Rara leitora, raro leitor, o Universo é composto por 70% energia, 25% de matéria escura (a qual ainda não se sabe muita coisa) e apenas 5% de matéria “normal” (átomos). Essa composição do Universo já nos levaria a melhores intuições sobre “quem” ou o que nos criou. Mas, como seres materiais, criamos os deuses exatamente a partir de nossa materialidade humana e transferimos a eles nossa forma, um antropomorfismo.
Antropologicamente falando, homens (seres masculinos) criam deuses, os quais, por sua vez, criam os seres (primeiro o homem, depois a mulher, sempre submissa e em segundo plano).
Primeiro os deuses criados eram da própria família, cada uma tinha o(s) seu(s) e ninguém clamava que os seus deuses eram os únicos e legítimos.
Posteriormente, passaram a ser deuses dos impérios, até culminar em um monoteísmo.
Essa é a evolução dos deuses durante a história. Assim são todas as grandes religiões ocidentais. Judaísmo e cristianismo (derivado do primeiro), e islamismo.
No judaísmo, a divindade teria criado primeiro o homem, e de uma parte dele feito a mulher.
Na história real da humanidade, nunca existiu um Jardim do Éden em que um casal de humanos foi criado sem gestação. Somente a partir de certo desenvolvimento do cérebro e da cognição é que o ser humano criou consciência de um ser divino.
Em toda a manifestação da vida, somente o humano tem essa consciência, o que impediria que todos os outros seres vivos desprovidos dessa “revelação” fizessem parte da natureza divina.
Mais felizes são os animais “irracionais”, que não precisam louvar a nenhum deus, pois são parte da energia que os sustenta.
Ninguém retratou melhor a criação de um deus masculino pelo macho que Michelangelo. Em seu célebre afresco da “criação divina”, deus (um personagem masculino) cria Adão (outro homem), mas a concha que envolve o deus faz referência às formas do cérebro humano.
Considero que assim pensava ele. Os gênios antecedem muitas vezes a ciência. Assim são todas as religiões ocidentais, na busca por essa suposta (re)ligação com o divino. Divino Baco, melhor seria.
Ninguém precisa religar, pois nunca fomos desligados por nenhum “pecado original” ou maldição. A nossa materialidade está escrita em nosso DNA e se desenvolve com nossas experiências de vida em sociedade, a qual chamamos de cultura. A nossa parte que é energia está conectada à fonte.
Nietzsche, o grande pensador, entende por vida “a multiplicidade de forças ligadas por um princípio de alimentação comum.” Bingo! Energia, matéria e cultura.
Jesus, considerado o filho de deus, outro homem, disse algo muito importante sobre a fé para a mulher com hemorragia. “Vai, a tua fé te salvou.”. Simples assim.
Então a fé é ativar a energia na matéria, mesmo que seja através da religião.
Em tempo: Ateísmo é uma expressão que aqueles que creem no deus da Bíblia criaram para atacar aqueles que acreditam em uma forma outra do que supostamente nos criou. Esses mesmos dizem que deus é amor, mas não aceitam outra opinião que não a sua e atacam com todo ódio o pensamento diferente do seu.
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero