Acusado de liderar um suposto esquema de cobrança de propina junto a empresas terceirizadas, o presidente da Câmara de Campinas, José Carlos Silva (PSB), o Zé Carlos, está cada vez mais pressionado. A sessão ordinária desta segunda-feira (22) à noite, no Teatro Bento Quirino, comandada pelo próprio Zé Carlos, foi tensa. O pedido pelo seu afastamento foi reforçado por diversos vereadores, que se mobilizam para a instauração de uma CPI.
Zé Carlos se manifestou pela primeira vez desde que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) realizou busca e apreensão no seu gabinete e na sua casa, na última quarta-feira (17). O presidente da Câmara disse que não irá pedir afastamento durante as investigações.
“Estou em meu quinto mandato de vereador e tenho uma biografia exemplar, tanto na vida pública quanto na vida privada. E farei questão de deixar clara a verdade. Nesse meio tempo, continuarei trabalhando como sempre fiz desde a minha infância, quando ainda cortava cana em minha saudosa cidade natal”, disse Zé Carlos na tribuna, em resposta à vereadora Mariana Conti (PSOL), que o precedeu no discurso e pediu seu afastamento.
Zé Carlos ainda fez questão de enaltecer a atitude da Polícia e do Ministério Público na ocasião em que estiveram na sua casa. “Trataram a mim e à minha família de forma respeitosa e sensível. Eles ainda dispensaram um tratamento extremamente cuidadoso aos meus netos. Não reviraram nada. Podem ter certeza que ninguém aqui vai interferir na investigação”, disse.
Na Tribuna, os vereadores Mariana Conti, Paulo Bufalo (PSOL) e Marcelo Silva (PSD), autor das denúncias contra Zé Carlos ao MP, foram os mais veementes no pedido de afastamento do presidente da Câmara e na instauração de uma CPI.
“Se há uma denúncia, o papel da Casa é investigar, passar um pente fino para que possamos complementar o que já está sendo feito pelo Ministério Público”, afirmou Mariana.
Já Marcelo Silva fez fortes críticas à Casa diante da dificuldade em conseguir 11 assinaturas para a viabilização de uma comissão parlamentar de inquérito. E ao final do seu discurso, acabou aplaudida.
“Diante dos fatos consumados, essa Casa precisa tomar uma posição. Temos que ter responsabilidade como parlamentares. Precisamos investigar sim, senão podemos fechar essa Casa. Será que não servimos para nada?”, bradou Marcelo Silva, que continuou.
“E o senhor, Zé Carlos, deveria pedir sim o afastamento para que possa se defender de forma imparcial, pois a sua posição sentado aí mancha todas as outras 33 cadeiras aqui embaixo”, disse.
Foi Marcelo Silva quem entregou ao MP gravações que comprovariam o ato de corrupção por parte do parlamentar e de seu advogado comissionado Rafael Creato. Segundo a investigação do MP, diversos fornecedores passaram a ser chamados para reuniões com o advogado e com o vereador.
Ainda na sessão de ontem, o vereador Jorge Schneider (PL) foi enfático na defesa do acusado. “Se ele foi eleito presidente, que siga como presidente enquanto nada é provado. Não vou aceitar que coloquem a gente contra a parede”, contestou o apoiador do presidente da Câmara.
A tensão entre os vereadores durou aproximadamente uma hora. Depois, a sessão teve uma pausa de 15 minutos para, em seguida, os parlamentares votarem as sete pautas do dia. Os vereadores aprovaram em definitivo o projeto de lei número 190/21 que institui o Monumento ‘Gratidão’, para homenagear os profissionais da saúde que atuaram na linha de frente contra a Covid.