Preparo-me para o futuro, que já chegou. E que futuro é esse!
Já se foi o tempo em que havíamos esperança e a cultivávamos. A ilusão de que amanhã o tormento passará já não há mais.
Sinto todo o medo, toda a dor e sei que não estou sozinho. Mas a caminhada é solitária. Nada solidária.
Isolo-me. Distanciamento social já antes da covid-19.
Acreditaram que a pandemia ia mudar as pessoas para melhor, serem mais unidas. Pobre inocência!
Uma situação não muda a essência do indivíduo. A guerra (a pandemia foi um período equivalente) só traz à tona e exacerba o que a pessoa é: os bons tornam-se ainda melhores; e os maus mostram a face mais obscura de sua personalidade.
E, mal a pandemia acabou, já começou uma outra grande guerra, em território ucraniano. E depois o conflito Israel-Palestina. E mais vem por aí, já que ameaças pairam sobre todos os lados. Não há mais nenhum lugar seguro. Não nos enganemos. É guerra. Biológica, bélica, psicológica, ecológica, civil.
Sinto. Sinto muito. Penso. Pesa muito. Falta. Pouco é tudo.
Nada há para celebrar. Dizem que o choro dura uma noite, mas a alegria da manhã nunca vem. Amanhã!
Deparo-me com uma espécie que destrói continuamente a sua própria casa. Sem misericórdia, sem perdão.
Sinto os ventos que sopram, a fumaça que sobe, vejo o céu encoberto, mas não de nuvens de algodão. O sol que não brilha. Respiro porque é automático, mas meu corpo se pudesse, rejeitaria isso. É o veneno que entra nos pulmões. Bebo a água límpida que já não é mais pura. O que hoje faz parte da rotina, amanhã será capricho e luxo.
Será que alguém poderá salvar essa grande engrenagem chamada Terra?
Preparo-me para o futuro, procuro me livrar de todos os excessos. Deixo para trás todo o supérfluo. Sigo em frente, vagante, sem rumo. Vida de nômade. Sou mais um refugiado, mas prófugo tornou-se sinônimo de minha espécie. Somos todos humanos vagantes.
Sequestram-me o futuro. Sequestraram o meu futuro, o teu, o nosso. O imperialismo das finanças, o lucro a qualquer preço.
Preparo-me para o calor; para a fome; e para o pior: para a indiferença.
Escolhemos a morte! Não tem super herói, não tem líder carismático. É cada um por si. Salvo-me como posso. Salve-se quem puder. Guerra sem fim. E sem final.
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero











