Bons cutucões de um verdadeiro amigo mudam o futuro, desde que não ocorram tarde demais. O personagem Dorian Gray, na obra genial de Oscar Wilde, arrependido, depois de ter rejeitado a garota que o amava, resolveu se casar com ela, mas sua resolução chegou tarde demais. Nesse romance filosófico de 1890, podemos tirar uma boa reflexão: “Boas resoluções podem se tornar inúteis se ocorrerem por vaidade ou euforia, ou fora do tempo.”
Um bom exemplo de fracasso das resoluções ocorre em quase todas que são proferidas no Ano Novo. Decididos em marcar o ano que chega por mudanças, nos enchemos de resoluções a serem colocadas em prática imediatamente após a contagem regressiva. Pouco tempo depois são esquecidas. A nossa capacidade de intervir no tempo certo é importante para determinar o sucesso de qualquer resolução.
Nossa maior capacidade de mudança no mundo é criar pequenas intervenções que poderão mudar o comportamento das pessoas que nos cercam. Porém, para isso ocorrer, devemos cutucar o outro quando ele está indeciso, quando o medo ou falta de segurança inibem suas decisões. O papel de um verdadeiro amigo é encontrar o momento certo para dar cutucões eficazes.
Pequenas intervenções podem mudar o comportamento das pessoas. No decorrer de uma conversa, alguém fez uma pergunta que na verdade é uma indireta, e seu instinto lhe diz: aí está um gatilho que você deve usar para salvar seu amigo. Este instante pode ser o ponto da virada para um novo começo.
Instantes únicos podem criar oportunidades, que nos empurram para uma mudança de comportamento, ajudar um amigo a repensar, criando uma sensação de “dever agir” que o impulsiona a fazer antes que seja tarde.
Se formos pontuais nesses momentos, podemos ajudar muito, mas somos condenamos a falhar quando superestimamos nossa capacidade ou subestimamos o tempo. Qualquer visão exagerada dos efeitos cria flutuações no autocontrole e na motivação.
Da exuberância podemos cair no vale da falsa esperança. As expectativas irrealistas sobre a nossa capacidade de mudar são devedoras de nossas aspirações inicialmente altas.
Naturalmente, ao definir metas realistas, é mais provável que tenhamos sucesso. Em um estudo que analisou o papel das expectativas, a psicóloga Fiona Jones e seus colegas descobriram que pessoas com expectativas mais modestas eram muito mais propensas a completar as metas.
A teoria das intenções de implementação, um termo cunhado pelo psicólogo Peter Gollwitzer, sustenta que temos uma melhor chance de manter um objetivo se pensarmos em contingências com antecedência e elaborarmos uma resposta direta e automática a cada uma delas.
Nunca é fácil. Mas se ajudarmos as pessoas perceberem quantas oportunidades existem, elas podem deixar suas imperfeições para trás.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar











