança da ministra do meio ambiente, Marina Silva.
No Cerrado, outro bioma com destruição muito preocupante nos últimos anos, o desmatamento também caiu 11% em 2025 em relação ao ano anterior. A redução no desmatamento nos dois biomas teve impacto direto na segunda boa notícia recente, a maior redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil em 15 anos.
A queda nas emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil foi de 16,7% em 2024, atingindo 2,145 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e), contra 2,576 GtCO2e em 2023. É segunda maior queda nos índices de poluição climática do país já registrada desde o início das medições, em 1990, e a maior desde 2009, quando o recuo foi de 17,2%, segundo os dados da semana passada do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima.
Como se sabe, ao contrário de outros países, as mudanças no uso da terra, incluindo o desmatamento, são a maior fonte de emissões de GEE no Brasil. O padrão internacional é que as maiores emissões ocorram em áreas como produção de energia, processos industriais e geração de resíduos. É uma clara demonstração de que, no Brasil, as agendas climáticas e da proteção da biodiversidade devem caminhar juntas. Uma está diretamente relacionada à outra.
E é nesse patamar que o Brasil chega à COP30, a COP da Amazônia como se convencionou denominar a trigésima edição da Conferência das Partes (COP) da Convenção das Mudanças Climáticas, assinada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, em junho de 1992 no Rio de Janeiro.
O governo brasileiro com certeza vai exibir os números positivos na queda no desmatamento e nas emissões de GEE como sinal de que o país está fazendo a sua parte no enfrentamento das mudanças climáticas. O mesmo pode ser dito em relação ao avanço na produção de energia elétrica derivada de energia eólica e solar, o que faz com que a matriz energética brasileira seja cada vez mais limpa. Ela já é majoritariamente limpa em função do uso da energia elétrica de origem hidráulica, muito menor geradora de emissões de GEE do que a produção de eletricidade a partir do carvão ou petróleo, por exemplo, o que é comum em muitos países industrializados.
Entretanto, o mesmo governo brasileiro será questionado na COP30 sobre uma decisão recente, a de exploração de petróleo na Foz do rio Amazonas, que pode afetar o ecossistema sensível na região e ainda contribuir para novas emissões de GEE pelo Brasil, comprometendo as suas metas climáticas. A decisão pela exploração vem sendo muito criticada por organizações ambientalistas e indígenas, que entraram com processo contra o governo em ação na Justiça do Pará.
Este é o Brasil que sedia a COP30 e que precisa definir seus caminhos futuros. Se deseja ser um líder global em enfrentamento das mudanças climáticas e proteção da biodiversidade, com o avanço das fontes renováveis e limpas de energia e proteção de suas áreas vegetais nativas, ou se continua investindo na produção de combustíveis fósseis como o petróleo, maior responsável pelas mudanças climáticas em curso no planeta.
A expectativa é a de que a liderança brasileira seja utilizada nas negociações internacionais durante a COP30 por mais avanços em medidas de enfrentamento da emergência climática planetária. Que sejam aprovadas medidas por mais avanços na transição energética dos fósseis para fontes renováveis, por mais recursos financeiros para financiar essa transição e também para que ocorra a melhor adaptação às inevitáveis mudanças climáticas, reduzindo os impactos sobretudo nos países com menores recursos.
Os últimos relatórios da ONU e outras organizações internacionais são evidentes no sentido de que as mudanças climáticas estão aceleradas e que os esforços feitos até o momento pelo conjunto de países não são suficientes para deter o aquecimento global. Isto ficou claro com o Relatório de Lacunas para as Emissões (na sigla EGR em inglês) lançado há poucos dias pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

O Relatório anual do Pnuma faz uma análise comparativa entre o que o conjunto de países está fazendo para reduzir suas emissões de GEE e o que seria de fato necessário para deter o aquecimento global. O último Relatório mostrou com clareza que, com o atual ritmo de emissões, o limite de aumento da temperatura global em 1,5 grau, estabelecido no Acordo de Paris em 2015, será com certeza ultrapassado.
Os dados do Pnuma mostram que as emissões de GEE atingiram 57,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente (GtCO2e) em 2024, um aumento de 2,3% em relação aos níveis de 2023. O aumento é maior do que o verificado entre 2022 e 2023, de 1,6%. Enfim, a comunidade internacional está falhando na transição energética visando a redução das emissões. O ritmo de crescimento das energias renováveis, como solar e eólica, não está compensando as emissões que continuam por parte dos combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão.
Neste contexto, é cada vez mais preocupante o avanço do negacionismo climático, defendido por exemplo pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já confirmou a ausência na COP30. O negacionismo climático vem sendo propagado em várias instâncias, inclusive na mídia, com muito dinheiro vindo das maiores companhias de exploração de fósseis, como demonstrou recentemente uma reportagem do jornal “The Guardian”, de Londres.
As decisões do atual governo norteamericano estão indo cada vez mais na direção do contrário do que a COP30 deve aspirar. O Departamento de Energia dos EUA acaba de sinalizar a liberação de US$ 100 milhões para o financiamento da chamada modernização de usinas de carvão que ainda operam em território norteamericano, cerca da metade delas previstas para encerrar suas atividades até 2030.
Então é esperar como o governo brasileiro vai atuar na COP30, diante de tantos e graves desafios. Os sintomas da emergência climática são cada vez mais assustadores, pela escalada de furacões, enchentes ou, pelo contrário, de secas intensas nas diversas regiões do planeta. E com isso as vítimas crescem. A mais nova edição do Relatório Anual de Indicadores sobre Saúde e Mudanças Climáticas, da conceituada revista científica Lancet, que acaba de ser publicado, mostrou que as ondas de calor extremo, gerando incêndios, secas severas e doenças infecciosas, estão matando 550 mil pessoas por ano no planeta.
A COP30 representa, neste cenário, mais um fio de esperança, em um planeta que dá sinais crescentes de esgotamento. É a própria civilização em xeque e é a atual geração que precisa decidir os caminhos a seguir.
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: josepmartins21@gmail.com











