A edição do último 12 de junho do Hora Campinas trouxe a informação de que o número de divórcios no País, no segundo semestre de 2020, teve um aumento de 260% em cima da média de meses anteriores, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É possível, segundo a matéria, que esse fenômeno seja reflexo do maior período de convivência em ambiente doméstico por conta do isolamento imposto pela Covid-19.
Embora triste e alarmante, se bem analisada a questão, o número não deveria causar surpresas. Isso porque uma grave doença para o casamento é o fenômeno das vidas paralelas. Essa consiste num distanciamento entre marido e mulher até chegar ao ponto de uma quase que total ausência de vida em comum, ainda que convivam sob o mesmo teto.
São sintomas disso: não fazerem coisas em comum; o desconhecimento sobre o trabalho e a vida profissional do outro; cada um tem os seus momentos de lazer, ainda que por vezes se saiam juntos com amigos e colegas; a ausência de diálogo que, quando surge, é para solucionar questões que dependam dos dois.
Esse distanciamento não surge de repente. Normalmente é algo paulatino, imperceptível no começo, mas que vai se acentuando até que se convertam em dois estranhos vivendo sob um mesmo teto.
Essa situação pode ser abafada com o refúgio no trabalho, que reduz a um mínimo as horas de convívio no lar. Com a pandemia, porém, a situação fica patente. Então a consequência inevitável – ao menos assim se pensa – é o rompimento de uma relação que não faz mais sentido.
O Código Civil brasileiro, a meu ver numa expressão muito feliz e acertada, dispõe que o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Essa comunhão plena de vida depende de que haja uma intimidade compartilhada, ao mesmo tempo em que esse compartilhamento fortalece a união conjugal.
Compartilhar a intimidade implica diálogo de verdade, dizer o que se pensa e o que se sente, fazer coisas agradáveis juntos, tal como se fazia quando se conheceram e iniciaram um namoro.
É também fundamental cuidar das relações íntimas do casal, que essas sejam cada vez mais prazerosas.
Quando se propõem essas soluções, a muitos talvez soem como utópicas. Ou somente alguns casais “iluminados” conseguem manter vivo e aquecido o amor conjugal com o passar dos anos. Sinceramente não acredito nisso. Muito do que acontece conosco é fruto das nossas escolhas.
Acontece que outro fenômeno infelizmente comum no nosso tempo é querer conseguir as coisas sem esforço. Em outras palavras, querer os fins, mas não se sacrificar para colocar os menos necessários.
Cultivar, a cada dia, a vida íntima do casal é o grande segredo para manter cada vez mais vivo e forte o amor conjugal.
No contramão daquele crescente número de casamentos que tiveram a sua falência decretada durante a pandemia está outro, que não aparece nas estatísticas, em que se receia o retorno à vida frenética de antes. Isso porque o tempo que se passou a desfrutar juntos trouxe uma cumplicidade tão interessante, que não desejam perde-la mais, até que a morte os separe…
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF. Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito em Campinas. Site: www.familiaeeducação.com.br. E-mail: fabiohptoledo@gmail.com