O segundo turno das eleições de 2022 criou uma situação inusitada na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Expoentes da política, que têm grande influência eleitoral e institucional, estão em lados opostos nesta reta final. Ainda que seja natural essa equação de forças, por conta dos partidos e das coligações que representam, a cena do tabuleiro impôs uma fotografia que está sendo ainda absorvida pela opinião pública por denotar contradições, surpresas e até constrangimentos.
O Hora Campinas traça uma análise de quatro nomes importantes da política: o presidente do Conselho da RMC e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Repub), o deputado federal eleito e ex-prefeito campineiro, Jonas Donizette (PSB), e o vice-prefeito de Campinas, Wandão de Almeida (PSB).
Os últimos movimentos escancaram essa divisão. Se, no primeiro turno, houve menor exposição pública de preferências e posicionamentos, agora isso está evidente.
VEJA A SITUAÇÃO DE CADA UM
Gustavo Reis
O presidente do Conselho da RMC, Gustavo Reis, que participou ativamente da campanha do primeiro turno em defesa do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), declarou voto em Tarcísio de Freitas (Repub), o candidato do presidente Jair Bolsonaro ((PL) ao governo de São Paulo. Gustavo seguiu decisão dos prefeitos do MDB do estado, que formalizaram apoio ao bolsonarista. O emedebista, aliás, é mais que um integrante desse barco. Ele é lider, pois coordenou a campanha emedebista em território paulista.
O movimento do prefeito de Jaguariúna tem um olhar, também, mais municipalista, conforme apurou o Hora. Reis entende que Tarcísio teria mais condições de gerenciar os interesses das cidades paulistas, onde o bolsonarismo é muito forte. O MDB avalia ainda que o candidato de Bolsonaro é mais previsível na gestão do que Fernando Haddad (PT). “Não vou dar um cavalo de pau”, tem repetido Tarcísio de Freitas em aceno aos gestores municipais.

A posição de Gustavo Reis contrasta com o principal nome do MDB no Brasil hoje, a candidata e senadora Simone Tebet. Ela chegou em terceiro lugar no primeiro turno e ganhou grande visibilidade nacional. Passou a ser um nome do centro democrático, com posições sensatas e discursos firmes sobre a necessidade de se discutir o País. Em sua campanha cobra atenção às políticas públicas, em especial voltadas para educação, saúde e combate à fome.
No primeiro turno, Gustavo Reis foi um importante aliado de Simone.
Esteve na maioria dos debates, trouxe a candidata à Jaguariúna no Dia da Independência e defendeu o nome dela como o caminho mais equilibrado para o Brasil. Agora, Simone apoia Lula. E Gustavo Reis afirmou que seguirá a orientação do partido em nível nacional, ou seja, a neutralidade. A posição tem contradições, já que o prefeito de Jaguariúna nunca escondeu sua posição pública contra Bolsonaro e o comportamento negacionista do presidente na pandemia da Covid-19. Gustavo Reis tem forte repúdio ainda a manifestações racistas, misógenas e homofóficas do presidente. No entanto, estará no palanque de Tarcísio, que carrega o bolsonarismo junto.
Dário Saadi
O posicionamento de Dário Saadi (Repub) é, digamos, compreensível. Ele está no mesmo partido de Tarcísio, o Republicanos. Mas, ainda sim, carrega um quê de constrangimento. Médico e voz crítica de Bolsonaro na pandemia, Dário segurou o “rojão” da crise sanitária em Campinas junto com sua equipe, sempre demonstrando desaprovação a Bolsonaro. Dário, inclusive, foi uma das vítimas da Covid-19. Esteve internado e chegou a ir à UTI.

Neste segundo turno, entrou de vez na campanha de Tarcísio.
Ainda que tivesse participado de convenções e algumas reuniões do Repub, Dário mostrou-se mais comedido no primeiro turno. Agora, já gravou depoimentos pró-Tarcísio e citou num dos vídeos a expressão o “nosso presidente Bolsonaro”.
Jonas Donizette e Wandão de Almeida
O ex-prefeito de Campinas e o atual vice-prefeito são do PSB, partido que integra o bloco de apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eleito deputado federal no dia 2 de outubro, Jonas esteve no ato político do último sábado em Campinas com Lula e Geraldo Alckmin (PSB). Wandão também esteve no evento e ajudou a receber Lula. O inusitado é que Wandão é vice de Dário e está em outro palanque. Jonas, que apoiou Dário para a Prefeitura na última eleição, também está do outro lado das forças políticas.

A conferir se essa divisão significa cisão e mal-estar ou a própria dinâmica da política e suas idiossincrasias.

Luiz Carlos Rossini
A separação dos palanques também chegou ao líder do governo de Dário Saadi na Câmara Municipal de Campinas. Eleito para a Legislatura 2021-2024 com 2.570 votos e atualmente o vereador com maior número de mandatos na Casa (seis, ao todo), Luiz Carlos Rossini está no PV. Ele já militou no PMDB. Desta vez não defende os interesses do prefeito campineiro, pelo menos em se tratando das eleições de 2022. No último sábado esteve junto com o candidato a vice na chapa de Lula. A foto (veja abaixo) circulou nas redes sociais do secretário municipal do Verde, Rogério Menezes.

E os eleitores?
Nas redes sociais, o posicionamento das principais lideranças da RMC causou polêmica. Centenas de mensagens foram publicadas nas contas, principalmente, de Dário Saadi e Gustavo Reis. Houve bastante equilíbrio entre as opiniões. Emojis de palminhas e nojo se misturaram a frases de espanto e parabéns.
No perfil de Dário, as reações foram diversas. “Eu não acredito”, escreveu uma internauta. “É… política é mesmo um mundo abominável”, postou outra. “Misericórdia”, espantou-se outra. “Nossa, que triste prefeito”, lamentou uma seguidora. “Sem noção, toma vergonha na cara”, esbravejou uma internauta.
“Parabéns prefeito pelo grande apoio junto rumo a novas oportunidades e conquistas”, elogiou uma internauta. “Obrigada Dr. Dário pela força de um Brasil melhor. Estamos juntos”, agradeceu outra. “Parabéns pelo posicionamento”, parabenizou um seguidor. “Estamos do lado certo. Parabéns”, ressaltou mais uma seguidora. “Estamos com você, Dário”, assegurou outro.
No perfil de Gustavo Reis, a divisão também ficou explícita.
Mensagens de apoio e de decepção mostraram um palanque virtual igualmente dividido, reproduzindo a polarização da política nacional. “Parabéns aos prefeitos do MDB de São Paulo. Isso se chama unidade pelo bem”, aprovou um internauta. “Decisão honrada, não é à toa que é um líder admirado e respeitado por suas atitudes, condizentes com seus bons princípios”, ressaltou outra. “Parabéns. Achei que vc ia pro lado do PT, mas fez ótima escolha”, pontuou um seguidor, com bandeiras do Brasil. “Parabéns, Gustavo! Sabia que vc estaria do lado certo neste segundo turno. Tarcísio é o cara certo para governar São Paulo”, defendeu outro.
“Coerência zero”, cobrou um deles. “Que pena, não sou petista, mas Bolsonaro me decepcionou demais”, manifestou uma internauta. “Vc precisa disso? Sério? Lamentável! Nem até a próxima. As mortes jamais serão esquecidas”, postou uma internauta decepcionada. “Ou seja, vc apoiou a Simone Tebet no primeiro turno, mas vai deixá-la navegar sozinha”, escreveu uma seguidora.