A Primavera começa nesta segunda-feira (22) sob um cenário típico de fim de Inverno: estiagem prolongada, ar seco, alertas para queimadas e pressão sobre os reservatórios que abastecem a Região Metropolitana de Campinas (RMC).
Nas Bacias PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), o Sistema Cantareira registrou nesta sexta-feira (19) apenas 29,9% de seu volume útil — patamar de “faixa 3: alerta”—, de acordo com boletim diário da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O índice é praticamente o mesmo de setembro de 2021, quando chegou a 30%, e foi o menor patamar para o mês desde a crise hídrica de 2014 e 2015.
Em setembro de 2024, para efeito de comparação, o sistema operava com 51% da capacidade.

Ainda de acordo com a ANA, agosto registrou chuvas 90% abaixo da média histórica e vazões de rios entre 60% e 70% menores do que o esperado. “Neste momento, as Bacias PCJ contam com municípios que possuem decretos de emergência hídrica, como Limeira, e outros que adotaram medidas de comunicação e restrição de uso, como Cordeirópolis e Atibaia. É um período que exige monitoramento intenso e conscientização da população”, afirma Alexandre Vilella, coordenador da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico dos Comitês PCJ.
Em Campinas, segundo a Sanasa, o abastecimento de água é 100% dependente do Rio Atibaia. A vazão atual no ponto de monitoramento de Campinas, de acordo com boletim da ANA, está em 9,4 metros cúbicos por segundo — cerca de 45,7% abaixo da média histórica de setembro (16,65 m³/s).
Apesar da queda, a Sanasa afirma que o sistema está preparado para suportar eventuais picos de demanda.
“Campinas não apresenta restrições no fornecimento de água para a sua população. Para isso, foi implementado o Plano Campinas 2030, que construiu 20 novos reservatórios e ampliou a capacidade de reservação em 54 milhões de litros, suficientes para atender a cidade por 20 horas em caso de desastre ambiental ou falha na captação”, informou a empresa em nota.
A companhia destaca ainda investimentos na troca de 473 km de redes antigas, que ajudaram a reduzir o índice de perdas para 17% — um dos mais baixos do Brasil — e a elaboração do projeto do Sistema Produtor Campinas-Jaguari, que deve diversificar as fontes de captação no futuro.

Comparativo histórico e risco de crise
O cenário acende o alerta para 2026 caso as chuvas fiquem abaixo da média no próximo Verão. Durante a crise hídrica de 2014 e 2015, o Cantareira chegou a operar com menos de 10% da capacidade e foi necessário recorrer ao “volume morto”. Em Campinas, a Prefeitura chegou a implantar rodízio de abastecimento por 11 dias em outubro de 2014, com atendimento de caminhões-pipa em unidades de saúde e escolas.
“A crise de 2014-2015 nos deixou lições valiosas. Hoje temos monitoramento quali-quantitativo em tempo real, planos de macrodrenagem e novas barragens em construção. Mas a situação continua desafiadora, e precisamos integrar soluções de infraestrutura com preservação de mananciais para reduzir vulnerabilidades”, reforça Vilella.
Ele lembra que eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes. “Chuvas intensas e localizadas podem trazer mazelas ainda maiores à sociedade. Por isso, é imprescindível integrar estruturas cinzas, como reservatórios, com estruturas verdes, que aumentam a capacidade de armazenamento natural do solo e regulam a vazão dos mananciais.”
Confira a vazão atual dos rios Atibaia, Jaguari e Camanducaia e o valor médio histórico em setembro em alguns pontos de medição da região:

Medidas na região e consumo consciente
Cidades da região têm intensificado ações para garantir o abastecimento durante a estiagem. Americana enfrenta oscilações no fornecimento e Vinhedo reforçou campanhas de conscientização, enquanto Limeira, Santo Antônio de Posse, Iracemápolis e Cordeirópolis decretaram emergência hídrica, com previsão de multa para casos de desperdício.
Nesta sexta-feira (19), Amparo se tornou o quinto município a adotar a medida, proibindo o uso de água tratada para atividades não essenciais, como lavar calçadas, ruas, carros e jardins. O decreto, válido até 31 de dezembro, também prevê aplicação de multas e possibilidade de suspensão do fornecimento para reincidentes.
Risco de queimadas e previsão para o início da estação
Outro desafio do início da Primavera é o aumento do risco de incêndios. Todos os dias, novos focos são combatidos na RMC. De acordo com a Defesa Civil do Estado, o nível de risco subiu para emergência (nível máximo) na sexta-feira (19).
A Defesa Civil de Campinas reforçou a importância da colaboração da população no combate às queimadas, orientando que qualquer foco de incêndio seja comunicado imediatamente ao Corpo de Bombeiros pelo 193.
O órgão também alertou que a qualidade do ar fica comprometida em períodos de queimadas, trazendo riscos à saúde e danos à fauna e à flora, e destacou que a prevenção é responsabilidade de toda a sociedade.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) prevê queda de temperatura e aumento da umidade a partir desta segunda-feira (22), com pancadas de chuva que devem aliviar parcialmente o cenário.
Segundo o CPTEC, o primeiro dia de Primavera deve registrar máxima de 31°C e 95% de chance de chuva. A partir de terça, as máximas caem para 25°C, a umidade sobe para acima de 40% e as probabilidades de precipitação passam de 50%.
Mesmo sem previsão de racionamento em Campinas, especialistas reforçam que o uso racional da água é fundamental para garantir segurança hídrica e evitar a repetição de crises como a de 2014.
A Sanasa mantém campanhas permanentes de conscientização, e os Comitês PCJ seguem monitorando os reservatórios e definindo descargas mínimas para priorizar o abastecimento humano.